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OPINIÃO

A autofagia do PT e do PMDB (II)

A autodestruição do PMDB, paulatina, crescente, como demonstrado no artigo de anteontem, se explica pela presença em suas fileiras de inautênticos, oportunistas, fisiológicos, adesistas, infeliz e secularmente majoritária na política brasileira.

A mística de agremiação aglutinadora de correntes oposicionistas foi construída a partir do retumbante êxito eleitoral ocorrido nas eleições de senador em 1974. O MDB – Movimento Democrático Brasileiro fora criado em 1966. Era o único partido da oposição. O regime militar, à época presidido pelo marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, havia dissolvido, por meio do Ato Institucional n° II, todos partidos políticos. E permitiu a existência de apenas dois – um representativo da situação, o outro, obviamente, da oposição. O primeiro se denominou Aliança Renovadora Nacional (Arena), o segundo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que o povo batizou de Manda Brasa.

Nas primeiras eleições realizadas no bipartidarismo, em razão do totalitarismo que asfixiava não apenas os políticos como também toda a imprensa – a ponto de O Estado de São Paulo se apresentar com vários espaços em branco e muitas vezes com versos de Camões para evidenciar a censura – os resultados eleitorais para o MDB foram totalmente adversos, quase nulos. Basta dizer, a fim de exemplificar, que em Goiás a Arena ficou com as três vagas de senador. Uma para o sr. Benedito Vicente Ferreira, conhecido por Benedito Boa Sorte, que ganhou a senatoria biônica, isto é, aquela que a ditadura instituíra como objeto de sua própria nomeação. O regime militar ficou, destarte, com um terço já assegurado para ele próprio, com tal bionicidade. Os dois outros senadores arenistas foram os srs. Osires Teixeira e Emival Caiado. O mandato deste era de apenas quatro anos, dos outros dois de oito. Frise-se que os três candidatos do MDB eram nomes de peso político dos mais consideráveis: o filho homônimo de Pedro Ludovico (Pedro Ludovico Teixeira Filho), que nunca participara de processo eleitoral; o ex-prefeito de Anápolis, Raul Balduíno de Souza, indiscutivelmente de grande prestígio em razão do seu êxito administrativo na principal cidade do interior goiano; e Gerson de Castro Costa, que sempre se elegera deputado federal com grande votação.

Já em 1974 a vitória do PMDB foi tão esmagadora que o jornalista, mais tarde deputado federal, Sebastião Nery publicou um livro que teve enorme repercussão, intitulado As 16 derrotas que abalaram o Brasil. Focaliza, naturalmente, as surpreendentes derrotas do partido da ditadura.

O regime militar era tão totalitário que em 1977 o presidente Ernesto Geisel fechou o Congresso Nacional e baixou um pacote de medidas políticas extremas.

No seu último ato do ano de 1978, a 31 de dezembro, Geisel revogou o AI-5.

A 28 de agosto de 1979 o presidente sancionou a Lei de Anistia. No mesmo dia vários presos foram libertados e os exilados, em várias partes do mundo, começaram a planejar o retorno ao país, conforme notícia do Jornal do Brasil. Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul, chegava em Nova Iorque, procedente de Lisboa e anunciou sua primeira providência em solo americano: procurar o consulado do Brasil e pedir um passaporte.

No ano seguinte, 1980, restabelecido o pluripartidarismo, aconteceu a formação dos novos partidos. O PMDB, como os fatos em seguida demonstraram, era o principal deles.

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feiras - E-mail: [email protected])

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