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Brasil-Argentina: nova agenda

SÃO PAULO – Com a ascensão na Argentina de um governo mais aberto e menos propenso a medidas restritivas e o fim no Brasil de um período de 13 anos em que a política de comércio exterior esteve influenciada por um viés ideológico, os dois países têm, a partir de agora, a oportunidade de estabelecer uma agenda que possa promover maior número de negócios, com o fortalecimento do Mercosul. Se acompanhada pela assinatura de um possível acordo de livre-comércio com o México, já há algum tempo em discussão, essa nova agenda, com certeza, irá contribuir decisivamente para uma recuperação mais consistente do comércio exterior brasileiro, atenuando a crise no mercado interno, como defende a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

É de se destacar que, hoje, a Argentina é o quarto provedor do Brasil, atrás apenas de Estados Unidos, China e Alemanha, e o terceiro comprador. Mas o intercâmbio bilateral tem decaído nos últimos tempos. Segundo a consultoria argentina Abeceb, de janeiro a maio de 2016, a Argentina importou do nosso país mais 7,7%, mas exportou 17,4% menos, como resultado do fato de o Brasil ter comprado 30% menos do exterior. O forte crescimento das importações argentinas do Brasil, combinado com a queda das vendas para o mercado brasileiro, resultou no déficit mensal mais alto desde fins de 2013. Com um déficit acumulado de US$ 1,8 bilhão, o resultado comercial negativo praticamente triplica aquele registrado em igual período do ano anterior (US$ 685 milhões)

Esse déficit tem deixado claro para as autoridades argentinas a necessidade de a política comercial com o Brasil passar por algumas reformas a fim de que os dois países possam ganhar competitividade em uma economia global em que a inovação domina o cenário. Portanto, como defendeu recentemente o embaixador argentino em Brasília, Carlos Magariños, Brasil e Argentina precisam trabalhar em uma agenda ambiciosa de facilitação de comércio e convergência regulatória e destravar regulamentações que impedem o fluxo normal de comércio e de investimentos.

Como se depreende do posicionamento do embaixador argentino, aparentemente, os dois países já perceberam que deverão ganhar mais se se unirem para encontrar maior espaço no comércio internacional e atrair mais investimentos externos, o que implica um novo direcionamento no Mercosul, a partir da assinatura de um acordo amplo com a União Europeia, cujas tratativas se arrastam desde 1999, além da definição de uma agenda de negociações com os Estados Unidos que preveja a recuperação do mercado perdido no território norte-americano pelos produtos brasileiros nos últimos 13 anos. Sem deixar de buscar maior integração do Mercosul com os países da Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile e Colômbia).

(Milton Lourenço, presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br)

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