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OPINIÃO

Em que momento Peru e Brasil fracassaram?

No ro­man­ce pes­si­mis­ta Con­ver­sa na Ca­te­dral, lan­ça­do em 1969, pe­lo Prê­mio No­bel de Li­te­ra­tu­ra 2010, Má­rio Var­gas Llo­sa, um jor­na­lis­ta, de­si­lu­di­do com o Pa­ís, no mo­men­to em que dei­xa­va a re­da­ção do jor­nal La Cró­ni­ca, per­gun­tou: “Em que mo­men­to o Pe­ru ti­nha se fo­di­do?”

O li­vro re­tra­ta uma so­ci­e­da­de de­bi­li­ta­da, des­cren­te, com seu po­vo ex­tre­ma­men­te in­fe­liz, em vir­tu­de de su­as vi­das e ins­ti­tu­i­ções de­ca­den­tes. É cla­ro que es­sa nar­ra­ti­va é mui­to se­me­lhan­te com a re­a­li­da­de bra­si­lei­ra.

Se bus­car­mos a ori­gem da nos­sa co­lo­ni­za­ção (sé­cu­lo XVI), po­de-se fa­cil­men­te sa­ber a da­ta exa­ta da nos­sa tra­gé­dia. O pro­ble­ma gra­ve é que ela, de­pois de cin­co sé­cu­los, ain­da não aca­bou.

O atu­al pre­si­den­te do Pe­ru, Pab­lo Kuczynski, acu­sa­do de cor­rup­ção (re­ce­bi­men­to de di­nhei­ro da Ode­brecht na cam­pa­nha em tro­ca de con­tra­tos su­per­fa­tu­ra­dos e ne­fas­tos pa­ra o Pa­ís), pa­ra não per­der o po­der, fez es­can­da­lo­sas ne­go­ci­a­tas e in­dul­tou o ex-di­ta­dor pe­ru­a­no Al­ber­to Fu­ji­mo­ri, que cum­pria pe­na por mas­sa­cres pro­mo­vi­dos por es­qua­drões da mor­te usa­dos pe­lo seu re­gi­me, fal­si­da­de ide­o­ló­gi­ca, trá­fi­co de in­flu­ên­cias e cor­rup­ção. Ain­da há ou­tros cri­mes con­tra a hu­ma­ni­da­de em apu­ra­ção.

Pab­lo Kuczynski se tor­nou um trai­dor da pá­tria (dis­se o pe­ru­a­no Var­gas Llo­sa).

Por ape­nas 8 vo­tos ele não foi cas­sa­do. Seu con­luio com par­te da fa­mí­lia de Fu­ji­mo­ri sal­vou sua pe­le (e seu pos­to). Sua re­pu­ta­ção, em com­pen­sa­ção, de­sa­bou. Gran­des acor­dos, con­cha­vos, fi­si­o­lo­gis­mos, tro­ca de car­gos etc.: é o jei­to la­ti­no ame­ri­ca­no de go­ver­nar.

O pre­si­den­te acu­sa­do de cor­rup­ção es­tá no car­go. Fu­ji­mo­ri saiu da pri­são. Mais um ti­ra­no que es­ca­pa do im­pé­rio da lei em ra­zão de con­cha­vos ins­ti­tu­ci­o­nais.  A des­cren­ça na lei, nas ins­ti­tu­i­ções e na Jus­ti­ça é ab­so­lu­ta.

No prin­cí­pio do sé­cu­lo XVI a Amé­ri­ca La­ti­na foi co­lo­ni­za­da por bár­ba­ros que só que­ri­am se en­ri­que­cer e ir em­bo­ra. Em ple­no sé­cu­lo XXI, as coi­sas mu­da­ram mui­to pou­co. O pro­ces­so ci­vi­li­za­dor (Nor­bert Eli­as) não che­ga pa­ra es­sas ban­das do pla­ne­ta.

Que fal­ta nos faz a dis­ci­pli­na, o au­to­con­tro­le, a pers­pec­ti­va de fu­tu­ro e a sen­si­bi­li­da­de pa­ra o ou­tro, pa­ra a dor e o so­fri­men­to do ou­tro.

(Lu­iz Flá­vio Go­mes, ju­ris­ta. Cri­a­dor do mo­vi­men­to Que­ro Um Bra­sil Éti­co. Es­tou no f/lu­iz­fla­vi­o­go­me­so­fi­ci­al)

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