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OPINIÃO

O puritano

“Felicidade não resulta da soma de prazeres.
É um estado de espírito do qual se desfruta”
Frei Betto

Era pura castidade, meiguice e candura naquela carinha que a mulherada chama cara de anjo, de tão bonito que era. Boa praça, boa prosa além de ter conhecimento de causa daquilo que o provocam para discutir. Lacônico nas respostas mas tem uma cultura universal das coisas. Doem-lhe os tímpanos quando ouve presepadas, contudo a boa educação freia-lhe os impulsos de correção. Com esse escriba mesmo já ficou perplexo com tanta burrice despejada no Diário da Manhã. Já pensou em escrever ao editor-geral rogando barrar os espancamentos à língua mater. Ainda bem que não os enviou.
Como disse, por ele se punha a mão no fogo. Contudo, quando surgia uma festa longe da nossa querida São Luiz de Montes Belos, nós, do time dos feios, boicotávamos sua a ida indicando outra direção. Se o rega bofe era no norte claro que o sul ou oeste lhe era sugerido. Maldade nossa? Nunca, na guerra vale tudo, usávamos essa tática contra o nosso êmulo e explico: Se ele fosse, mesmo acompanhado da noiva, para nós os quasímodos não sobraria ninguém, adeus meninas para gente namorar, iam todas babar por causa dele e muitas vezes tive que apartar briga feia de duas ou três lindonas esbofeteando-se para ter o privilégio de ser mirada pelos lindos olhos do nosso enfant terrible. Por minha causa também já aconteceu de terem de apartar duplas de Brunas Marquezine, de Giseles Bundchen e outras boazudas se estapeando ao ponto de puxarem a faca e de uma rasgar a roupa da outra correndo o risco de ficarem peladas e agarradas uma nos lindos e cacheados cabelos da outra, esbravejando: Aquele porqueira nunca foi meu não viu? Eu não quero aquele trapo, some com ele, sua biscate! E tome tapa. E a outra: Ave-Maria, meu coisa nenhuma, Deus me livre e guarde, fique com aquela tranqueira procê sua lambisgoia fedorenta. E tome tapas e socos na boca do estômago.
No entanto, de tanto fazer sofre e ver as meninas suspirando tristemente por um tiquinho do seu amor, foi picado por dois dos sete pecados capitais: A vaidade e a luxúria. Passou a namorador incontido quando findou o noivado. A ex-noiva tentou suicídio tentando beber querosene. Se não fosse pelo cheiro desgramado de fedorento, mesmo misturando guaraná, garanto que tinha tomado. Me falaram que ele comprou um laço de doze braças só prá laçar mulher casada que não gosta do marido. Se for verdade, acho que tem que fretar transatlânticos e boeings confortáveis para acomodá-las, coitadinhas!
De casto passou a um conquistador empedernido, um Giacomo Girolamo Casanova do cerrado goiano. Tornara-se tão fogoso que, quando viajava para pequenas cidades e queria ir pra gandaia e como ainda tinha resquícios pudicos, analisava as feições dos moradores e quando se sentia seguro com algum de nítidos traços nordestinos perguntava:
– Por favor, onde fica mesmo a casa paroquial? – O morador, gentilmente indicava esticando o beiço na direção e ele retrucava:
– Mas presse lado num é o fôia?
– Não, não!... O cabaré fica depois da grota, pegue aquela estradinha ali, viu meu bichim?

(Alcivando Lima, [email protected])

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