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POLÍTICA

Os múltiplos discursos de Levy: um balanço

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem sido cercado pela imprensa nas últimas semanas. Ser a pessoa responsável pela economia em uma época que o dólar chega a valores históricos, a inflação volta em passos largos e o PIB cai críticos 3,5%, não deve ser fácil. Seus pronunciamentos as vezes são firmes, outros tomados de insegurança. Ele pode estar tentando resolver as dificuldades da economia brasileira, mas sua principal função ultimamente vem sendo de justificar. Justificar por que o Brasil está assim, por que as medidas fiscais precisam ser aprovadas, os benefícios que sua política econômica vai trazer em longo prazo. Mas ninguém te escuta, o congresso, o povo, e até pouco tempo, sua própria chefe, a presidente Dilma Rousseff.

Essas semana foi turbulenta para a agenda do ministro. Dólar ultrapassou os R$ 4,00, o ajuste fiscal foi mandado para votação, teve encontros com a agência de risco Fitch e participou de vários eventos. O que ele tentou demonstrar em todas oportunidades, é um grande otimismo com as consequências das medidas. Está tentando transbordar confiança para que o mercado e o povo, consiga genuinamente acreditar nele.

Segunda-Feira

Levy garantiu na noite do dia 21, em evento realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em São Paulo, a criação de facilidades para grandes projetos de infraestrutura no país, que é um dos principais temas da Agenda Brasil do governo federal: “Estamos procurando métricas que permitam avaliar esses temas e também um trabalho de simplificação de procedimentos e licenças em todos os níveis da federação.

“No entanto, não é uma questão de complacência [com questões ambientais], mas de promover investimentos em infraestrutura e atividades econômicas em consonância com padrões de sustentabilidade e sujeitos a prazos compatíveis com o retorno econômico, em benefício da própria sociedade.” acrescentou.

De acordo com ele, o país está em um processo contínuo de construção e convergência de elementos , com a finalidade de conseguir acelerar a retomada do crescimento do Brasil e que os esforços tratam-se de um desenvolvimento sustentável “têm envolvido a participação de diversas áreas do governo federal e também da academia, do empresariado e da sociedade civil, seja mediante a consultas públicas, seja mediante inúmeras reuniões e fotos de debate”. Ele destacou que alguns setores já trabalham na redução da emissão de gases do efeito estufa e que eles veem isso como uma oportunidade de desenvolvimento, e não necessariamente como um obstáculo.

Até onde é válido a ideia de desenvolvimento sustentável em um país que não está havendo desenvolvendo? Nos últimos resultados, a previsão para queda do PIB é de 3,5% para esse ano, e 0,8% para ano que vem. Onde está esse crescimento para se ter debates de como ele deve acontecer?

Terça-feira

No dia 22, o Ministro da Fazenda participou de um seminário da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que estava sendo realizado no Itamaraty, em Brasília. Levy defendeu a construção pela sociedade brasileira de uma agenda de crescimento que envolva equilíbrio fiscal.

“A gente tem de ter humildade e as pessoas têm de entender a razão desse esforço [em busca do crescimento]. As pessoas precisam se motivar, ter a confiança de que esta transição vai nos levar a uma economia mais aberta, dinâmica, vigorosa. A gente terá esse desenvolvimento econômico”, disse.

O ministro voltou a defender reformas estruturais na economia brasileira para aumentar a produtividade, como a simplificação na arrecadação de tributos e a melhoria na qualificação da mão de obra. “Vamos aproveitar a nova classe média, que foi criada. Dar oportunidade para a classe média. A palavra no Brasil tem que ser oportunidade para ascensão da classe média, [e esta necessita] adquirir novas habilidades e novas capacidades no mercado de trabalho”, afirmou.

Levy observou que o mercado de trabalho no mundo está passando por transformações. Segundo ele, é importante para a sociedade rever o funcionamento do Estado para que este possa atender às necessidades da população do país, a sétima economia do mundo. “Temos que ter uma economia com conteúdo cada vez mais tecnológico, capaz de concorrer e gerar emprego de qualidade, em que a produtividade seja a sustentação do crescimento. A gente não pode viver só do cartão de crédito. A gente não pode viver só gastando colchão fiscal. A gente tem que crescer e ter uma nova fase através da produtividade”.

Mais tarde, se encontrou com representantes da Agência de Análise de Risco Fitch: a pauta é uma incógnita “Agora, e até o fim do trabalho, será sigilo total” , disse Paulo Moreira Marques, técnico do Tesouro Nacional que acompanha a equipe. Nessas reuniões, o ministro tem a companhia do secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Barbosa Santive, o de Política Econômica, Afonso Arinos Mello, e de Acompanhamento Econômico, Paulo Guilherme Farah.

Em Abril, a agência manteve a nota de crédito do Brasil em BBB, mas revisou a perspectiva para o país de estável para negativa. Segundo comunicado divulgado pela Fitch, na ocasião, a mudançou ocorreu em razão do “contínuo desempenho fraco da economia brasileira, do aumento dos desequilíbrios macroeconômicos, da deteriorização fiscal e de um aumento da dívida pública com pressão sobre o perfil de crédito soberano do país.”

