Home / Opinião

OPINIÃO

Roubaram o pré-sal e foram indenizados

No se­gun­do go­ver­no do ex-pre­si­den­te Lu­iz Iná­cio Lu­la da Sil­va, o Bra­sil anun­ciou as mai­o­res des­co­ber­tas de pe­tró­leo no sé­cu­lo 21, que fo­ram as re­ser­vas do pré-sal. Co­in­ci­dên­cia ou não, em 2008, qua­tro no­te­bo­oks e dois HDs da Pe­tro­bras fo­ram fur­ta­dos, com in­for­ma­ções si­gi­lo­sas so­bre o pré-sal, nu­ma tí­pi­ca ação de es­pi­o­na­gem in­dus­tri­al, que en­vol­veu a em­pre­sa nor­te-ame­ri­ca­na Hal­li­bur­ton, que tam­bém atuou na in­va­são do Ira­que. Pou­co tem­po de­pois, o Bra­sil pas­sou a ser es­pi­o­na­do pe­la NSA, uma agên­cia de in­te­li­gên­cia dos Es­ta­dos Uni­dos, com fo­co es­pe­ci­al no se­tor de pe­tró­leo.

A es­pi­o­na­gem se tor­nou pú­bli­ca já no go­ver­no da pre­si­den­te Dil­ma Rous­seff, com as re­ve­la­ções fei­tas pe­lo agen­te Edward Snowden. Não só Dil­ma ha­via si­do bis­bi­lho­ta­da, co­mo a pró­pria Pe­tro­bras. Des­de en­tão, sur­gi­ram as pri­mei­ras evi­dên­cias de que um gol­pe, mo­vi­do a pe­tró­leo, es­ta­va em cur­so no Bra­sil. De um la­do, co­lu­nis­tas ali­nha­dos com o pen­sa­men­to vi­ra-la­ta e en­tre­guis­ta des­de­nha­vam do pré-sal, ale­gan­do que o cus­to de ex­tra­ção se­ria ex­tre­ma­men­te al­to. De ou­tro, Dil­ma ten­ta­va re­sis­tir, com um mo­de­lo de ex­plo­ra­ção que pas­sa­va a ser o de par­ti­lha, com mai­or ge­ra­ção de ri­que­zas pa­ra a Uni­ão e o co­man­do da Pe­tro­bras.

Em 2013, com as cha­ma­das jor­na­das de ju­nho, uma "pri­ma­ve­ra ára­be" bra­si­lei­ra pas­sou a ser es­ti­mu­la­da nas re­des so­ci­ais por pá­gi­nas pa­tro­ci­na­das por gran­des in­te­res­ses eco­nô­mi­cos. Um ano de­pois, a Ope­ra­ção La­va Ja­to trans­for­mou a pro­mis­cu­i­da­de his­tó­ri­ca das re­la­ções pú­bli­co-pri­va­das bra­si­lei­ras num ca­so de "cor­rup­ção sis­tê­mi­ca" de uma es­ta­tal que te­ria si­do apa­re­lha­da pa­ra ga­ran­tir um "pro­je­to de po­der". O que se pre­ten­dia era der­ru­bar a pre­si­den­te Dil­ma Rous­seff e cas­sar o re­gis­tro do PT pa­ra que o par­ti­do fos­se ba­ni­do da vi­da pú­bli­ca bra­si­lei­ra.

Com a des­co­ber­ta de que a far­ra das em­prei­tei­ras era ge­ne­ra­li­za­da, ape­nas o pri­mei­ro ob­je­ti­vo foi al­can­ça­do. E o Bra­sil, cu­ri­o­sa­men­te, foi o pri­mei­ro pa­ís da his­tó­ria a der­ru­bar uma pre­si­den­te ho­nes­ta pa­ra ins­ta­lar uma or­ga­ni­za­ção cri­mi­no­sa no po­der. Fei­ta a tran­si­ção, a pri­mei­ra mu­dan­ça se deu jus­ta­men­te no pe­tró­leo, com a ven­da de cam­pos do pré-sal até pa­ra es­ta­tais de ou­tros paí­ses, co­mo a no­ru­e­gue­sa Sta­toil, e lei­lões que fa­vo­re­ce­ram em­pre­sas co­mo Shell e Ex­xon.

Sem dis­pa­rar um úni­co ti­ro, ao con­trá­rio do que ocor­reu nas in­vas­ões re­cen­tes do Ori­en­te Mé­dio, as pe­tro­lei­ras in­ter­na­cio­nais con­se­gui­ram se apo­de­rar da mai­or des­co­ber­ta re­cen­te de pe­tró­leo. En­quan­to is­so, no Bra­sil, fo­ram eli­mi­na­dos mais de 2 mi­lhões de em­pre­gos na ca­deia pro­du­ti­va do se­tor de óleo e gás, a in­dús­tria na­val foi pa­ra­li­sa­da e, co­mo ce­re­ja do bo­lo, a Pe­tro­bras de­ci­diu in­de­ni­zar, an­tes de qual­quer con­de­na­ção ju­di­cial, in­ves­ti­do­res dos Es­ta­dos Uni­dos, al­guns de­les de fun­dos-abu­tres, em na­da me­nos que R$ 10 bi­lhões. Em re­su­mo: rou­ba­ram o pré-sal e ain­da fo­ram in­de­ni­za­dos.

(Le­o­nar­do At­tuch, jor­na­lis­ta e edi­tor-res­pon­sá­vel pe­lo 247, além de co­lu­nis­ta das re­vis­tas Is­toé e Nor­des­te)

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias