Home / Política

POLÍTICA

A mão que afaga é a mesma que bate?

Eis, portanto, os fatos: o estado maior do PMDB recebeu, com festas, visita de Ronaldo Caiado. A cena em que Iris abraça calorosamente o senador do DEM foi deveras tocante. Quanta ternura! Pareciam pai e filho, tão bonito! Entre os anfitriões, José Nelto exibia o sorriso mais alvar. Poucos dias depois, o mesmo José Nelto, o mais bem embevecido, aparecia nas páginas do Jornal Opção passando corretivo no senador do DEM. Disse ele, trocando em miúdos, que Caiado não apita no PMDB e que, no PMDB, quem manda são os peemedebistas. Pequena correção. O deputado deveria ter dito que no PMDB manda Iris Rezende.

Ninguém entendeu. Aos beijos e abraços com Caiado num dia, mandando solenes bananas para os petistas, dos quais querem distância; no dia seguinte, mandando recados desaforados ao senador com insinuações de que o romance com o PT ainda não acabou, o amor antigo pode reacender a velha chama.

Tem lógica nesta incoerência.

Tenho dito milhões de vezes que o PMDB se guia por uma expectativa de poder imediato. Está sempre pronto a arrojar-se aos pés daquele que lhes acenar com a possibilidade de levá-lo consigo ao paraíso ora estabelecido na Praça Cívica n° 1, Palácio das Esmeraldas. Caiado era o cara. Parece que já não é mais.

O faro eleitoreiro dos peemedebistas, aguçado por pesquisas internas, bola de cristal, tarô e outras sondagens de cientificidade inquestionável, detectou outra possibilidade. O prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, pode ser a nova esperança do PMDB de desbancar o marconismo invicto.

Raciocinemos em bloco: Maguito está muito bem avaliado como prefeito. Sempre foi muito próximo do PT e do PCdoB, tendo tudo para atrair para seu lado essas legendas. Trocar o poderio eleitoral de Caiado pela irrelevância política dos partidos de esquerda? Aonde foi parar o pragmatismo radical do PMDB goiano, o partido que não segura em alça de caixão?

É charada sem mistério. O DEM de Caiado tem minutinhos irrisórios na TV. O tempo do PMDB somado ao do PT já é mais do que dispõe o marconismo. Juntando PCdoB e, quem sabe, o PDT, mais alguns nanicos que orbitam em torno do irismo, teríamos um espaço televisivo infinitamente maior do que o delimitado por uma coligação PMDB/DEM. Ficando sozinho com o DEM, uma candidatura Caiado disporia de tempo nenhum para deitar falação.

Depois que os partidos trocaram a política pela marquetagem e a luta pela hegemonia pelas técnicas de vender banana em feira, o tempo de televisão passou a valer ouro. É a arma principal dos candidatos, cujas campanhas passaram a ser dirigidas por publicitários. É o centro de suas estratégias de conquista do voto. Publicitários, de resto, são sequiosos de tempo em TV, para poder exibir todo aquele manjado arsenal de clichês, de bobagens sentimentaloides, as tais vinhetas.

Se um peemedebista pode levar o PMDB à vitória, qual o sentido de terceirizar o comando da luta? Nenhum. A questão é saber se Maguito estaria disposto a secar o bagaço. Ele já levou o PMDB a duas derrotas, perdendo eleições ganhas, simplesmente por lhe faltar aquilo que Caiado tem de sobra: energia, agressividade, vontade de poder. Caiado é osso duro de roer, mesmo dispondo de míseros segundos para destilar todo o seu veneno retórico.

Se todo o PMDB quiser e lhe implorar de joelhos, pode ser que Maguito, sempre tão vacilante, queira entrar na liça. O PMDB dirá a Maguito: “ponha a coroa na tua cabeça antes que um aventureiro lance mão”.

Tirando Caiado, o osso duro de roer, os demais candidatos em potencial não chegam a ser perigosos. Com Marconi fora da disputa, por força de lei, as coisas ficam mais fáceis para Maguito. Se bem que José Eliton, apesar de estreante, já andou mostrando que tem potencial. E Lúcia Vânia, que, comenta-se pelaí, será candidata, também é de chegada. Mas, enfim, o bicho-papão, Marconi, desta vez não vai aparecer para assombrar os peemedebistas.

(Helvécio Cardoso, editor de Economia do Diário da Manhã)

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias