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OPINIÃO

Uma visão sistemática e psicológica da indiferença e suas consequências

Vivemos, atualmente, num mundo das indiferenças. Originado da não ética pessoal o Ser se torna indiferente diante da vida e de si mesmo. A indiferença, por sua vez, leva a banalização ou ao “tanto faz”. Ela é a negação dos próprios sentimentos em relação à vida. Em tempos de tanta competição, vingança, comparações, o ser humano sofre na própria pele as consequências de sua indiferença perante a vida.
Vários são os setores em que podemos observar a indiferença como principal causa de sofrimento e estagnação do indivíduo. Busquemos de maneira honesta traçar um pequeno perfil para que possamos refletir e nos situar em qual ou quais pontos estamos agindo com indiferença: aquele “que mostra indiferença; que não se importa; apático. Pessoa que não tem amor e nem ódio a outra, que esfriou as relações de amizade ou que se desinteressa de qualquer religião ou sistema político”, incluo o desinteresse pela vida e o viver.
A indiferença diante do amor e do amar, tem levado o indivíduo à banalização dos relacionamentos, quando nos deparamos com relacionamentos afetivos cada vez menos estáveis, como, por exemplo, jovens apostando quem beija mais ou “fica” com mais parceiros(as) em uma só noite. Relacionamentos de mais de dez anos vem se desmoronando por motivos tão “banais” ou até mesmo sem motivo aparente ou real. Ainda dentro deste contexto temos o aumento exacerbado de relacionamentos afetivos de pessoas do mesmo sexo tudo em nome do liberalismo, do modernismo e da normalidade, embora não passe de indiferença transformada em banalização.
Nosso planeta encontra-se na UTI já há algumas décadas; mas o ser humano continua destruindo florestas, desviando os rios para construir barragens, queimando matas, assassinando animais, poluindo rios e mares em nome do progresso e da evolução em busca de dinheiro e poder pela indiferença com a vida e o viver. A água potável está ameaçada de extinção por um tempo inferior há 40 anos.
A indiferença religiosa constrói escravos de líderes e empresas religiosas que lhes prometem o céu e a salvação não a qualquer preço; mas de acordo com o “tocar” de Deus dentro do seu coração: “Contribua na mesma proporção.” Se Deus te “tocou” muito você dará muito; mas se você doou pouco foi porque Deus pouco te “tocou”. Para algumas religiões fé virou sinônimo de dinheiro e poder. Pela indiferença o nome do Criador se tornou motivo de grandes divisões raciais, sociais, intelectuais, cada grupo querendo ser o representante direto do Criador junto àqueles que os elegem. Da indiferença ignoramos a banalização que nos transformam em cegos e fanáticos religiosos sem nenhuma religiosidade ou espiritualidade, acreditando na utopia da salvação pela religião e não pela prática do amor e da caridade ou da transformação interior de cada ser.
Pela nossa indiferença elegemos governantes despreparados para dirigir a própria vida; mas com a promessa da ‘multiplicação dos pães’, das soluções milagrosas dos problemas coletivos refletidos em cada indivíduo em particular. Governantes que fingem dar o peixe; mas que não ensinam a pescar. Vivemos numa época em que temos que ensinar as pessoas a dirigirem a própria vida. Pois, quando não dirigimos a nossa vida, nos colocamos entre dois caminhos: procuramos alguém para dirigir a nossa vida ou então passamos a dirigir a vida de outro, transformando-o, muitas vezes, em nossos súditos (escravos de nosso ego). O que nos leva à pergunta: qual será o motivo leva o ser humano a valorizar de forma cega as pessoas malignas disfarçadas de líderes populares, tal como foi Hitler e Stalin de ontem; Sadhan, Busch, molusco e governantes brasileiros de hoje, lobos em peles de ovelhas? É pela indiferença que damos ao outro o poder para, em seguida, sermos manipulados e dominados por eles. Quando alguma pessoa tem poder, este poder lhe foi dado por alguém ou por um grupo de pessoas; pois ninguém nasce ou adquire poder por si mesmo. Se você não nomeia alguém para ser importante, para se tornar ídolo ou líder; ninguém poderá exercer tal papel sobre sua pessoa. Portanto, só há dominantes porque existem os dominados. Somente sonha com a liberdade àquele que se permitiu aprisionar-se. Triste do País que necessita de ídolos para sobreviver; infeliz daquele que precisa de um “governo” para guiá-lo pela vida. Somos corrompidos pela nossa ignorância, pelo nosso medo da vida, pela nossa insegurança perante nós mesmos, portanto, somos corruptos de nós mesmos.
Pela indiferença de toda ordem temos nos transformado em covardes com nossa própria vida, como já foi dito: “Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.”
Recente vi pela tv a noticia de um lutador de artes maciais, após espancar alguém que tentou socorrer mais uma vítima da indiferença no trânsito, fugiu. O delegado encarregado do caso ao ser entrevistado pelo repórter sobre o porquê o agressor não estava sendo procurado, respondeu com indiferença: “Não vemos motivo para que ele seja procurado.” O agressor já tinha passagem pela policia; mas é parente de pessoas influentes na região (político e magistrado).
“O ser humano é naturalmente alegre; no momento em que barra sua realidade, evidentemente impede a existência de sua felicidade. Portanto, nascemos para sermos felizes e, negando a verdade, cortamos tal ventura.” A felicidade é a compreensão para aceitação do que existe; a infelicidade é a luta para que haja de qualquer maneira o que não deveria existir.
Finalmente, podemos afirmar que a indiferença principal que nos atropela perante a vida é a indiferença diante do conhecimento, do saber. Lembrando que sábio não é aquele que ensina; mas aquele que aprende. O ser humano sabe que está tentando viver o que não é real, isto é, a fantasia, a ilusão; por este motivo desespera-se continuamente. Sabemos que as doenças psicológicas são originadas não da realidade; mas das ilusões e das fantasias que temos que inventar a cada dia para nos sentirmos “confortáveis” e “seguros” diante do mundo. O consumismo é a maior prova dessa não realidade. O grande sofrimento advém em consequência de se tentar permanecer fora da realidade; isto equivale ao esforço de querer destruir o que existe. E como sabiamente nos disse Carl G. Jung: “O conflito básico do homem é ser um deus que caga.”
O auto-tormento consiste em viver a vida de acordo com a aprovação alheia. A felicidade consiste em viver a própria vida. Tenho que não temos condições evolutivas de viver integralmente a realidade ou a verdade; portanto, necessitamos temperar a realidade com alguma ilusão, sonho e fantasia, tal como se tempera uma comida; pois se exagerarmos nos temperos a comida se torna “incomível”. Assim, cada indivíduo deveria aprender através do despertamento para o conhecimento; temperar a própria vida para que ela possa melhor “ingerida” ou vivida.
Não podemos negar o que somos e o que temos; mas podemos a partir da compreensão e aceitação do que somos e do que temos melhorar nossa posição perante a vida e o viver. Nossas escolhas irão determinar o nosso amanhã e, não escolher, também é uma escolha. Quais as escolhas que você tem feito para sua vida? Não podemos negar que foi a escolha de ontem que te trouxe até aqui e, será ela que determinará o seu amanhã. Esteja certo disto. Como disse nosso ‘irmão’ ‘chico’: “Não podemos voltar atrás e fazer um novo começo; mas podemos começar agora e fazer um novo fim.”
Ei de morrer a muito desejar a viver na indiferença.

(Dr. José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico. Especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo. Escritor e palestrante. Emails.: [email protected] e/ou [email protected])

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