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OPINIÃO

A reforma da Previdência poderia ser adiada

O Bra­sil já pa­gou um pre­ço mui­to ca­ro pe­la mal­fa­da­da, mal ela­bo­ra­da e mal ex­pli­ca­da re­for­ma da Pre­vi­dên­cia.

Pa­gou ca­ro nas du­as vo­ta­ções con­tra o pre­si­den­te da Re­pú­bli­ca.

Pa­gou ca­ro com a am­pli­a­ção ve­xa­tó­ria do dé­fi­cit da pre­vi­dên­cia ru­ral, em 2017, su­pe­ri­or a R$ 150 bi­lhões.

Pa­gou ca­ro, com a so­ne­ga­ção e a eva­são da re­cei­ta da Pre­vi­dên­cia So­ci­al, su­pe­ri­or a R$ 150 bi­lhões;

Pa­gou ca­ro, com o de­sas­tre de não co­bran­ça da dí­vi­da ati­va de R$ 450 bi­lhões, pe­la Pro­cu­ra­do­ria Ge­ral da Fa­zen­da Na­ci­o­nal, que man­tém a tor­pe te­o­ria de que dí­vi­da é in­co­brá­vel, mes­mo com ban­quei­ros, su­per uni­ver­si­da­des, hi­per usi­nas de açú­car, me­ga­em­pre­sas de mão de obra ter­cei­ri­za­da, gi­ga fri­go­rí­fi­cos, big em­pre­sas de ôni­bus.

Pa­gou ca­ro, com a uti­li­za­ção das re­cei­tas pre­vi­den­ci­á­rias pe­la Des­vin­cu­la­ção de Re­cei­tas da Uni­ão (DRU), a fim de fe­char o dé­fi­cit fis­cal.

Pa­gou ca­ro, ao co­a­gir os ve­lhi­nhos a to­mar em­prés­ti­mos con­sig­na­dos no va­lor de três fo­lhas men­sais de pa­ga­men­tos de be­ne­fí­ci­os do INSS, uti­li­zan­do apo­sen­ta­do­ri­as e pen­sões co­mo ins­tru­men­to de po­lí­ti­ca fis­cal.

Pa­gou ca­ro, com a cor­ri­da de mais de 1 mi­lhão de bra­si­lei­ros pa­ra pla­nos de pre­vi­dên­cia, o xo­dó do mer­ca­do, em pâ­ni­co con­tra as ame­a­ças re­ais de des­man­che do INSS.

Pa­gou ca­ro, com o Re­fis dos Re­fis, que des­mo­ra­li­zou a Re­cei­ta Fe­de­ral e pre­miou os ca­lo­tei­ros que se ali­men­tam dos Re­fis, com os re­fi­nan­cia­men­tos dos re­fi­nan­cia­men­tos.

Pa­gou ca­ro, com o Re­fis dos ru­ra­is bi­lio­ná­rios do agro­ne­gó­cio, que são ca­lo­tei­ros, e se lo­cu­ple­ta­ram de R$ 22 bi­lhões do INSS/Fun­ru­ral. O agro­ne­gó­cio que le­vou ou­tros R$ 10 bi­lhões de re­nún­cias da con­tri­bui­ção da pre­vi­dên­cia nas ex­por­ta­ções.

Pa­gou ca­ro, com o Re­fis dos Re­fis dos Es­ta­dos e Mu­ni­cí­pios que de­vem qua­se R$ 100 bi­lhões ao INSS.

Pa­gou ca­ro, com o Re­fis dos Re­gi­mes Pró­prios de Pre­vi­dên­cia da Uni­ão, dos Es­ta­dos e dos Mu­ni­cí­pios, RPPS, com rom­bos co­los­sais, sem so­lu­ção pa­ra a rou­ba­lhei­ra do pas­sa­do e do pre­sen­te e a in­cer­te­za do fu­tu­ro.

Pa­gou ca­ro, com o Re­fis das Mi­cro­em­pre­sas, que no Su­per­sim­ples e no MEI -Mi­cro­em­pre­en­de­dor In­di­vi­dual são res­pon­sá­veis pe­las me­gas re­nún­cias e sub­ven­ções pa­tro­nais e dos tra­ba­lha­do­res.

Pa­gou ca­ro, com o Re­fis dos Re­fis das san­tas ca­sas, que não pa­gam a con­tri­bui­ção pa­tro­nal, des­con­tam e não re­co­lhem as con­tri­bui­ções dos tra­ba­lha­do­res.

Pa­gou ca­ro, com o blo­queio do Con­gres­so pa­ra aca­bar com as de­so­ne­ra­ções con­tri­bu­ti­vas, que ao in­vés de se­rem ex­tin­tas, fo­ram am­pli­a­das.

Pa­gou ca­ro, com a ten­ta­ti­va de im­plo­dir o INSS, tem 60 mi­lhões de se­gu­ra­dos con­tri­buin­tes, 27 mi­lhões de be­ne­fi­ciá­rios, 1.500 uni­da­des de aten­di­men­to, 30 mil ser­vi­do­res, con­ce­de mais de 6 mi­lhões de be­ne­fí­ci­os anua­is, é a mai­or se­gu­ra­do­ra da Amé­ri­ca La­ti­na, é res­pon­sá­vel pe­la re­cei­ta de 70% dos mu­ni­cí­pios bra­si­lei­ros e se­gue sen­do o mai­or pro­gra­ma de re­dis­tri­bui­ção de ren­da das Amé­ri­cas.

