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POLÍTICA

Ex-guerrilheiro aponta novo caminho à velha polarização entre PT e PSDB

  • Dilma Rousseff está presa à estagnação, inflação e juros altos, diz senador
  • Líder do PSB não acredita que Lula volte para disputar as eleições de 2018
  • Ele frisa que Marta Suplicy será candidata à prefeita de São Paulo em 2016
  • Dirigente conta que ex-tucana Lúcia Vânia será bem tratada nacionalmente


Estagnação do crescimento, inflação elevada e alta taxa de juros: uma combinação explosiva para economia seria a receita de Dilma Rousseff  para o Brasil. Quem ataca é o líder do PSB no Senado, João Capiberibe. Um ex-militante da Ação Libertadora Nacional, a organização do baiano filho de italiano com uma negra Haussá, carbonário Carlos Marighella, que fugiu de forma espetacular da prisão, exilou-se na Bolívia e no Chile, escapou do golpe de 11 de setembro deflagrado por Augusto Pinochet, morou no Canadá e depois participou da experiência de construção do socialismo em Moçambique ao lado de figuras com Samuel Aarão Reis, José Duarte e Daniel Aarão Reis Filho. Para voltar ao Brasil pós-Anistia de 1979.

Autor de Florestas do Meu Exílio,  ele informa com exclusividade ao Diário da Manhã que a possibilidade de fusão entre o PSB e o PPS voltou à agenda política. É que a Câmara dos Deputados reabriu a discussão de criar uma janela, adianta. Animado, ele diz que a sigla socialista defende uma nova economia, fundada em uma sociedade com garantias às gerações futuras. A crise permanente é a ambiental e não existe solução apenas no plano nacional, mas global, dispara. Um novo modelo deveria considerar a possibilidade de se estimular as economias e de ampliar as cadeias produtivas, explica o zootecnista graduado na América do Norte. Cáustico, afirma que as ações do governo federal têm nos levado a um beco sem saída.

– O PMDB é o representante do velho pacto político fundado no patrimonialismo, que está esgotado.

Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, morto em acidente aéreo em 2014, apresentou um caminho diferenciado à velha e desgastada polarização entre PT versus PSDB, observa. Sem bola de cristal, mas com números nas mãos, ele não acredita no retorno do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2018. A reprovação a Dilma Rousseff [65% de desaprovação, aponta o Instituto Datafolha] e os desgastes políticos e eleitorais do PT [Escândalos de corrupção como o Mensalão e o Petrolão] mostram que a sociedade brasileira quer um novo caminho, atira o velho guerrilheiro que não teve medo na luta armada, enfrentou sessões de torturas e peitou até o velho cacique José Ribamar Sarney.

– As lutas sociais e o socialismo, como contraponto, contribuíram para o capitalismo reduzir as desigualdades sociais e exploração do trabalho. Apesar disso, nem o capitalismo nem o socialismo tiveram uma preocupação especial com o meio ambiente.

PERFIL

Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe

Nascimento: Em 1947, Afuá, Ilha de Marajó, no Pará

Exílio: Bolívia, Chile, Canadá e Moçambique

Livro: Florestas do meu exílio

Editora: Terceiro Nome

Número de páginas: 367

Legenda: Partido Socialista Brasileiro, desde 1987

Cargo: Senador da República

Curiosidade: Janete Capiberibe, sua mulher, é deputada federal

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Leia a íntegra da entrevista


Diário da Manhã - A fusão entre PSB e PPS saiu da agenda política nacional?

João Capiberibe - Ela havia saído, mas voltou. É que a Câmara dos Deputados, em Brasília, reabriu a discussão. Apesar disso, ela depende da confirmação do Senado.

DM - Qual a sua análise da crise econômica?

João Capiberibe - O Brasil tem estagnação, inflação elevada e juros altos. Uma combinação explosiva... As ações do governo federal nos levam a um beco sem saída.

DM - O modelo lulista exauriu-se?

João Capiberibe - A expansão do crédito deveria ser uma política de curtíssimo prazo. O modelo de produção e exportação de commodities exauriu-se.

DM - Qual é a agenda do PSB?

João Capiberibe - O PSB defende uma nova economia, uma sociedade fundada em paradigmas para garantir vida às gerações futuras. A crise permanente é a do meio ambiente, para a qual não existe solução nacional, apenas global.

DM - O que seria esse novo modelo?

João Capiberibe - Ele deveria considerar a possibilidade de estimular as economias e de ampliar, adensar, as cadeias produtivas!

DM - Qual é o papel do PMDB, hoje, no cenário nacional?

João Capiberibe -  É o representante do velho pacto político. Fundado no patrimonialismo. Um modelo que já está esgotado. Que exauriu-se.

DM - Qual o legado de Eduardo Campos [morto em 2014, em acidente aéreo]?

João Capiberibe - Eduardo Campos apresentou um caminho diferenciado à velha polarização esgotada entre PT versus PSDB.

DM - Luiz Inácio Lula da Silva volta em 2018?

João Capiberibe -  Não acredito que Lula volte. A sociedade brasileira quer um novo caminho.

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DM - Como o senhor viu a reforma política aprovada por Eduardo Cunha?

João Capiberibe - Um desserviço ao Brasil. Eduardo Cunha implantou uma agenda conservadora, preconceituosa, discriminatória, clientelista, patrimonialista. Ele cumpriu um acordo com as bancadas corporativas.

DM - O que sobrou das utopias da década de 1960, no Brasil?

João Capiberibe - O socialismo contribuiu para que o capitalismo reduzisse as desigualdades econômicas e sociais. Mas é preciso dizer que nem o capitalismo muito menos o socialismo possuíam uma preocupação com o meio ambiente...

DM - Qual a sua análise sobre a Justiça de Transição no Brasil?

João Capiberibe - O Brasil não conseguiu se livrar do pacto de 1985. A impunidade que ocorreu no passado manifesta-se no presente.

DM - Há a possibilidade de revisão da Lei de Anistia, de 1979?

João Capiberibe - Sim. Para retirar a proteção aos responsáveis por violações dos direitos humanos à época da ditadura civil e militar como torturas, assassinatos, desaparecimentos e violação de cadáver. Existem duas propostas. Uma de Randolfe Rodrigues ]PSol]. Outra da deputada federal Luíza Erundina [PSB].  Hoje, sou presidente da Subcomissão de Justiça de Transição da Comissão de Direitos Humanos do Senado da República.  É possível que apresentemos um projeto para rever a Lei de Anistia.

DM - Qual a sua atuação nos anos de chumbo?

João Capiberibe - Fui da ALN [Ação Libertadora Nacional, de Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira e Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o Clemente] de 1969 a 1970. Acabei preso. Fui para o exílio na Bolívia e Chile. Depois, Canadá, onde fiquei quatro anos. Em Moçambique morei dois anos. Retornei ao Brasil em dezembro de 1979, depois da Lei de Anistia.

DM - Qual será o espaço de Marta Suplicy, dissidente do Partido dos Trabalhadores, no PSB?

João Capiberibe - A senadora Marta Suplicy será a candidata a prefeita do partido e de uma frente em São Paulo.

DM - Como o PSB recebe a senadora de Goiás, ex-PSDB, Lúcia Vânia Abrão Costa?

João Capiberibe - O PSB a recebe com muita satisfação. Ela é muito reconhecida em Goiás. Deu uma grande contribuição ao País. Com Lúcia Vânia e Marta Suplicy, a bancada do PSB no Senado terá oito integrantes. Considerável...

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