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OPINIÃO

UDR foi criada para evitar desapropriação de terras

A União Democrática Ruralista, mais conhecida pela sigla UDR, foi criada porque havia riscos à propriedade rural, a começar pela elaboração da nova Constituição do Brasil, sob a presidência de José Sarney, no período de 1985 a 1990. Embora de origem udenista e posteriormente da Arena, partido criado no regime militar, Sarney aliou-se ao processo de mudança conduzido pelo MDB, tornando-se o vice na chapa de Tancredo Neves, que morreu antes de tomar posse.

Ora, o País estava em plena transição da ditadura para a democracia. Os anseios e sonhos estavam fervilhando na cabeça de muitos. Era natural, assim, que os reformistas de plantão atiçassem a lenha na fogueira.

O tema da reforma agrária voltava com toda ênfase. No governo Sarney, o ministro da Reforma Agrária, Nelson Ribeiro, apresentou um plano de reforma ao Congresso Nacional, que assombrou os criadores e agricultores.

Pela proposta de então, as terras desapropriadas seriam pagas com Títulos da Dívida Agrária. As TDAs eram consideradas verdadeiras moedas podres, que não iriam corresponder e poderiam levar à falência a seus donos. Ora, quem tinha suas terras ficou de orelha em pé. Uma verdadeira caixa de marimbondos.

Nestas alturas dos acontecimentos, um grupo de ruralistas começa a se movimentar. Em Goiânia, a diretoria da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) se dividia. Se entidade entrasse direto na briga, pensavam uns de tendência mais moderada, como Paulo Seronni, presidente da Faeg, a coisa ficava mais preta.

A alegação era a de que a entidade para sobreviver necessitava do Imposto Territorial Rural (ITR) e da Contribuição Sindical, que era arrecadada pela Delegacia Regional do Trabalho e quem promovia os repasses.

Outra corrente, envolvendo nomes como Salvador Farina, Olímpio Jaime, Constantino Guimarães, Geraldo Macedo (o Ladoca), entendia que os produtores detinham força política para impedir essa possível sangria em suas rendas através do governo federal.

Entre o sim e o não, as lideranças concluíram pela criação da UDR, que estaria livre das injunções administrativas do governo.

A sua primeira reunião ocorreu na sede da Faeg, que este ano completa 65 anos. Como a adesão ultrapassou todas as expectativas, a segunda reunião se deu na SGPA (Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura).

Nascia na verdade o embrião da União Democrática Ruralista (UDR). Isto porque a entidade não tinha ainda um nome definido, sendo chamada por alguns de Movimento Democrático Ruralista. Como havia o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) como partido político, a opção foi mesmo UDR.

Criada a UDR, surgiu a pergunta. Quais os recursos para operacionalizá-la? Alguns improvisaram a idéia da promoção de rifas.

Salvador Farina, pecuarista e produtor de televisão, propôs a realização de leilões, sob o argumento de que produtor não está acostumado à compra de rifa. Mas, quando necessário doa bezerros, porcos e outros animais como contribuição às festas religiosas, entre outras.

Resultado, no primeiro leilão foram destinados 1.680 animais à UDR, doados por fazendeiros. Os revendedores de adubos, máquinas e implementos agrícolas cederam seus comerciais nas emissoras de rádio e televisão como chamamento aos leilões e às reuniões da UDR na Capital e Interior.

Com os recursos arrecadados, a UDR pôde custear as despesas de transporte, traslados, hotéis, refeições, entre outras, nas diferentes cidades brasileiras. O objetivo era  alertar os fazendeiros para os riscos à sua propriedade em andamento no executivo e no Congresso Nacional e cada um promover ações isoladas ou em grupos contra as medidas.

A grande imprensa foi atraída por três mosqueteiros e cabeças do movimento: Salvador Farina, Ronaldo Caiado e Altair Veloso. Eles procuravam mostrar as causas das manifestações dos produtores, através da UDR. Pelo jeito, foram bem sucedidos.

(Wandell Seixas é jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, Tel Aviv, Israel, autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste, e assessor de imprensa da Emater)

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