Na pro­pos­ta de re­for­ma, não há uma li­nha, re­pi­to: uma li­nha, so­bre mu­dan­ça no fi­nan­cia­men­to do INSS, mes­mo sa­ben­do o sr. mi­nis­tro da Fa­zen­da e seu se­cre­tá­rio de Pre­vi­dên­cia que o INSS abriu 2018 com um dé­fi­cit es­tron­do­so de R$ 180 bi­lhões nas con­tas da Pre­vi­dên­cia Ru­ral.

Não há uma li­nha pa­ra re­du­zir, ate­nu­ar, re­sol­ver, equa­cio­nar o dé­fi­cit dos RPPS da Uni­ão, dos Es­ta­dos e Mu­ni­cí­pios. Sa­bem por que? Os mi­li­ta­res que res­pon­dem por 80% do dé­fi­cit não vão pa­gar pre­vi­dên­cia. Mas, a Uni­ão pa­ga a Pre­vi­dên­cia de mi­li­ta­res, pro­fes­so­res e pes­so­al de Sa­ú­de do Dis­tri­to Fe­de­ral e dos an­ti­gos ter­ri­tó­rios.

Não há uma li­nha fi­xan­do dia e ho­ra pa­ra o com­ba­te a so­ne­ga­ção e a eva­são con­tri­bu­ti­va, a fis­ca­li­za­ção e a co­bran­ça da dí­vi­da ad­mi­nis­tra­ti­va (de­cla­ra­tó­ria) da Re­cei­ta Fe­de­ral.

Não há uma li­nha fi­xan­do dia e ho­ra pa­ra que se aca­bem as re­nún­cias, as de­so­ne­ra­ções e Re­fis.

Não há uma li­nha fi­xan­do dia e ho­ra pa­ra que a Pro­cu­ra­do­ria Ge­ral da Fa­zen­da Na­ci­o­nal co­bre a dí­vi­da ati­va de R$ 450 bi­lhões.

O mi­nis­tro do Pla­ne­ja­men­to é usei­ro e ve­zei­ro em uti­li­zar nú­me­ros, pin­ça­dos a de­do, pa­ra dei­xar em si­tu­a­ção cons­tran­ge­do­ra os su­per­sa­lá­ri­os dos su­per­ser­vi­do­res do Exe­cu­ti­vo, do Le­gis­la­ti­vo e do Ju­di­ci­á­rio, es­pe­ci­al­men­te o nú­cleo de car­rei­ras do Es­ta­do.

Ele po­de­ria di­vul­gar tam­bém a re­cei­ta de con­tri­bui­ção pa­tro­nal e dos ser­vi­do­res no pas­sa­do e no pre­sen­te. Des­nu­da­ria o Exe­cu­ti­vo co­mo de­mons­trou o Tri­bu­nal de Con­tas da Uni­ão em inú­me­ros re­la­tó­rios, pro­van­do que a so­ne­ga­ção e a apro­pria­ção in­dé­bi­ta da Uni­ão, em re­la­ção à con­tri­bui­ção pre­vi­den­ci­á­ria. Só um exem­plo: quan­do foi cri­a­do o Re­gi­me Ju­rí­di­co Úni­co, a Uni­ão re­ce­beu 650mil ser­vi­do­res ce­le­tis­tas que pas­sa­ram a es­ta­tu­tá­rios e que con­tri­bu­í­am pa­ra o INSS. O que fi­ze­ram com o pa­tri­mô­nio do Ipase e os pro­gra­mas de pre­vi­dên­cia do Es­ta­do que o su­ce­de­ram?

O fu­tu­ro pre­si­den­te da Re­pú­bli­ca de­ve­rá fa­zer uma re­for­ma da Pre­vi­dên­cia de olho no fu­tu­ro do pa­ís, dos se­gu­ra­dos con­tri­buin­tes e dos be­ne­fi­ciá­rios, com ida­de mí­ni­ma e de olho na bo­lha de­mo­grá­fi­ca, e não nos ga­nhos do mer­ca­do e da es­pe­cu­la­ção fi­nan­cei­ra. A fun­ção da Pre­vi­dên­cia não é fa­zer po­lí­ti­ca fis­cal nem po­lí­ti­ca as­sis­ten­ci­al, mas de ofe­re­cer se­gu­ran­ça aos que con­tri­bu­í­ram pa­ra se apo­sen­tar e pa­ra dei­xar uma pen­são pa­ra seus de­pen­den­tes.

(Pau­lo Cé­sar Ré­gis de Sou­za, vi­ce-pre­si­den­te exe­cu­ti­vo da As­so­cia­ção Na­ci­o­nal dos Ser­vi­do­res Pú­bli­cos, da Pre­vi­dên­cia e da Se­gu­ri­da­de So­ci­al - Anasps)

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