Home / Opinião

OPINIÃO

O esfacelamento da capacidade de financiar a expansão da Celg

Qualquer organização, seja pública ou privada, só se mantém de pé se bem gerenciar um importante indicador que se torna fundamental à sua sobrevivência. Falo da capacidade de financiar a expansão. De modo simplista, vejamos alguns exemplos no intuito de melhor esclarecer esse conceito.
Vender ações da empresa é uma maneira de captar recursos para expansão. O Carrefour, a Companhia Paulista de Força e Luz, a Petrobras, a Vale do Rio Doce e milhões de empresas pelo mundo afora fazem uso desse poderoso instrumento. Outra maneira de financiar a expansão é a busca de financiamento dos Bancos, principalmente daqueles que fomentam o desenvolvimento, como é o caso do BNDES.
Em resumo: o capital de terceiros é uma importante fonte que traz recursos para as instituições. Mas existe outra e ela é o recurso advindo de suas próprias atividades. Exemplos: a exploração de derivados de petróleo gera recursos para Petrobras, assim como a plantação de soja faz crescer e enriquecer o agronegócio. E o mesmo ocorre com a venda de eletricidade para companhias de energia elétrica.
Moral da história: a capacidade de financiar a expansão necessita de recursos que vêm da própria empresa e de terceiros. É a relação capital próprio – capital de terceiros, que mensura a sustentabilidade dos investimentos de uma empresa ao longo do tempo. Empresas com 90%, 80% se financiam pelo fato de a instituição se manter 90% ou 80% com recursos próprios, tomando empréstimos de só 20% ou 10% de capital de terceiros. O diagnóstico dessa situação é um só: empresa excelente, capaz de se autossustentar com sua produção.
No caso do setor elétrico, de vultosos investimentos e longo prazo de maturação, considera-se como aceitável a relação de 50%. Menos que isso, a tarifa não remunera os investimentos, e investimentos não remunerados se transformam em elefantes brancos que corroem o patrimônio da empresa. Inúmeras distribuidoras têm excelente capacidade, a de Minas Gerais (Cemig) e a do Paraná (Copel) são exemplos de concessionárias com excelente capacidade de gerar recursos (via tarifa) para financiar sua expansão. Tiveram gestão ao longo do tempo. Esse não é o caso da Celg.
Aliás, fiz essa exposição para apontar o verdadeiro calcanhar de Aquiles da empresa. Falo da exaustão da capacidade de financiar a expansão proveniente da demanda da sociedade por energia elétrica que não para de crescer, mas a Celg não tem recursos para atender.Motivo: sem recursos para expansão(0%), a empresa é hoje completamente dependente do capital de terceiros (100%). Daí vem a grande questão: por que a companhia chegou a essa situação de verdadeira calamidade pública? A resposta é uma só: clientelismo político que fomentou a praga do século nesta terra de Santa Cruz: a corrupção.
A fome dos empreiteiros financiadores das campanhas políticas cobrou seu preço com obras absolutamente improdutivas. Suporte elétrico em excesso era colocado aos montes por este Goiás afora, enriquecendo empreiteiras mequetrefes do dia para noite. Como não existe almoço grátis em economia, o preço a pagar veio no esfacelamento da estrutura de capitais da Celg, assim, levando à exaustão sua capacidade em financiar a expansão. Se nos anos de 1970 tínhamos uma empresa com estrutura de capitais saudáveis, que gerava recursos via tarifa, pouco fazendo uso de financiamentos, o que vimos depois disso foi o brutal empobrecimento da empresa símbolo dos goianos, com o dinheiro de Cachoeira Dourada fomentando obras improdutivas por este Goiás afora. Mudando para continuar tudo a ser como era antes, ocorreu, a partir dos anos de 2000, um contexto: os bancos e seus juros exorbitantes sangravam, sem dó, a já débil estrutura de capitais da empresa, desse modo, esfacelando os recursos para expansão. Eis aí a falta que faz estadistas no comando deste estado que um dia teve o grande Pedro Ludovico na liderança do processo político. Quem não faz história é jogado no lixo dela. A partir dos anos de 1980, faltaram seguidores do espírito do fundador de Goiânia para nos liderar.

(Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, de A Construção de Goiás)

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias