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Pecuária sofre novo golpe

A pecuária brasileira sofre novo golpe. Desta vez, decorrente do embargo dos Estados Unidos à carne in natura do Brasil. Aliás, o ano começou ruim para o segmento pecuário. Primeiro, a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, que exigiu sacrifícios do governo para neutralizar um pouco a situação de ordem sanitária. O ministro Blairo Maggi, um pecuarista de mão cheia no Mato Grosso do Sul, viajou o mundo para socorrer o produtor. Segundo, Joesley Batista, dono do JBS ou o maior frigorífico do mundo, fez acusações desenfreadas do presidente Michel Temer e o mercado que estava em recuperação veio abaixo. Agora, o Ministério da Agricultura norte-americano suspende as importações de carne in natura.

A notícia caiu como uma bomba, atingindo em cheio a cadeia da carne, sobretudo os pecuaristas. Em Goiás, o agravamento da crise já fora denunciada pelo Diário da Manhã, numa entrevista do economista Edson Novaes, coordenador do Departamento Técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg).

O presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), Tasso José Jayme, resumiu numa frase de efeito própria do interiorano. “A vaca foi pro brejo”, o que significa que as dificuldades aumentaram. José Magno Pato, presidente do Fundepec, um fundo de desenvolvimento da pecuária goiana, demonstra inconformismo com a série de problemas que afetam o setor. “Parece que tudo trabalha contra o pecuarista e demais componentes da cadeia da carne”, completou Pato.

O senador goiano Wilder Morais disse em Trindade, ao participar de uma peregrinação, que “vê o produtor mais uma vez sufocado por uma série de questionamentos sem sentido”. Em sua opinião, se as cotações da arroba do boi bordo já vinham sofrendo reduções contínuas nos estados produtores, entre os quais Goiás, “agora a preocupação aumenta”. A arroba do boi chegou a R$117, o preço mais baixo encontrado no País. O senador pepista, parceiro de partido do ministro da Agricultura, demonstra confiança de que “o Blairo reverterá a situação em sua viagem da próxima semana aos Estados Unidos”.

O Brasil detém um rebanho bovino da ordem de 200 milhões de cabeças. Os animais recebem vacinas periódicas. Santa Catarina é o único estado brasileiro considerado oficialmente livre da vacinação. Goiás pleiteia esse estágio, observando que há mais de vinte anos não ocorre um só foco de aftosa.

EUA compram pouco, mas são referência

A decisão é um revés significativo para os exportadores de carne brasileiros, que haviam conseguido abrir o mercado americano para seus produtos em junho de 2015. O primeiro embarque, no entanto, ocorreu apenas em setembro do ano passado. Embora o volume de exportação ainda não seja relevante, o mercado americano, por ser um dos mais exigentes, serve de referência para que outros países decidam comprar a carne brasileira.

Entre janeiro e maio deste ano, os frigoríficos brasileiros embarcaram para o mercado americano 4,68 mil toneladas de carne in natura, ou US$ 18,9 milhões. Já a China, o principal importador, adquiriu no período 52,88 mil toneladas de carne bovina in natura, ou US$ 219,7 milhões de dólares, conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

O presidente do Fundepec, José Magno Pato, considera pequena a exportação de carne in natura para os Estados Unidos. A cota estabelecida era de apenas 60 mil toneladas. O Brasil exporta em torno de l milhão e 300 mil toneladas. Apenas Goiás, exporta 160 mil toneladas. Mas, a preocupação não é essa e sim a imagem. “Um pequeno problema de vacinação”, observa Pato, um zootecnista de profissão, ou seja, e um técnico que detém toda uma vivência e credibilidade. As irregularidades apontadas por autoridades americanas na carne bovina brasileira, ligadas a reação à vacina contra febre aftosa, referem-se a questões contratuais e não representam risco sanitário, segundo Magno Pato.

A vacinação, conforme esclarecimento de José Magno Pato, tem que ser bem aplicada. Subcutânea. “O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos encontrou resíduos da vacina oleosa na carne importada”, observa, o que resultou na suspensão das importações da carne in natura. Em sua opinião, na vacinação do rebanho deve haver o necessário cuidado com esses pequenos detalhes. Dos 13 frigoríficos suspensos, cinco são de Goiás.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, confirma o diagnóstico do dirigente do Fundepec de que os abscessos encontrados na carne estariam relacionados a componentes da vacina, que teriam causado uma reação alérgica no local. Ele explicou que as exportações – assim como qualquer tipo de operação de compra e venda – estão sujeitas a regras e critérios previstos em contrato. “O importador abrir um pedaço de carne e encontrar nela um abscesso é motivo para suspender as compras, pois este problema não está em conformidade com a especificação acordada anteriormente”, concluiu.

Blairo  nos EUA

A agilidade do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, para contornar os problemas que tem envolvido a pecuária é elogiada tanto pela Faeg quanto pela Fundepec e SGPA. Blairo foi colhido de surpresa em Cuiabá e prometeu viajar na próxima semana aos Estados Unidos para prestar todos os esclarecimentos necessários e tentar reverter a suspensão de compra de carne in natura do Brasil imposta na quinta-feira pelo governo norte-americano.

Blairo disse, em mensagem publicada nas redes sociais, que viajará acompanhado de uma equipe do ministério para "fazer as discussões necessárias e restabelecer esse mercado tão importante que o Brasil conquistou nos últimos anos".

