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OPINIÃO

Passou a chuva

Rio Verde, 5h34min, domingo, 29 maio 2016. A cidade dorme. Carolina, a vila onde moro desde que me transferiram, em 1973, para esta urbe altaneira, tem sono pesado. Rara a noite que durmo até o sol ressurgir. Hoje, diferente não foi. No relógio da cabeceira olhos fixei. Três horas. Ouvi trovão, logo outro, mais um e a seguir a chuva, preguiçosamente, sem força, desceu. Mal o fez, despediu-se, com mais vigor; mas sem muito vigor retornou. E eu cochilava e sonhava. Sonhava que livros meus eram vendidos nas livrarias, se não além do Paranaíba, pelo menos Goiás afora, inclusive na Capital. Desejei deixar o leito, sem qualquer barulho para não despertar minha amada, e me sentar diante do computador, na “Biblioteca Onze Corações”, e escrever um conto, e escrever uma crônica. Escrever crônicas, algum conto, algum ensaio é minha paixão.

Será que um dia alguma editora se interessará pelos meus escritos voltados para a memória do Sudoeste, especialmente Rio Verde, Jataí e Mineiros?  Talvez eu seja mero escrevinhador de província indigno de ocupar posições mais altas. Quase 20 livros pari e muitos os exemplares guardados na referida biblioteca cujo nome (citado linhas acima) lembra o lar que que minha esposa, senhora Ilsa, e eu constituímos. Somos onze: nós dois, dois filhos e uma filha; genro e duas noras,  duas netas e um neto. O saudoso governador Mauro Borges, que nos últimos dez anos de sua vida tão profícua, estendeu-me a sua destra amiga, sugeriu-me elaborar um romance histórico. Respondi que aprecio romance, mas me sinto despreparado para essa seara. Considero-me memorialista e cronista concentrado na região onde nasci e onde deixarei os ossos.

Liderei a fundação da “Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios” e do “Instituto Histórico e Geográfico de Rio Verde”. Este se acha inerte porque o poder público não nos concedeu imóvel para hospedá-lo e a iniciativa particular não se interessou. Oxalá, o próximo prefeito se volte para este sodalício. Eu pensava que a labuta cultural fosse mais custosa nas cidades interioranas, mas depois que a extinção da pasta pertinente encontrou apoiadores...

“Vaidade, vaidade, tudo é vaidade”, é o que se lê em Eclesiastes. Não fosse ela, menor seria a inspiração dos homens. Inspiração sem vaidade é possível?  É possível a arte sem inspiração?

Quase 72 janeiros e ainda carrego Parkinson. Poucas léguas do Jordão me encontro. Caso o atravesse sem materializar meu sonho, levarei a certeza de que meu acerco (hemeroteca, diários, relíquias) e o que escrevi serão instrumentos de pesquisa (meus familiares bem administrarão esse pobre legado).

Termino lembrando que, antes de acordar, sonhara com o ex-deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa, Luziano Ferreira de Carvalho, prefeito jataiense de 31.1.1955 a 31.1.1959. No sonho, ele se fazia acompanhar do seu irmão Ariovaldo e de um outro irmão que não o Francisco, o Chico Tomaz, como era conhecido Francisco Ferreira de Carvalho. Chico e Ariovaldo, falecidos, falecida a dona Almira, irmã deles. Todos moravam em um só quarteirão da  Benjamim Constant – pelo que me consta, ainda o faz Luziano – perto da casa dos meus pais onde fui criado a partir dos seis anos de idade.

(Filadelfo Borges de Lima, natural de Jataí, reside em Rio Verde. Autor de vários livros, curso superior incompleto, membro da Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios, maçom 33, aposentado no Fisco estadual)

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