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OPINIÃO

Perspectivas sombrias

Fa­to in­fe­liz­men­te ca­rac­te­rís­ti­co da po­lí­ti­ca bra­si­lei­ra é a elei­ção de can­di­da­tos des­ti­tu­í­dos de mí­ni­mo me­re­ci­men­to. Mui­tos dos elei­tos não me­re­ci­am se­quer o re­gis­tro de su­as can­di­da­tu­ras.

Con­si­de­rá­vel nú­me­ro de elei­to­res bra­si­lei­ros se dei­xa le­var pe­la de­ma­go­gia, pe­la mas­si­fi­ca­ção, pe­lo en­go­do, pe­la ação do po­der eco­nô­mi­co.

No pla­no na­ci­o­nal a pi­or con­se­quên­cia do des­pre­pa­ro e da in­con­sci­ên­cia po­lí­ti­ca de enor­mes par­ce­las do elei­to­ra­do foi a elei­ção de Jâ­nio Qua­dros em 1960. Ele já ha­via da­do pro­vas de de­se­qui­lí­brio quan­do pre­fei­to da ca­pi­tal pau­lis­ta e go­ver­na­dor de São Pau­lo. Po­rém, mui­tos ve­í­cu­los da mí­dia o pro­mo­ve­ram de tal for­ma que ele veio a ga­nhar a elei­ção pre­si­den­ci­al com o do­bro de vo­tos do ma­re­chal Hen­ri­que Duf­fles Tei­xei­ra Lott, o mi­nis­tro da Guer­ra que evi­tou um gol­pe de Es­ta­do as­se­gu­ran­do a pos­se de Jus­ce­li­no Ku­bitschek em 1955. Jâ­nio Qua­dros de­cep­cio­nou a to­dos, pois após ape­nas se­te mes­es de go­ver­no re­nun­ciou sem a me­nor jus­ti­fi­ca­ti­va. Co­me­ça­ram aí as prin­ci­pa­is cri­ses po­lí­ti­cas bra­si­lei­ras. A pos­se do vi­ce-pre­si­den­te Jo­ão Gou­lart re­ce­beu ve­to dos três mi­nis­tros mi­li­ta­res e so­men­te foi pos­sí­vel por uma ne­go­ci­a­ção po­lí­ti­ca que cul­mi­nou com a ado­ção do sis­te­ma par­la­men­ta­ris­ta, no ano se­guin­te ob­je­to de aban­do­no em fa­vor ou­tra vez do pre­si­den­ci­a­lis­mo. Em mar­ço – abril de 1964 Jan­go foi de­pos­to e o Bra­sil vi­veu 20 anos sem elei­ção pa­ra pre­si­den­te da Re­pú­bli­ca, amar­gan­do di­ta­du­ras mi­li­ta­res de tris­te me­mó­ria.

Re­to­ma­do o pro­ces­so de­mo­crá­ti­co ocor­re ou­tro gran­de er­ro do elei­tor bra­si­lei­ro: ele­ge Fer­nan­do Col­lor de Mel­lo, au­re­o­la­do pe­la fa­ma de “ca­ça­dor de ma­ra­jás”, mas que foi tre­men­da de­cep­ção e por is­so der­ru­ba­do por meio de im­pe­achment.

Quan­do se pen­sa­va que a de­mo­cra­cia bra­si­lei­ra ga­nha­va ru­mos de­fi­ni­ti­vos de afir­ma­ção veio o gol­pe ci­vil de 2016, que co­lo­cou o Bra­sil à mer­cê das de­ci­sões de tre­zen­tos e tan­tos de­pu­ta­dos fe­de­ra­is des­pre­pa­ra­dos e cor­rup­tos e al­gu­mas de­ze­nas de se­na­do­res com idên­ti­cos es­tig­mas.

Ago­ra se acham di­an­te do elei­tor bra­si­lei­ro as pers­pec­ti­vas de mais uma elei­ção pre­si­den­ci­al e ve­jam os lei­to­res quem es­tá à fren­te das pes­qui­sas elei­to­ra­is: o ul­tra per­se­gui­do ex-pre­si­den­te Lu­iz Iná­cio Lu­la da Sil­va re­ce­ben­do um per­cen­tu­al (40%) de in­ten­ções de vo­to que lhe as­se­gu­ram vi­tó­ria já no pri­mei­ro tur­no. Is­to de um la­do por­que do ou­tro apa­re­ce Ja­ir Bol­so­na­ro, me­dí­o­cre de­pu­ta­do que no dia da vo­ta­ção do Im­pe­achment de Dil­ma Rous­seff fa­zia ques­tão de se mos­trar di­an­te das câ­me­ras de te­le­vi­são mi­mi­ca­men­te a ma­no­brar um fu­zil.

Se­rá que os mais de 60 mi­lhões de elei­to­res que ma­ni­fes­tam o seu vo­to pa­ra Lu­la não es­tão a ver que o prin­ci­pal ob­je­ti­vo do gol­pe ci­vil 2016 foi o de evi­tar a vol­ta de Lu­la ao Pa­lá­cio da Al­vo­ra­da em 2018? E es­ses trin­ta e tan­tos mi­lhões que se apre­sen­tam co­mo elei­to­res de Ja­ir Bol­so­na­ro não ve­em que se tra­ta de um an­ti­de­mo­cra­ta gol­pis­ta des­pre­pa­ra­do, um acin­te ao bom sen­so?

Não se ve­em bo­as pers­pec­ti­vas pa­ra o pro­ces­so elei­to­ral bra­si­lei­ro. Nos­sa de­mo­cra­cia so­freu uma tal der­ro­ca­da que to­dos quan­tos te­nham con­sci­ên­cia po­lí­ti­ca e co­nhe­ci­men­to his­tó­ri­co não vis­lum­bram se não re­tro­ces­so.

(Eu­ri­co Bar­bo­sa, es­cri­tor, mem­bro da AGL e da As­so­cia­ção Na­ci­o­nal de Es­cri­to­res, ad­vo­ga­do, jor­na­lis­ta e es­cre­ve nes­te jor­nal às quar­tas & sex­tas-fei­ras – E-mail: eu­ri­co_bar­bo­sa@hot­mail.com)

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