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OPINIÃO

Êxodo: cérebros que se vão

Há muitas facetas para a crise vivida por um país, como a que estamos vivendo no Brasil.

Uma constante nesses momentos de crise é o deslocamento de suas populações para outros países, num verdadeiro êxodo, em busca de melhores condições de sobrevivência, de trabalho, de estudos, de uma vida melhor para os filhos e a família como um todo.

Uma das mais tristes consequências desta crise vivida pelo nosso país, embora silenciosa, é a perda de capital humano.

De um período virtuoso, em que recebíamos ondas migratórias de vários países para o Brasil, inclusive mão de obra qualificada, passamos para um período em que estamos exportando, além daqueles que se aventuram ilegalmente para fugir da falta de oportunidades aqui dentro de nossas fronteiras, um capital humano que, certamente, contribuirá para o desenvolvimento das nações para onde se dirige.

Antes de qualquer outra análise sobre esse fenômeno, vale destacar o investimento do país na formação desse capital humano, toda a contribuição para o seu desenvolvimento, todo o investimento nas universidades, nos centros de pesquisa, nas pequenas, médias e grandes empresas, enfim, investimentos que apontam para o futuro de uma nação.

As pessoas fogem para o exterior porque não têm esperança no futuro do Brasil.  Porque não veem, no estágio atual da administração pública brasileira, nenhuma atitude capaz de lhes dar perspectivas de que a situação possa melhorar.

A expressão pode parecer forte, mas uma considerável parcela da população brasileira está   em fuga do Brasil, por absoluta falta de perspectivas.

Se algumas nações veem os seus filhos partirem por causa de guerras civis, de terrorismo, de intolerâncias, outros, como o nosso, o fazem por uma gestão equivocada, que arrasa o país em todos os sentidos: desestabiliza projetos pessoais, é causa da perda do sentido de nacionalidade, como povo e como país no contexto das nações.

Pesquisa feita tendo as revistas semanais Veja e Isto é como foco, há alguns anos, analisou a relação entre a emigração e a autoestima do brasileiro. Concluiu-se que o brasileiro ao emigrar considera o momento econômico, social, político e faz um profundo questionamento da nação brasileira.

O que o faz deixar o país é uma profunda crise na sua autoestima, com a formulação de um conceito extremamente negativo da sociedade brasileira.

Dados divulgados pela Receita Federal confirmam que a emigração qualificada está em alta. Entre 2011 e 2015, o total de Declarações de Saída Definitiva do país subiu 67%.

Se em 2011 tivemos 7.956 saídas em definitivo, ou 21 pessoas para cada dia do ano, em 2015 foram 13.288 saídas, ou 36 pessoas por dia.

A Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, ao analisar as causas da emigração do Brasil, afirma que o Brasil está perdendo a briga por mão de obra qualificada e, como consequência, perde a corrida pelo desenvolvimento.

Em setembro do ano passado o economista Rodrigo Constantino, colunista da revista Veja, disse que a fuga de cérebros do Brasil vem aumentando ano a ano. Segundo ele, é evidente que na medida em que o PIB foi parando de crescer, muitos brasileiros começaram a deixar o país, chegando à impressionante marca de 36 saídas por dia, como disse há pouco.

Cada família tem uma motivação diferente, mas resultante da crise que estamos vivendo: desde a desvalorização da moeda, a busca por melhores oportunidades de trabalho, até a busca de uma vida com perspectivas melhores para os filhos.

Constantino conclui que os brasileiros estão cansados de um Brasil que não dá certo e de promessas não cumpridas, nublando o horizonte de todos nós.

O economista Rodrigo Constantino levanta as questões que, diante desses dados, nós fazemos: como condenar esses que estão saindo? O que o Brasil tem feito para merecer e deter os melhores talentos? O que o Brasil tem feito para preservar dentro de suas fronteiras aqueles que criam riquezas? Absolutamente nada, a não ser apontar para políticas econômicas que têm trazido a recessão, o desemprego, a ausência de investimentos em infraestrutura, a queda no comércio, com lojas grandes e pequenas fechando as portas, a indústria definhando e os investimentos produtivos fugindo do país.

Por fim, os brasileiros estão indo embora por causa da pobreza do ambiente cultural do país, onde o bandido é mais valorizado do que o policial que o combate, onde predomina o jeitinho braseiro da trapaça, onde o cidadão de bem é considerado otário por ser ordeiro e seguir as leis.

Como Senadora entendo que o Senado é responsável por analisar todas as facetas da crise e colaborar, no nível da consciência de cada um, e, também, no nível da força política do parlamento, para que esta situação seja revertida, a fim de que o país busque novos horizontes, que permitam ao nosso povo orgulhar-se de ser brasileiro e vislumbrar a construção deste país chamado Brasil.

(Lúcia Vânia é Senadora (PSB), Ouvidora Geral do Senado e jornalista)

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