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OPINIÃO

Pirlimpimpim?

A evo­lu­ção de nos­sa so­ci­e­da­de em di­re­ção à sus­ten­ta­bi­li­da­de é vi­sí­vel. Re­tro­ce­der pa­re­ce im­pos­sí­vel, mas pre­ci­sa­mos es­tar sem­pre aler­tas vi­san­do po­ten­ci­a­li­zar os be­ne­fí­ci­os e ao mes­mo tem­po es­ca­par das ar­ma­di­lhas. Al­gu­mas es­tão sen­do re­a­pre­sen­ta­das dis­far­ça­das de "so­lu­ções dis­rup­ti­vas ino­va­do­ras", no em­ba­lo da in­dús­tria de con­cei­tos. Com a de­vi­da vê­nia do Mes­tre Mon­tei­ro Lo­ba­to, va­mos tra­tar aqui dos adi­ti­vos "má­gi­cos" que pro­me­tem afas­tar even­tua­is im­pac­tos cau­sa­dos por ma­te­ri­ais plás­ti­cos quan­do dis­pos­tos de for­ma ina­de­qua­da na na­tu­re­za.

Con­for­me pa­re­cer téc­ni­co ela­bo­ra­do pe­lo CE­TEA/ITAL, é equi­vo­ca­do pen­sar que a de­com­po­si­ção de ma­te­ri­ais no meio am­bi­en­te se­ja uma so­lu­ção pa­ra a des­ti­na­ção de em­ba­la­gens em ge­ral. Não é pos­sí­vel con­si­de­rar nor­mal que re­sí­duos se­jam jo­ga­dos di­re­ta­men­te no meio am­bi­en­te, su­pon­do que es­te te­ria con­di­ções pa­ra pro­ces­sar/de­com­por tais ma­te­ri­ais no cur­to pra­zo. A res­pon­sa­bi­li­da­de da so­ci­e­da­de so­bre a ges­tão de seus re­sí­duos de­ve ser as­su­mi­da, de for­ma com­par­ti­lha­da. Pro­du­tos co­mo de­ter­gen­tes, ama­ci­an­tes, sham­po­os, con­di­cio­na­do­res etc. de­vem ser bi­o­de­gra­dá­veis, pois são ne­ces­sa­ria­men­te des­car­ta­dos no es­go­to e a ca­rac­te­rís­ti­ca de bi­o­de­gra­da­bi­li­da­de é mui­to útil no tra­ta­men­to de es­go­to, que nor­mal­men­te uti­li­za pro­ces­sos bi­o­ló­gi­cos. Por ou­tro la­do, não é uma pro­pos­ta vi­á­vel en­vi­ar pa­ra o es­go­to o re­sí­duo só­li­do do­mi­ci­li­ar (em­ba­la­gens, sa­co­las plás­ti­cas, re­sí­duos de ali­men­tos, óleo de co­zi­nha...). Ou se­ja, pro­pos­tas pa­ra tra­ta­men­to de eflu­en­tes são di­fe­ren­tes da­que­las ade­qua­das à ges­tão e va­lo­ri­za­ção dos re­sí­duos só­li­dos.

O qua­dro po­de ser ain­da pi­or quan­do a ação de de­gra­da­ção é in­du­zi­da/ace­le­ra­da por adi­ti­vos que pro­me­tem so­lu­ci­o­nar o pro­ble­ma co­mo num pas­se de má­gi­ca, mas que na ver­da­de aju­dam a agra­var a con­ta­mi­na­ção do am­bi­en­te, a par­tir da frag­men­ta­ção de ma­cro­mo­lé­cu­las (po­lí­me­ros). Os tais adi­ti­vos "oxi-de­gra­dá­veis" ou "oxi-bi­o­de­gra­dá­veis" pa­ra em­ba­la­gens plás­ti­cas, atra­pa­lham a re­ci­cla­gem e agra­vam a con­ta­mi­na­ção de len­çóis fre­á­ti­cos, rios, ma­res, oce­a­nos, etc, além de in­vi­a­bi­li­zar a re­ci­cla­gem de di­ver­sos pro­du­tos. O tal pó de pir­lim­pim­pim pa­ra plás­ti­cos não "tran­spor­ta" o ma­te­ri­al pa­ra ou­tro lu­gar, as mo­lé­cu­las con­ti­nuam lá só que ago­ra frag­men­ta­das, con­ta­mi­nan­do o meio am­bi­en­te e in­vi­a­bi­li­zan­do a re­ci­cla­gem.

Por fim, de­ve­mos lem­brar que o con­su­mi­dor tem di­rei­to à in­for­ma­ção cor­re­ta e não po­de ser con­fun­di­do com ter­mos não si­nô­ni­mos co­mo "bi­o­de­gra­dá­vel" e "bi­o­po­lí­me­ro". Bi­o­po­lí­me­ros são plás­ti­cos fa­bri­ca­dos a par­tir de fon­tes re­no­vá­veis (mi­lho, ca­na-de-açú­car etc.) e têm im­por­tân­cia es­tra­té­gi­ca pa­ra o fu­tu­ro, prin­ci­pal­men­te quan­do uti­li­zam ener­gia re­no­vá­vel em to­do seu ci­clo de vi­da (pro­du­ção agrí­co­la, pro­ces­sos in­dus­tri­ais, tran­spor­te etc.). Bi­o­po­lí­me­ros não pre­ci­sam ser bi­o­de­gra­dá­veis/bi­o­de­gra­da­dos, po­dem ser re­ci­clá­veis.

Al­gu­mas em­pre­sas de gran­de por­te no Bra­sil e em ou­tros paí­ses já caí­ram nes­se em­bus­te num pas­sa­do re­cen­te. No Bra­sil até Pro­je­tos de Lei e De­cre­tos obri­gan­do a sua uti­li­za­ção ti­ve­mos. Se­rá que va­mos ver es­se ci­clo se re­pe­tir?

(An­dré Vi­lhe­na, Di­re­tor Exe­cu­ti­vo do CEM­PRE)

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