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OPINIÃO

A arte do rapapé

Nes­ses di­as que pre­ce­dem as elei­ções, alas­tram-se, por to­da a par­te, os pu­xa-sa­cos. Não me cus­ta na­da ofe­re­cer, nes­ta crô­ni­ca, al­gu­mas re­gras que os aju­da­rão a exer­cer, com re­quin­te, a “ar­te do ra­pa­pé”. Pa­ra os que não sa­bem, o ra­pa­pé é o ato, às ve­zes gro­tes­co, de cum­pri­men­tar ou­tras pes­so­as de mo­do exa­ge­ra­do. Em se tra­tan­do de au­to­ri­da­des e de po­lí­ti­cos nas vés­pe­ras das elei­ções, a prá­ti­ca des­sa ar­te se acen­tua. Nas co­me­mo­ra­ções do 7 de se­tem­bro, vi de lon­ge no pa­lan­que vá­ri­as au­to­ri­da­des, acom­pa­nha­dos de seus acó­li­tos, e, ain­da, de vá­ri­as au­to­ri­da­des mi­li­ta­res. Ja­mais ha­via pre­sen­ci­a­do um ra­pa­pé tão mar­can­te. To­do mun­do que­ria es­tar a pou­ca dis­tân­cia das au­to­ri­da­des. Em da­do mo­men­to vi que um dos cir­cun­stan­tes, aco­to­ve­lan­do os pre­sen­tes, apro­xi­mou-se de um can­di­da­to a de­pu­ta­do e en­tre­gou-lhe um bi­lhe­te. De­via ser um pe­di­do de em­pre­go. Sei lá! Ora, bo­las! Já es­ta­va me es­que­cen­do das re­gras pre­cei­tu­á­rias de­di­ca­das àque­les que de­se­jam por em prá­ti­ca a an­ti­ga “ar­te do ra­pa­pé”. Ve­jam-nas: se­ja es­pe­cí­fi­co, pois não exis­te um elo­gio cu­rin­ga, por­tan­to, es­que­ça fór­mu­las fá­ceis, co­mo, por exem­plo “o sr. é o me­lhor!”; exal­te uma qua­li­da­de que re­al­men­te ad­mi­ra no pu­xa­do; sai­ba os li­mi­tes da ba­ju­la­ção; não dei­xe de ba­ju­lar as pes­so­as que já são mui­to ba­ju­la­das; pu­xe o sa­co pe­las cos­tas, pois é me­lhor ter­cei­ri­zar o elo­gio, da se­guin­te ma­nei­ra: “fu­la­no diz que vo­cê é bri­lhan­te!”; nun­ca ba­ju­le vá­ri­as pes­so­as da mes­ma for­ma, ca­so con­trá­rio, vo­cê es­ta­rá des­per­di­çan­do to­dos os elo­gi­os; nun­ca se­ja sin­ce­ro quan­do al­guém pe­dir sua opi­ni­ão, por­que mui­tas ve­zes o ba­ju­la­do es­tá pro­cu­ran­do elo­gi­os men­ti­ro­sos e não a ver­da­de; con­cor­de, mas não com tu­do; sor­ria ao fa­zer um elo­gio; co­me­ce de­va­gar, por­que as afei­ções fal­sas de­vem ser fei­tas gra­du­al­men­te; con­te um se­gre­do, pois, re­ve­lar al­go ín­ti­mo de­mons­tra sua con­fi­an­ça ao ba­ju­la­do; pe­ça con­se­lho; pe­ça, ain­da um pe­que­no fa­vor, vez que, es­tu­dos in­di­cam que gos­ta­mos mais das pes­so­as pa­ra as qua­is fa­ze­mos fa­vo­res do que das que nos fa­zem; e, por úl­ti­mo, uma re­gri­nha im­por­tan­te: nun­ca elo­gie e pe­ça um ob­sé­quio ao mes­mo tem­po. Se vo­cê, elei­tor, já se con­si­de­rar um ba­ju­la­dor ina­to, is­to é, se já pos­su­ir es­se dom na­tu­ral, acre­di­to que não ne­ces­si­ta­rá des­sas re­gras, por­quan­to, pa­ra vo­cê elas já se tor­na­ram ele­men­ta­res.

(Lu­iz Au­gus­to Pa­ra­nhos Sam­paio, mem­bro da Aca­de­mia Go­i­a­na de Le­tras e do Ins­ti­tu­to His­tó­ri­co e Ge­o­grá­fi­co de Go­i­ás da Aca­de­mia Ca­ta­la­na de Le­tras e da Uni­ão Bra­si­lei­ra de Es­cri­to­res. E-mail: lui­zau­gus­to­sam­[email protected])

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