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OPINIÃO

Uma novela antiga

“O Di­rei­to de Nas­cer”  – Uma im­pac­tan­te es­tó­ria de “Yoo For­tu­ne”.

O jo­vem ca­sal que se ama­va mui­to con­ver­sa­va à por­ta da ca­sa da mo­ça. Ma­ria di­zia pre­o­cu­pa­dís­si­ma: ¬- E ago­ra, Os­val­do, o que fa­re­mos que­ri­do? Snif! Não gos­to nem de pen­sar.

– Pre­o­cu­pe não, que­ri­da, ex­cla­ma­va o par­cei­ro, eu te­nho uma ami­ga que é par­tei­ra, ela po­de que­brar nos­so ga­lho.

– Não é cri­me hor­rí­vel?

– Não exis­te cri­me bo­ni­to. Já er­ra­mos mes­mo, Ma­ria, ago­ra é achar a so­lu­ção, e ela é uma só... O ABOR­TO.

– Só de fa­lar nis­so me ar­re­pio de pa­vor. Mas se não há ou­tro mo­do. Eli­mi­nan­do o nas­ci­tu­ro, quem sa­be es­ta­re­mos po­dan­do a vin­da do sal­va­dor do Bra­sil, Os­val­do?

- Um a me­nos faz mal não. O pa­ís es­tá cheio de­les.

- Pen­sou se es­sa ideia é a cer­ta, que­ri­do?

– Pen­sei até fa­zer ca­lo na ca­be­ça e não achei ou­tra so­lu­ção. O fi­lho já es­tá con­ce­bi­do.

– A gen­te po­dia dá-lo em ado­ção quan­do ele nas­cer...

– Não, Ma­ria. Da­rá tra­ba­lho de­mais es­con­der das pes­so­as, da fa­mí­lia, da so­ci­e­da­de. Das su­as ami­gas...

- Dos seus ami­gos tam­bém!

- Va­mos pra es­sa de­ci­são, que­ri­da, o abor­to.

- Es­tá bem, Os­val­do, já que não há ou­tra so­lu­ção, eu TO­PO.

Al­guns di­as de­pois, o ca­sal foi con­ver­sar com um fal­so mé­di­co:

- Pre­fe­ri­mos sua aju­da “Dou­tor”, uma vez que a par­tei­ra ti­rou “o cor­po fo­ra”.

O Pseu­do  agra­de­ceu: -- Obri­ga­do. Por is­so o pre­ço que lhe dei. Pa­re­ce ca­ro. Mas é o meu pre­ço. Se for fa­zer o ser­vi­ço ago­ra, que­ro o che­que.

Mas, ven­do o va­lor, Ma­ria re­cla­mou:

- Que­ri­do! Cin­co mil re­ais?

– É o pre­ço, Amor! De­pois que já fi­ze­mos “o pro­ble­ma”, não há ou­tro meio. Va­mos, te­nha co­ra­gem. Com­bi­na­mos tu­do. Ago­ra che­gou a ho­ra. Não vá se ar­re­pen­der. To­me “dou­tor”, seu che­que.

O Pseu­do – Obri­ga­do, Seu Os­val­do. E à es­po­sa de­le: Sra. Ma­ria dis­pa-se e dei­te-se na­que­la ca­ma.

A grá­vi­da, qua­se cho­ran­do: - Es­tá bem “dou­tor”. À en­fer­mei­ra: - Aju­de-me ami­ga?

Sob a aten­ção dos qua­tro, que es­ta­vam na­que­le la­bo­ra­tó­rio, quan­do são in­ter­rom­pi­dos.

– Pron­to dou­tor. Dis­se Ma­ria. Não foi cau­sa de es­tru­po nem do­en­ça do nas­ci­tu­ro, nem ris­co da mi­nha vi­da, es­tou con­tra­ri­an­do a lei, Mas Deus me pro­te­ja...

(Quan­do são in­ter­rom­pi­dos!)

(So­no­plas­tia?? Uai!)

Es­cu­ta-se no am­bi­en­te for­te e es­tri­den­te gar­ga­lha­da do Fan­tas­ma, o Vox: uu­u­u­u­u­a­a­a­a­a­a­a­a­akkkkkkkkkkkkkkhhhhhhhhhhhh!) Deus não pro­te­ge cri­mes, MA­DA­MA! Não vai ter abor­to! Kkkkkkkkkkk!

O Pseu­do gri­ta al­to, te­me­ro­so, as­sus­ta­do e in­da­ga: - On­de es­tá vo­cê ca­ra? De on­de vem es­sa voz?

E o Fan­tas­ma ex­pli­ca:

– Aqui, en­tre vo­cês, aha­ha­ha­hah! Sou o Fan­tas­ma da Jus­ti­ça e vou le­vá-los pre­sos. (O fan­tas­ma pe­ga o ce­lu­lar, nin­guém o vê) AlÔ, po­lí­cia? Aca­bo de pren­der qua­tro sus­pei­tos em fla­gran­te. Ve­nham bus­ca-los aha­ha­ha­ha­ha!

Os qua­tro en­qua­dra­dos – Não fa­çam is­so! O fi­lho é nos­so! Te­mos o di­rei­to!

– E o Di­rei­to de Nas­cer já é da cri­an­ça! Diz a Vox. Pai não dá pal­pi­te ago­ra. Se não que­rem fi­lho, usem a ca­mi­si­nha aha­ha­ha­ha­hah!

Ma­ria ex­cla­ma, tar­di­a­men­te, aos cho­ros e de­ses­pe­ros: Foi is­so que deu! Eu na­mo­rar um va­ga­bun­do!

O Fan­tas­ma – Vo­cê tam­bém Ma­ria: com tan­tos pre­ser­va­ti­vos, pa­ra que abor­tar? Ha­ha­ha­ha­ha­ha... ME VOY.  A po­lí­cia che­gou? AHA­HA­HA­HA­HA­HAHH!

E os en­vol­vi­dos fo­ram con­ver­sar com a po­lí­cia e a con­sci­ên­cia. É is­to. E o nas­ci­tu­ro foi sal­vo.

(Iron Jun­quei­ra, es­cri­tor)

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