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Desligamento de respiradores faz parte do trabalho em UTI

Os respiradores auxiliam os pulmões conseguirem oxigênio e liberar o dióxido de carbono quando não conseguem sozinhos. O acesso a um aparelho desses pode decidir entre a vida e a morte de alguns pacientes mais graves com coronavírus.

No entanto, quando esses aparelhos já não podem salvar vidas, os profissionais de saúde enfrentam difíceis decisões quanto à pausa do tratamento. A enfermeira-chefe especialista em terapia intensiva da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Royal Free, em Londres, Juanita Nittla, afirma que desligar o respirador é um momento muito doloroso.

Nittla, que trabalha no serviço público de saúde do Reino Unido (NHS), relatou à BBC que o desligamento dos respiradores faz parte do trabalho dela.

Último desejo

A enfermeira relatou sobre um caso que aconteceu quando ela entrou no trabalho. Ela teria que interromper o tratamento de uma paciente, de 50 anos, com covid-19. Nittla comunicou a filha da paciente sobre o processo e afirmou que a mãe dela não estava sofrendo. "Também perguntei sobre os desejos e necessidades religiosas dela.", relatou.

Segundo Nittla, na UTI, a paciente estava rodeada por outros que também estavam doentes e desacordados. No momento, ela fechou as cortinas e desligou os alarmes dos equipamentos, com a equipe médica em silêncio.

Nittla afirmou que colocou o telefone ao lado do ouvido da paciente e a filha dela falou. "Para mim, foi apenas um telefonema, mas fez uma enorme diferença para a família.", relatou.

A enfermeira desconectou o tubos que enviavam medicamentos para sedação e, sem saber, a filha da paciente continuava falando com a mãe e fazendo orações por telefone. Nittla, então, pegou o telefone para informar que a mãe dela tinha partido.

A enfermeira afirmou ainda que ficou ao lado da paciente segurando as mãos dela, até que ela faleceu.

Desligamento de respiradores

De acordo com a enfermeira, a paciente morreu cinco minutos após desligar o respirador. Segundo ela, a decisão de parar com o auxílio e o tratamento respiratório é tomada apenas pelas equipes médicas. É feita uma análise detalhada sobre a idade do paciente, chances de recuperação e condições de saúde.

Após o falecimento desta paciente, Nittla afirmou que deu um banho nela na cama e a cobriu com um lençol branco, com a ajuda de uma colega. Elas ainda a colocaram em uma bolsa para corpos, fazendo um sinal da cruz na testa dela antes de fechar a bolsa.

Antes da pandemia, os parentes próximos eram permitidos dentro de uma UTI antes de desligar as máquinas que mantinham as pessoas vivas, porém, isso não acontece mais em grande parte do mundo.

Nittla que já viu pacientes agonizando e ofegando, alegou que foi estressante de testemunhar. Desta forma, ela acredita que ajudar aqueles que morrem ao seu cuidado é a melhor forma de enfrentar o peso disso.

Sem leitos

A UTI do hospital foi aumentada de 34 para 60 leitos, que já estão todos ocupados, devido ao aumento no número de internações. Além disso, a unidade possui um exército de 175 enfermeiros atuando. No entanto, segundo Nittla, normalmente a proporção é de uma enfermeira por paciente. Porém, agora é uma enfermeira para cada três.

O hospital está treinando outros enfermeiros para atuar em cuidados intensivos, pois algumas enfermeiras da equipe apresentaram sintomas e foram isoladas. Nittla reforça que garantem que todos usem os equipamentos de proteção adequadamente.

Segundo Nittla, os respiradores, cilindros de oxigênio e outros medicamentos estão faltando. Porém, o hospital possui equipamentos de proteção individual o bastante para a equipe.

A UTI registra uma morte por dia, acima da média que apresentava antes da pandemia.

*Com informações do G1

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