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POLÍTICA

Aécio e Alckmin na berlinda, Serra e Marconi em alta no PSDB

E governador paulista na máfia das merendas abre novos caminhos na corrida presidencial


É conselho que vem de longe que se deve ter muita desconfiança dos moralistas. Normalmente aquilo que os moralistas acusam os outros é o que eles próprios tem no coração. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), paladino da moralidade contra o “mar de lama” nos governos do PT, é acusado formalmente de participar de um grande esquema de corrupção em  Furnas por um dos réus da Operação Lava Jato (a história sem fim do juiz Moro). Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o lobista Fernando Moura disse sem titubear que Furnas era uma estatal controlada pelo hoje senador Aécio Neves (PSDB-MG) no governo Lula, e que o esquema de propina se assemelhava ao instalado na Petrobras: "É um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio". Segundo Fernando Moura,  em conversa a época com o então ministro José Dirceu para a escolha de nomes para a diretoria de estatais, o nome de Dimas Toledo foi apresentado: "Ele me respondeu: 'Esse foi o único cargo que o Aécio pediu pro Lula. Então você vá lá conversar com o Dimas e diga para ele que vamos apoiar [a indicação de seu nome]'".

Não bastasse Aécio ser pego com as calças curtas, o noticiário de São Paulo foi tomado nesta semana pelas denúncias de uma máfia, comandada de dentro do Palácio dos Bandeiras, para desvio do dinheiro das merendas das escolas públicas paulistas. A Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo solicitou ao Tribunal de Justiça do Estado a quebra de sigilos fiscal e bancário de 12 pessoas investigadas por corrupção ativa e passiva, tráfico de influência e organização criminosa pela Operação Alba Branca; entre elas estão o presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Capez (PSDB), e ex-integrantes de cargos estratégicos no governo de Geraldo Alckmin, como o ex-chefe de gabinete da Casa Civil, Luiz Roberto dos Santos, o 'Moita', e o ex-chefe de gabinete da Secretaria da Educação, Fernando Padula, ambos do PSDB. A investigação pode confirmar os depoimentos do presidente da Coaf, Cássio Chebabi (envolvido o esquema)  e as interceptações telefônicas. Caso isto ocorra estará demonstrado que a atuação da quadrilha dentro do Palácio dos Bandeirantes, jogando por terra o projeto do govenador Geraldo Alckmin disputar a presidência em 2018.

Cúpula muda discurso

Diante destas notícias, que abalam a credibilidade dos principais líderes do partido, a cúpula do PSDB já começa a agir. O primeiro a recuar no discurso do impeachment foi o  ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele próprio alvo de uma denúncia do delator Nestor Ceveró, de que no seu governo houve um esquema de propina US$ 100 milhões na  compra da petrolífera argentina Perez Compancq pela Petrobras em 2002, último ano do mandato de FHC.

Outros líderes tem deixado Aécio sozinho neste barco. Há duas semanas o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse em entrevista ao jornal O Povo, que não há base para derrubar a presidenta. O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, foi além: “"Alguém quer criticar o governo, critique o governo, alguém quer elogiar o governo, elogie o governo, mas precisamos sair dessa pauta do impeachment, que paralisa o País, o Congresso e qualquer força criadora que nós possamos ter", disse. Arnaldo Madeiro, ex-líder do governo Fernando Henrique Cardoso na Câmara (1995-2002) e coordenador da campanha de Aécio Neves à presidência em São Paulo, Arnaldo Madeira, disse à Folha de S. Paulo, dia 14 de janeiro que "o PSDB deveria ir mais devagar. Está com muita sede e paralisou as coisas para ficar em cima do impeachment".

Oportunidade

Dificuldade para uns, oportunidade para outros. Os problemas que assolam as imagens e Aécio Neves e Geraldo Alckmin não afetam o senador José Serra (PDDB-SP) e o govenador Marconi Perillo (PSDB-GO). Enquanto Aécio entoava o samba de uma nota só do impeachment, Serra tratou se aproximar-se do PMDB, através do vice-presidente Michel Temer. Marconi Perillo, por sua vez, participou de evento com a presidenta Dilma Roussef, em Goiânia. Foi em março, no lançamento do BRT- Norte-Sul, quando o tucano discursou defendendo a petista, dizendo que ele, Marconi, havia sido reeleito para governar por quatro anos, e Dilma também, portanto, era preciso respeitar o resultado das urnas.

Esta não é a primeira denuncia contra Aécio Neves nas investigações da Lava-Jato. O doleiro Alberto Youssef também delatou que Aécio recebia propinas de Furnas e o delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, responsável pela entrega de valores, afirmou em depoimento gravado ter ouvido que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) era "o mais chato" na cobrança de propina junto à empreiteira UTC. Geraldo Alckmin, por sua vez, é cobrado pelos paulistanos pelo caos hídrico e pela estúpida idéia de fechar escolas estaduais, que o colocou em confronto com estudantes e fez seus índices de popularidade despencarem de 48% para 28%.

Sem Aécio, que contra a máquina do PSDB e Alckmin, que tem a caneta do segundo maior orçamento do país no páreo, o terreno fica livre para Serra e Marconi disputarem a indicação do PSDB para a presidência em 2018. José Serra já demonstrou em outras oportunidades que é mais experiente política e emocionalmente que Aécio. Serra circula com desenvoltura entre o PIB econômico e midiático do país. Marconi ainda é um jogador novo no cenário nacional, mas está habilmente costurando uma frente de governadores “do interior”, do Centro-Norte do país, que podem lhe garantir visibilidade no novo cenário que deverá surgir com o ocaso dos principais líderes do PSDB. Aécio não tem um plano B, e Alckmin tem que responder pela sua administração, sem direito a culpar ninguém, uma vez que foi reeleito.

Imagem e ideias são tudo num processo eleitoral difícil como é o processo de eleição de um presidente. Serra e Marconi sabem disto, e com certeza não vão perder a oportunidade de ouro que se lhes apresenta.

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