Se há um setor da Rede Globo que representa o padrão de qualidade dessa emissora carioca este é o jornalismo. Nessa área, a emissora dos Marinho é, simplesmente, imbatível. Quem não for muito bom não resiste ao elevado ambiente profissional do jornalismo da Globo.
No time dos muito bons, destaca-se um profissional que, podemos dizer, é completo ? seja na reportagem, seja por seu texto impecável, seja na apresentação de telejornais, seja na condução de debates com intelectuais de elevado status ?, como é o caso do programa "Painel", editado e conduzido por este profissional, todos os sábados, na emissora do saudoso Roberto Marinho.
O "Programa Painel" impõe ao condutor habilidades diferenciadas ante o status dos convidados. Entre essas, interpretar raciocínios elaborados para um público mais amplo exige do profissional de imprensa duas habilidades fundamentais: vasta cultura e amplo conhecimento da conjuntura internacional. Além disso, é fundamental que o condutor desse programa tenha sua própria visão do mundo para intervir quando necessário no sentido de esfriar complexos raciocínios dos participantes que, geralmente, falam com as estrelas. Pois bem. O jornalista William Waack tem essas habilidades e, por essa razão, é a excelência no time dos muito bons jornalistas da Rede Globo.
Apesar de todas essas credenciais, a Globo, enquanto empresa, decidiu rifar seu mais importante jornalista perante o fato de ele ter feito um comentário, em off, ao seu colega Paulo Sotero. “É coisa de preto”, teria dito Waack ao irritar-se com uma buzina que soava na rua, quando da entrevista por ele conduzida, na cobertura das eleições norte-americanas do ano passado.
Vazado o comentário nas redes sociais, William Waack foi acusado de racista. E racismo é algo que mancharia a imagem institucional da Rede Globo, que tem nos clientes telespectadores e nos patrocinadores a razão de sua existência. Enquanto empresa, pesou a relação custo-benefício que resultou no afastamento de seu mais importante jornalista.
Quem conhece os bastidores da vênus platinada sabe que o editor de "Painel" tem lá seus desafetos dentro da emissora. Certamente, quem esperou um ano para vazar nas redes sociais esse inapropriado comentário está entre esses desafetos.
Sinceramente, espero que William Waack saia dessa. Homem de reflexão como é tem condições de dar a volta por cima. Não lhe faltará emprego ante as inegáveis credenciais profissionais que possui.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético, autor, entre outras obras, de Cheiro de Biblioteca)