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OPINIÃO

Cadeia para quem não precisa de cadeia

Fo­ram di­vul­ga­dos re­cen­te­men­te os no­vos nú­me­ros so­bre a po­pu­la­ção car­ce­rá­ria no Bra­sil. Um tra­ba­lho em par­ce­ria do Mi­nis­té­rio da Jus­ti­ça atra­vés do Le­van­ta­men­to Na­ci­o­nal de In­for­ma­ções Pe­ni­ten­ci­á­rias (In­fo­pen) e do Fó­rum Bra­si­lei­ro de Se­gu­ran­ça Pú­bli­ca.

O Bra­sil su­pe­rou a Rús­sia e che­gou à de­son­ro­sa po­si­ção de ter­cei­ro lu­gar do mun­do em nú­me­ro de pre­sos. Nes­sa com­pe­ti­ção fu­nes­ta, atu­al­men­te, te­mos o do­bro do nú­me­ro de pre­sos em re­la­ção ao nú­me­ro de va­gas que o sis­te­ma com­por­ta. A aná­li­se des­ses nú­me­ros de­mons­tra que te­mos, em ple­no vi­gor, uma po­lí­ti­ca de en­car­ce­ra­men­to em mas­sa e o re­sul­ta­do dis­so é a pro­va ca­bal de um sis­te­ma pe­nal fa­li­do.

É a ru­í­na do di­rei­to pe­nal e a im­plan­ta­ção na pra­ti­ca de di­rei­to cri­mi­nal, ten­do co­mo co­ro­lá­rio um qua­dro de fa­lên­cia por in­com­pe­tên­cia das po­lí­ti­cas de se­gu­ran­ça pú­bli­ca. As­sim, se tor­na uma fa­lá­cia ab­so­lu­ta afir­mar que o sis­te­ma pe­nal cum­pre com as prer­ro­ga­ti­vas da Lei de Exe­cu­ções Pe­nais de res­so­ci­a­li­zar o ape­na­do. Ho­je, as pe­ni­ten­ci­á­rias se trans­for­ma­ram em uni­ver­si­da­des do cri­me.

Além dis­so, a pre­mis­sa de se­pa­ra­ção das ca­dei­as por gra­da­ção dos cri­mes foi sub­sti­tu­í­da pe­la alo­ca­ção do ape­na­do, alo­ca­do por fac­ções nos pre­sí­di­os. Es­sa cli­va­gem vi­sa pro­te­ger o pre­so pa­ra que as­sim ha­ja ga­ran­tia da vi­da de­le, evi­tan­do com que os go­ver­nos te­nham de ar­car com as in­de­ni­za­ções de­cor­ren­tes da mor­te, ca­so es­sa se­pa­ra­ção não fos­se fei­ta.

No con­tex­to da agu­da cri­se o Bra­sil vi­ve e que se es­pa­lha por to­dos os seus qua­dran­tes, a so­ci­e­da­de se em­bru­te­ce e aca­ba ven­do e vi­bran­do com ca­da pri­são, co­mo se es­sa pu­des­se ser o bál­sa­mo que ate­nu­a­ria o efei­to da cri­se eco­nô­mi­ca e o au­men­to da cri­mi­na­li­da­de.

Por fim, o me­do se tor­na o com­bus­tí­vel per­fei­to, pa­ra que se fa­ça co­mo diz o so­ci­ó­lo­go L Wac­qant: ins­ta­la-se a ges­tão pe­nal da po­bre­za. E as­sim con­tra­ri­an­do o ver­so da can­ção, pa­ro­dia­da: ca­deia pa­ra quem não pre­ci­sa de ca­deia!

(Newton de Oli­vei­ra, pro­fes­sor de di­rei­to da Fa­cul­da­de Pres­bi­te­ri­a­na Macken­zie Rio e ex-sub­se­cre­tá­rio-ge­ral de se­gu­ran­ça do Rio de Ja­nei­ro)

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