Nota oficial  da CNA

“A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vê com perplexidade a decisão dos Estados Unidos de suspenderem a importação de carne bovina in natura brasileira.

Os elementos utilizados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para justificar o fechamento do mercado não apresentam risco para a saúde dos consumidores norte-americanos.

Esperamos que o governo dos Estados Unidos divulgue as justificativas técnicas e científicas que fundamentaram a decisão, que também pode ser vista como uma medida protecionista de mercado.

A decisão do governo norte-americano prejudica ainda mais os pecuaristas brasileiros, que já enfrentam hoje uma série de dificuldades, como a queda no preço da arroba, o aumento dos custos de produção e os desdobramentos da Operação Carne Fraca e da delação da JBS.

A CNA apóia as ações do ministro Blairo Maggi e do MAPA para o pronto restabelecimento do mercado americano e continuará trabalhando, junto com o pecuarista brasileiro, para aumentar a competitividade do setor e impedir a desestruturação da cadeia produtiva.

“Os produtores rurais cumprem as mais rigorosas exigências sanitárias e contribuem com a economia na geração de emprego, renda e alimentos de qualidade.”

Embarque  pelo Uruguai

A Minerva, uma das maiores produtoras de carne bovina da América do Sul, e que tem unidade em Palmeiras de Goiás, afirmou em nota ontem que a suspensão aos embarques de produto in natura do Brasil pelos Estados Unidos não compromete o volume de exportações da companhia.

A Minerva Foods vai redirecionar embarques antes feitos aos Estados Unidos para o Uruguai, de modo a não comprometer o volume de exportações. A medida ocorre após suspensão temporária pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) alegando detecção de não-conformidades da carne brasileira.

Em comunicado, a empresa diz que “a suspensão não está relacionada ao um problema sanitário, mas de deficiência na inspeção de algumas unidades brasileiras na detecção dessas não-conformidades”.

Ainda conforme a nota, as vendas das unidades brasileiras aos Estados Unidos representaram 1,5% das exportações consolidadas da Minerva no primeiro trimestre. O redirecionamento para o Uruguai ocorrerá até que a suspensão aos EUA seja revertida.

A conquista  do mercado americano

Após anos de discussões que envolveram ambos os governos, os Estados Unidos abriram seu mercado ao Brasil em setembro do ano passado. O acordo previa uma cota inicial de importação de 64 mil toneladas por ano da carne brasileira, segundo a Abiec.

Como um dos grandes exportadores de carne bovina do mundo, o Brasil tem bastante interesse no mercado americano.

"Encerrando uma luta de mais de 15 anos do setor, foi anunciado o tão aguardado acordo que libera a exportação de carne bovina brasileira in natura para os Estados Unidos", comentou a associação em agosto de 2016.

Em um comunicado divulgado pela USDA na época do acordo, o então secretário da Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack, também celebrou a novidade.

"Estamos satisfeitos pelo fato de que o Brasil, um dos principais países produtores e de negócios agrícolas, alinhou-se com os padrões internacionais com base em evidências científicas”.

O documento informou que o Brasil é classificado como de "risco insignificante" de encefalopatia espongiforme bovina, ou doença da vaca louca, e que está de acordo com as diretrizes científicas internacionais de saúde animal da Organização Mundial para a Saúde do Animal (OIE, na sigla em inglês).

Mas a histórica dificuldade de se estabelecer relações comerciais entre os países tinha mais uma motivação protecionista do que sanitária, diz José Augusto de Castro, da AEB.

"Era puramente econômica, porque são os dois mercados mais fortes. Essa reação da vacina não causa danos à saúde, mas deixa a carne com uma aparência menos atraente para a venda”.

Embora a fatia inicial de trocas comerciais entre os dois países seja reduzida em relação ao total, os Estados Unidos são o maior comprador de carne bovina do mundo, e a expectativa era de se aumentar progressivamente a importação do Brasil.

Dados divulgados pelo governo brasileiro mostram que os EUA produziram, em 2015, 10,9 milhões de toneladas, ou 18,58% do total mundial, de 58,4 milhões de toneladas. Os americanos consomem 11,4 milhões de toneladas, ou 20,2% do consumo mundial, de 56,5 milhões de toneladas.

No acordo estabelecido entre os dois países em agosto de 2016, 14 Estados brasileiros livres da febre aftosa ficaram aptos a vender carne in natura para o mercado americano.

Os Estados Unidos já são grandes importadores de carne industrializada do Brasil–que não foi afetada pela medida desta quinta-feira.

Segundo a Abiec, entre janeiro a maio deste ano, os americanos compraram quase dez mil toneladas, num valor total de R$ 85 milhões. Em termos gerais, o valor representa 4% do total de exportações brasileiras.

Ecos da  Carne Fraca

Desde março, o Brasil ainda vem se recuperando dos ecos da Operação Carne Fraca, embora os resultados tenham sido bem menos catastróficos do que os estimados.

Segundo Castro, ainda há embargo em poucos países menos expressivo entre os 160 para os quais o Brasil exporta carne.

Mas dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), compilados pelo AEB, mostram que, de janeiro a maio deste ano, o Brasil exportou 424 mil toneladas de carne, 10,6% a menos do que o mesmo período do ano passado.

Enquanto isso, por causa da oferta menor, o preço da tonelada aumentou 6,7% nesse período para US$ 4.132 (R$ 13.791).

"Provavelmente, o Brasil tirou vantagem do fato de haver poucos grandes produtores de carne que teriam capacidade de suprir o espaço deixado pelo país", explicou Castro.

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