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OPINIÃO

A justiça castrense da Lei Nº 13.491/2017, que altera o código penal militar

A Lei 13.491/2017, re­cen­te­men­te pu­bli­ca­da, traz con­si­go du­as gran­des al­te­ra­ções: cri­mes mi­li­ta­res po­de­rão ser pre­vis­tos na le­gis­la­ção pe­nal co­mum (o con­cei­to de cri­me mi­li­tar pas­sa a ser mais am­plo) e cri­mes do­lo­sos con­tra a vi­da pra­ti­ca­dos por mi­li­ta­res con­tra ci­vil se­rão de com­pe­tên­cia da jus­ti­ça mi­li­tar.

Com vi­gên­cia ime­di­a­ta, ine­xis­tên­cia da va­ca­cio le­gis (art. 3º), a lei mo­di­fi­ca o Có­di­go Pe­nal Mi­li­tar (CPM) pa­ra re­de­fi­nir cer­tos cri­mes mi­li­ta­res e am­pli­ar a com­pe­tên­cia da Jus­ti­ça Mi­li­tar dos Es­ta­dos e da Jus­ti­ça Mi­li­tar da Uni­ão. A lei apli­ca-se aos in­qué­ri­tos e às ações pe­nais em cur­so, bem co­mo à no­va de­fi­ni­ção de cri­mes mi­li­ta­res.

Nes­se sen­ti­do, o art. 9º do CPM são con­cei­tu­a­dos os cri­mes mi­li­ta­res em tem­po de paz e no art. 10 do CPM es­tão des­cri­tos os cri­mes mi­li­ta­res em tem­po de guer­ra. Em uma aná­li­se su­cin­ta, ao ve­ri­fi­car se o fa­to po­de ser con­si­de­ra­do cri­me cas­tren­se, sen­do, por­tan­to, de com­pe­tên­cia da Jus­ti­ça Mi­li­tar, é pre­ci­so que ele se amol­de em uma das hi­pó­tes­es pre­vis­tas nos arts. 9º e 10 do CPM.

A al­te­ra­ção pro­mo­vi­da pe­la Lei nº 13.491/2017 foi no art. 9º é as­sim tran­scri­ta: Art. 1º: O art. 9º do De­cre­to-Lei no 1.001, de 21 de ou­tu­bro de 1969 - Có­di­go Pe­nal Mi­li­tar, pas­sa a vi­go­rar com as se­guin­tes al­te­ra­ções: II – os cri­mes pre­vis­tos nes­te Có­di­go e os pre­vis­tos na le­gis­la­ção pe­nal, quan­do pra­ti­ca­dos:

  • 1º Os cri­mes de que tra­ta es­te ar­ti­go, quan­do do­lo­sos con­tra a vi­da e co­me­ti­dos por mi­li­ta­res con­tra ci­vil, se­rão da com­pe­tên­cia do Tri­bu­nal do Jú­ri.
  • 2º Os cri­mes de que tra­ta es­te ar­ti­go, quan­do do­lo­sos con­tra a vi­da e co­me­ti­dos por mi­li­ta­res das For­ças Ar­ma­das con­tra ci­vil, se­rão da com­pe­tên­cia da Jus­ti­ça Mi­li­tar da Uni­ão, se pra­ti­ca­dos no con­tex­to:


I – do cum­pri­men­to de atri­bu­i­ções que lhes fo­rem es­ta­be­le­ci­das pe­lo Pre­si­den­te da Re­pú­bli­ca ou pe­lo Mi­nis­tro de Es­ta­do da De­fe­sa;

II – de ação que en­vol­va a se­gu­ran­ça de ins­ti­tu­i­ção mi­li­tar ou de mis­são mi­li­tar, mes­mo que não be­li­ge­ran­te; ou

III – de ati­vi­da­de de na­tu­re­za mi­li­tar, de ope­ra­ção de paz, de ga­ran­tia da lei e da or­dem ou de atri­bu­i­ção sub­si­di­á­ria, re­a­li­za­das em con­for­mi­da­de com o dis­pos­to no art. 142 da Cons­ti­tu­i­ção Fe­de­ral e na for­ma dos se­guin­tes di­plo­mas le­gais:

  1. a) Lei no 7.565, de 19 de de­zem­bro de 1986 - Có­di­go Bra­si­lei­ro de Ae­ro­náu­ti­ca;
  2. b) Lei Com­ple­men­tar nº 97, de 9 de ju­nho de 1999;
  3. c) De­cre­to-Lei no 1.002, de 21 de ou­tu­bro de 1969 - Có­di­go de Pro­ces­so Pe­nal Mi­li­tar; e
  4. d) Lei no 4.737, de 15 de ju­lho de 1965 - Có­di­go Elei­to­ral. ” (NR)


Nes­se sen­ti­do, a con­du­ta pra­ti­ca­da pe­lo agen­te, pa­ra ser cri­me mi­li­tar com ba­se no in­ci­so II do art. 9º, po­de es­tar pre­vis­ta no Có­di­go Pe­nal Mi­li­tar ou na le­gis­la­ção pe­nal co­mum, sen­do com­pe­ten­te pa­ra o jul­ga­men­to da ação a jus­ti­ça mi­li­tar e em ra­ti­o­ne per­so­nae.

As­sim, to­do e qual­quer cri­me pra­ti­ca­do por mi­li­tar em ser­vi­ço ou no exer­cí­cio da fun­ção (con­for­me des­cri­ção das alí­neas a a e do dis­po­si­ti­vo) se­rá jul­ga­do pe­la Jus­ti­ça Cas­tren­se, ain­da que a con­du­ta cri­mi­no­sa não es­te­ja ti­pi­fi­ca­da no Có­di­go Pe­nal Mi­li­tar, cri­mes co­mo o abu­so de au­to­ri­da­de (Lei 4.898/65) e a tor­tu­ra (Lei 9.455/97), por exem­plo, de­ve­rão ser jul­ga­dos pe­la Jus­ti­ça Mi­li­tar.

Quan­to aos cri­mes do­lo­sos con­tra a vi­da pra­ti­ca­dos por mi­li­tar con­tra ci­vil con­ti­nuam sen­do jul­ga­dos pe­la Jus­ti­ça co­mum (Tri­bu­nal do Jú­ri). Is­so com ba­se no no­vo § 1º do art. 9º do CPM.

A ino­va­ção da pre­sen­te lei fe­de­ral, vem com o in­tui­to de pro­por­ci­o­nar se­gu­ran­ça ju­rí­di­ca, vez que, a in­ci­dên­cia de cri­mes do­lo­sos con­tra a vi­da (ci­vil x mi­li­tar), se­rão jul­ga­dos por um ju­iz que co­nhe­ce as pe­cu­li­a­ri­da­des e as en­tre­li­nhas do dia a dia cas­tren­se.

A po­lê­mi­ca di­an­te da lei se­rá ine­vi­tá­vel, uns irão de­fen­der ou­tros irão le­van­tar ir­re­gu­la­ri­da­des, den­tre elas o te­mi­do cor­po­ra­ti­vis­mo den­tro das ins­ti­tu­i­ções. É ne­ces­sá­rio tem­po, pa­ra a efe­ti­va apli­ca­bi­li­da­de da nor­ma.

Im­por­tan­te sa­li­en­tar que a im­ple­men­ta­ção da lei, é sem dú­vi­da uma con­quis­ta aos an­sei­os dos mi­li­ta­res no que tan­ge a re­al apli­ca­bi­li­da­de da lei e fa­zer jus­ti­ça no dia a dia das ações, uma con­quis­ta no sen­ti­do de atu­a­li­za­ção do Có­di­go Pe­nal Mi­li­tar.

(Lo­re­na Ayres, ad­vo­ga­da, es­pe­cia­lis­ta em di­rei­to pú­bli­co e cri­mi­nal (pre­si­den­te da co­mis­são de di­rei­tos hu­ma­nos da Abra­crim-GO, vi­ce-pre­si­den­te da co­mis­são de di­rei­to cri­mi­nal e po­lí­ti­cas pú­bli­cas OAB/GO sub­se­ção Apa­re­ci­da de Go­i­â­nia), ar­ti­cu­lis­ta e co­men­da­do­ra)

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