Diante do rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor’s, o governo tem procurado demonstrar o compromisso com a consolidação fiscal. No último dia 14, anunciou série de medidas prevendo corte de despesas e aumento de receitas para melhorar o resultado das contas públicas em 2016. O encontro provavelmente é só mais uma dessas medidas. No dia seguinte, comentou que os representantes da agência saíram da reunião com a convicção de que o “governo brasileiro tem compromisso com a estabilidade fiscal.”

Levy contou que a reunião foi positiva: os representantes da Fitch receberam a informação de que o Brasil está procurando um novo caminho de crescimento. “Evidentemente, enquanto a gente não tiver essa solidez fiscal, tudo fica mais difícil. Mas eu tenho a convicção que nós vamos conseguir isso”, disse.

Quarta-feira

No dia 23, Joaquim Levy apareceu para comentar os assuntos do momento: o dólar e a manutenção de vetos.

Em relação a instabilidade do câmbio, disse que a atual elevação da cotação faz parte de um movimento em todo o mundo e não só um problema do Brasil. Para ele, existe um processo de recuperação, com várias medidas que vem sendo adotadas e que alguns impactos do preço da moeda americana no mercado interno são em consequência de efeitos que estavam represados. O dólar ultrapassou tinha acabado de ultrapassar a casa do R$ 4.

"Acredito que vamos ver maior estabilidade no dólar também. Difícil, impossível fixar qual o patamar, mas tenho certeza que essa volatilidade maior também vai se esvair na medida em que algumas questões, como a votação dos vetos e o próprio orçamento, forem devidamente equacionadas. Estes são os elementos que vão permitir a gente, inclusive recolher os frutos do que já foi feito. Esta é a estratégia de crescimento e é aí que a gente tem que se fixar, com responsabilidade fiscal e clareza de gastos ", disse após participar do Fórum de Segurança Jurídica e Infraestrutura no Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

“Acho que primeiro tem movimento global de câmbio e a gente tem que estar atento. O mais importante é a gente avaliar a situação do Brasil. Eu acho que o processo de recuperação da economia está em curso. Diversas medidas que foram tomadas no início do ano estão produzindo seus efeitos. Agora o que a gente vê é um certo represamento desses efeitos na economia por outras razões que não econômicas, vamos dizer assim, razões de insegurança”, acrescentou.

Não é segredo que existe um movimento global de valorização do dólar. Mas essa é apenas uma das variáveis. A instabilidade política e econômica do país vem sendo fatores muito mais determinantes para as altas variações do mercado financeiro. É de uma evolução ver que o próprio ministro da Fazenda enxerga que as atitudes que o governo toma são suficiente para alterar, e muito, a confiança ou a desconfiança dos investidores.

Quinta-feira

De acordo com Levy, no dia 24, a estratégia de crescimento do governo federal é muito clara e que as medidas tomadas para atingir o reequilíbrio cíclico estão produzindo resultados, mesmo que não estejam visíveis.

“A recuperação da economia já está, em grande medida, contratada, na medida em que foram tomadas iniciativas, trazendo compromisso na área fiscal e se reafirmando na questão da inflação, o que já se traduz no equilíbrio das contas externas”, afirmou Levy. Segundo ele, desde o começo do ano, mudanças importantes foram feitas e, apesar de ruídos e da dificuldade que a sociedade possa enfrentar no dia a dia, “a verdade é que a economia já está se reequilibrando”.

O ministro acrescentou que o setor empresarial está revendo seu processo e seus produtos, a fim de gastar os recursos com maior eficiência, e no governo não é diferente. Ele deu o exemplo dos gastos com previdência social, que seria uma das maiores despesas do governo federal, e disse que identificou a necessidade de diminuir despesas em relação ao auxílio-doença. Segundo ele, o gasto do Brasil com auxílio-doença é muito acima de outros países e a eficiência no emprego desses recursos exige gestão, pois “Uma parte importante da economia é gestão”.

“Por outro lado, mudanças legislativas podem ajudar a gestão. A economia se dá na parte da gestão, mas também se dá através de mudanças de leis que permitam que os resultados da gestão possam ser traduzidos em redução de gastos”, completou.

Sexta-feira

No último dia da semana, Levy não participou de eventos. O máximo que contribuiu para as notícias do dia, foi o apoio a postura de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, para o controle do dólar. Dizendo que não se pode descartar o uso das reservas internacionais para controlar o dólar.

A sensação que se tem, é que os planos e as atitudes da equipe econômica do governo já estavam preparadas e discutidas fazem muito tempo. De que demoraram vir a tona porque a presidente Dilma Rousseff resistiu. Provavelmente com medo. Medo da possível revolta da câmara e do senado, da iminente insatisfação do povo brasileiro e com o desconfortável descrédito dentro do seu partido e militantes. Ela abandonou esses temores ou simplesmente optou por ignorá-los?

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