Não estou falando sobre os milhares de cães que vivem soltos e abandonados nas ruas das cidades. Embora essa população de animal de estimação, considerado amigo fiel do homem, seja digna de maior proteção e do apoio da sociedade. Quero falar do ser humano que também vive abandonado nas ruas e entregue à própria sorte. No domingo passado, mais ou menos às 22h00, ao voltar da Primeira Igreja Batista em Goiânia, pelo centro da cidade, em cada cruzamento que parei, fui logo abordado por uma ou mais pessoas mal vestidas, com aspectos de abandono e de idades diferenciadas. Nas abordagens, o assunto foi sempre o mesmo, pedindo dinheiro para se alimentarem. Ao abrir o vidro do carro, para o primeiro que me abordou, resolvi dar- lhe uma pequena importância em dinheiro. Para os outros, que também me abordaram, nos demais cruzamentos, nem se quer atendi, com receio de ser agredido, pois já presenciei atos dessa natureza, em represália a negativa de ajuda. Diante daquele quadro, resolvi dar um giro por outras ruas do centro e constatei aquilo que todo mundo já sabe, centenas de pessoas abandonadas morando nas ruas, vivendo do que pedem e dormindo nos mocós, sob as marquises dos prédios e, as vezes, até sob os viadutos.
Ao sair do centro, a caminho da minha casa, no jardim Goiás, passei a refletir sobre aquela situação, como chegou àquele ponto e de que forma a sociedade e as autoridades estão vendo essa triste realidade. Como conheço bem Goiânia, com as suas belezas e mazelas, não tenho nenhuma dúvida de que toda a população conhece o problema, e que pouco tem sido feito pelo governo e pela a sociedade para mudar. Com poucas exceções, a população que vive e dorme nas calçadas, antes de constranger a vida de quem quer que seja, é uma grande vítima do próprio meio onde vive. Essas pessoas não moram nas ruas por opção, exceto as mal intencionadas, elas são vítimas do abandono social, das drogas e das bebidas alcoólicas. Essa gente precisa ser tratada pelas autoridades com mais respeito e espírito humanitário. Todos têm o direito de ir e vir, dia e noite, pelas ruas da cidade, mas ninguém pode fazer dos logradouros públicos a sua morada.
Sempre que este assunto vem à discussão, logo entra em campo o time dos hipócritas e dos "defensores" dos direitos humanos, para dizerem que esse pessoal não pode ser retirado das ruas, com a alegação do direito de ir e vir, afim de evitar que sejam retirados e acolhidos nos abrigos da prefeitura. Por conta desses falsos protetores, que preferem ver a desgraça dos outros, o poder público tem tido dificuldade para acolher e encaminhar os moradores de ruas à lugares descentes. A permanência desse pessoal nas ruas, alimenta a promiscuidade, facilita a prostituição, o desvio de condutas, a prática de atos ilícitos e se tornam presas fáceis nas mãos dos traficantes. Gostaria muito de ver a sociedade e o poder público se reunirem e buscarem uma solução para esses brasileiros que vivem em situação desumana e degradante. Termino dizendo, chega de faz de conta, de empurrar com a barriga e jogar a culpa nos outros, a culpa é de todos nós, é da sociedade e do governo. Vamos salvar os nossos irmãos.
(Gercy Joaquim Camêlo. Coronel da Reserva Remunerada da Polícia Militar de Goiás)