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Caiado quer a renúncia de Temer

Repercutiu intensamente na imprensa nacional o pronunciamento de Ronaldo Caiado na manhã de ontem, no Senado, durante a votação da PEC 55, a “PEC da Morte”. O líder do Democratas, que é da base governista, exortou o presidente Michel Temer a renunciar. E defendeu a realização de eleições gerais, com disputa também para os cargos do Congresso.

É claro que, desta vez, Caiado deixou de lado sua habitual agressividade. Não falou com aquela veemência com que defendia a deposição de Dilma Rousseff. Não chamou nenhum ministro para sair com ele nos tapas lá fora. A fanfarronice ficou guardada para melhor ocasião. Desta vez ele foi, inusitadamente, adocicado, quase terno. Falou naquele tom de amigo dando bom conselho. Ronaldo Caiado, naquele momento, não foi Ronaldo Caiado.

Tanto assim é que a quase todos os órgãos da imprensa nacional, em suas edições virtuais, noticiaram que Caiado “insinuou” que Temer deveria renunciar. Logo quem! Ronaldo Caiado, o desbocado do Senado, um homem que nunca foi de insinuações, mas de dizer sem rodeios e sem meias palavras o que pensa, agora dado a “insinuações”! Pode?

Caiado, na verdade, não insinuou coisíssima nenhuma. Apenas mudou sua costumeira postura tonitruante para expor, com aquela elegância grega que se exige do bom parlamentar, uma opinião sincera. No entendimento do senador, após a delação da Odebrecht, que envolveu na Lava Jato parlamentares de diferentes partidos, além de membros do governo e também o próprio presidente, é preciso que o Executivo e o Legislativo verifiquem se ainda têm condição de governar e legislar, do contrário, seria necessário um “gesto maior”.

E o que seria esse gesto maior? Caiado com a palavra: “Podemos chegar a um último fato para preservar a democracia, um gesto maior, para mostrar que ninguém governa sem apoio popular. Nesta hora, não podemos ter medo de uma antecipação do processo eleitoral, de maneira alguma”, afirmou.

Neste momento, o senador negou que estivesse falando diretamente da renúncia de Temer, mas, em seguida, se referiu diretamente ao presidente. “Não vou fulanizar. Mas acho que Temer saberá balizar esse momento. Ele deve ter a sensibilidade que não teve a presidente Dilma. Não é provocar as ruas e insistir em uma tese que não vai sobreviver. Ele precisa ter noção do que está sendo feito pelo governo e o que é aceito pela população”, disse.

Novamente, o senador afirmou que não solicitava uma renúncia de ordem pessoal de Michel Temer. Ele negou que estivesse “passando um recado” ao presidente, mas asseverou que fazia uma reflexão pessoal como parlamentar sobre o que era ideal para o País neste momento.

As palavras de Caiado não deixam dúvidas. Ainda que ditas um tanto constrangidas, quase envergonhadas, tais palavras atestam o que Caiado de fato pensa: Temer deve renunciar. A coisa está ficando feia para o lado do presidente. A crise política se avoluma. A economia em reiuna alimenta a crise. Eleições diretas, ainda que para cumprir um mandato tampão, como propõe o senador Roberto Requião, poderiam ser uma saída.

Mas não é o que pensa o presidente do Democratas, José Agripino (RN). Ele afirmou, por meio de sua assessoria, que qualquer insinuação de pedido de renúncia de Temer é um posicionamento pessoal de Caiado e não representa o posicionamento da bancada ou do partido. Parlamentares da oposição pediram oficialmente a renúncia do presidente. “Pedimos a renúncia de Temer por falta de condições de governar. Não tratamos aqui de antecipação das eleições gerais, com as quais até concordamos. Mas, no momento, queremos focar nas eleições para o cargo de presidente”, afirmou o líder do PT, Humberto Costa (PE).

A proposta insinuativa de Caiado não agradou a todos os setores da imprensa. O pérfido Reinaldo Azevedo, da Veja, publicou em seu blog que Caiado é ingênuo. Recentemente, o colunista – que também vem fazendo sucesso, grande comediante, por suas imitações de Lula – disse que antecipar eleições é burrice, já que Lula poderia vencê-las com um pé nas costas. Assim, a saída da crise se daria à esquerda.

Neste sentido, talvez Ronaldo Caiado seja mesmo ingênuo. Todas as pesquisas de intenção de voto indicam vitória de Lula. Na pior das hipóteses, Lula iria para um segundo turno com Marina Silva, ex-petista, ainda de esquerda, conforme se conveniou classificá-la. Mas esta ingenuidade de Caiado só pode ser estabelecida por espíritos maliciosos que colocam as conveniências acima dos princípios e o interesse gremial acima do bem maior da nação. Diga-se o que disser de Caiado, ninguém pode negar que ele é homem de princípios. Princípios discutíveis, vá lá. Mas homem de princípios.

De resto, ao propor antecipação de eleições parlamentares, ele não deixa de guardar certa coerência. A atual legislatura não goza de estima popular. Os parlamentares brasileiros não têm prestígio, perderam a credibilidade. Com uma grande quantidade de seus membros envolvidos em escândalos cabeludos, com que autoridade moral poderia eleger, pela via indireta, um novo presidente? É o que se perguntam os críticos do governo. Dissolver este Congresso, tal como acontece nas repúblicas parlamentaristas, ajudaria a resolver a crise. Mas não há base legal para isso. Daí terem chamado Caiado de ingênuo. Mas não seria este um bom momento de, no embalo de uma nova eleição, implantar o parlamentarismo no Brasil?

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