Foi um susto “Categoria 2”. Nem chegou a matar. Tudo porque tenho uma amiga e um irmã que tem o mesmo nome: “Ana Maria”. Homônimos se prestam a inevitáveis confusões.
Pois saiba que os sustos constituem, a par com os furacões, uma daquelas intensidades medida em categorias. Tal qual se faz na escala chamada Saffir-Simpson. Afinal, creio fervorosamente que, como os tufões, os sustos vascolejam a gente, em maior ou menor grau, conforme o calibre da pressão aí dentro do peito. Tão mais intensa a pancada quanto mais apanha a gente de surpresa, fazendo o coração galopar aos pinotes. Quem me lê sequer pode imaginar a gama de efeitos que uma descarga de adrenalina desencadeia. São as acelerações cardíacas, as altas pressões arteriais, as tremedeiras, os olhos arregalados e mais quejandos. Foi o que sucedeu naquela tarde. Cumpria meu expediente na repartição, quando o telefone toca. A ligação era pra mim. Atendo e uma voz afogada em lágrimas diz: “Pedro, aqui é a Ana Maria. Escuta: meu pai morreu”. Era, na realidade, uma amiga e colega da Faculdade de Direito, Ana Maria Curado Barbosa, comunicando a morte de seu pai, Seu Expedito Barbosa. Mas, naquele instante, aquela voz embargada parecia irreconhecível. Presumi logo se tratasse de minha irmã caçula. Se ao menos a minha interlocutora tivesse acrescentado o sobrenome “Curado Barbosa” ao prenome, quando falou, a baralhada se desfaria logo. Mas não, limitou-se a dizer simplesmente “aqui é a Ana Maria”. Ainda mais com aquela voz tolhida, amargurada, que parecia emanar dos páramos angustiados da alma; nem São Jorge lograria identificar quem era o dono de fato daquela entonação travada. Me parecendo a mim mais o rumor emocionado e aflito de minha irmã mesmo que o de sua xará. Calcado de emoção e pranto. De sorte que a embrulhada se instalou de vez e fez das suas. Ante aquele “Escuta: papai faleceu”, enregelei tremendo e prestes a desfalecer. O pulso descompassado e o peito arfante.
Quedo. Mal consegui gaguejar: “meu pai?!” Foi então que a minha amiga de faculdade, quando ouviu que eu dissera “meu pai?!”, se deu conta que eu laborava em erro. E tratou de desfazer o mal-entendido: “Pedro, aqui não é a Ana Maria sua irmã, não. Quem fala é a Ana Maria Curado Barbosa. Compreendeu?”.
Fui ao cemitério e minha pobre amiga, Ana Maria, além de penar seu último adeus ao pai, ainda se sentiu impelida a me pedir desculpas pelo susto. Contingências da vida.
(Pedro Nolasco de Araujo. Mestre em Gestão do Patrimônio Cultural, advogado, Especialização em Direito Constitucional, Sócio Titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, Sócio-Correspondente da Academia Belavistense de Letras, Artes e Ciências, diplomado pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra)