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OPINIÃO

Terrível fatalidade

“O homem é um animal político”, já dizia Aristóteles. Político, pois ele se relaciona com os demais. Claro, o homem, não a mulher. A mulher, um ser inferior, que existe apenas para suprir as necessidades masculinas e ser submissa, certo? Um ser estúpido, que nunca saberia governar – afinal, administrar o lar não é uma forma, mesmo que limitada, de governo, certo? Errado! Mulher também é um animal político, sim. Mulher também é capaz de se relacionar – e muito bem – com os demais. Todavia, o Brasil ainda não descobriu isso, já que, infelizmente, a representatividade feminina da mulher brasileira permanece associada ao lar e à cozinha.

A mulher também é um animal político, sim, porém ainda não está inserida na política brasileira. Basta constatar, pela própria propaganda do TSE, que os homens ocupam 91% dos cargos políticos, embora não atinjam 50% da população do país. Eles votam em assuntos de cunho feminino como se compreendessem profundamente o assunto – a questão do aborto, por exemplo. Assim, a brasileira, sem voz nem representatividade, é obrigada a acatar as decisões dos supostos “entendedores” sobre o corpo dela, e continua morrendo, a cada dois dias, vítima de um procedimento de aborto mal realizado.

A falta de representatividade feminina no Brasil está intimamente relacionada à cultura machista e patriarcal do país, que ainda vê na cozinha o lugar da mulher. O discurso de Michel Temer no Dia Internacional da Mulher comprova tal mentalidade. Para o presidente – e, junto a ele, boa parte dos brasileiros –, a mulher participa bastante da economia, mas não porque conseguiu se inserir no mercado de trabalho, por exemplo, e sim porque faz as compras do supermercado. Além de excluir a participação do homem nas tarefas domésticas, tal pronunciamento restringiu, mais uma vez, a mulher ao ambiente domiciliar – e acabou “justificando”, por exemplo, o fato de o Ministério da Fazenda jamais ter sido comandado por uma mulher. É que, de novo, seria um fardo grande demais para quem já está encarregada de seu papel econômico no supermercado.

Por sorte, o feminismo está aí para promover a igualdade de gêneros e, consequentemente, a igualdade na representatividade desses gêneros. Ainda há um longo caminho a ser trilhado, porém – e felizmente – a mulher brasileira já pode se dar ao luxo de comemorar algumas vitórias. Afinal, ela conquistou o direito ao voto em 1932, sendo reconhecida como cidadã – coisa que era inconcebível na Grécia de Aristóteles. Talvez seja por isso que ele considerava o homem um animal político, se esquecendo, por uma terrível fatalidade, de incluir a mulher nessa concepção.

(Carol Soares, 17 anos, estudante e autora do livro 17 Horas)

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