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OPINIÃO

“O melhor negócio da terra é a terra mesmo”, a força do mercado imobiliário sobre a vida da capital. Ai de ti, Goiânia!

A Cidade de Goiás, antiga capital goiana, criada no século XVIII, foi fundada em razão da atividade aurífera naquela época. Após o período do ouro, ela perdeu força e as cidades envolvidas com a criação de gado e o desenvolvimento da agricultura, mais alocadas ao sul e sudoeste, passaram a ter maior importância para Goiás. O projeto de mudança da capital goiana já era discutido anteriormente, com a fundação do regime republicano, foram registradas as primeiras discussões oficiais que consideravam a transferência da capital de Goiás. Mais além, Conde dos Arcos já havia sugerido, na década de 1750, ao rei de Portugal que se fizesse a transferência da capital para o município de Meia Ponte – atual Pirenópolis. No entanto, somente com a ruptura política varguista foi possível a sua consolidação.

Em 1930, a revolução liderada por Getúlio Vargas impôs uma renovação das lideranças políticas nacionais e regionais. Foi daí que o médico Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado como interventor do Estado de Goiás e com o espírito de renovação, buscou colocar em prática o projeto de mudança da capital. Apesar de Pedro Ludovico ser natural da Cidade de Goiás o mesmo atuava em Rio Verde como médico e era casado com dona Gercina Borges de família tradicional daquela região do Sudoeste Goiano.

Mesmo com a resistência dos antigos grupos oligárquicos que dominavam a vida política goiana, o grupo de Pedro Ludovico acabou confirmando o projeto da mudança no ano de 1933. Na data de 24 de outubro daquele mesmo ano foi lançada a pedra fundamental que daria início aos trabalhos de construção da cidade de Goiânia. No dia 23 de março de 1937, o decreto de número 1816 oficializava definitivamente a transferência da capital da Cidade de Goiás para Goiânia.

Para o grupo mudancista de Goiás, a transferência da capital para uma cidade totalmente nova significava, em grande medida, o rompimento com o isolamento e a estagnação que o Estado vivia até então. O plano de Goiânia foi confiado pelo interventor federal do Estado, Pedro Ludovico Teixeira ao arquiteto Attílio Corrêa Lima.

Mas frequentes atritos com os engenheiros construtores levaram Attílio C. Lima a deixar o cargo de diretor das obras, afastando-se dos projetos, com a rescisão do contrato em 26 de abril de 1935. O motivo do afastamento de Attílio não está devidamente documentado, podendo ter sido motivado por atraso no cumprimento dos contratos de projetos; descontentamento geral do governo com as diretrizes estabelecidas por Attílio nas obras; falta de pagamento ao arquiteto; insatisfação de Attílio com as alterações efetuadas em seus projetos pela firma Coimbra Bueno, de caráter especulativo.

Essa decisão de Attílio C. Lima pode ter sido tomada em virtude de o governo do Estado ter assinado em 4 de dezembro de 1934, um contrato com a firma Coimbra Bueno & Pena Chaves Ltda., depois chamada Coimbra Bueno & Cia. Ltda., para a realização de toda e qualquer ação relacionada com a produção do espaço físico na nova cidade, tal contrato delegava inclusive poderes que são competência do Estado. A questão se agrava quando os Coimbra Bueno determinam que o projeto de Corrêa Lima, seja submetido a avaliação por uma comissão de especialistas da área. Os Coimbra Bueno, passaram a responder, entre outras atribuições, por uma unidade da administração pública estadual, a Superintendência da Construção de Goiânia. Mais tarde, em 1936, os irmãos Coimbra Bueno recebem o título de “Construtores da Cidade de Goiânia”, e Jerônimo Coimbra Bueno, tornou-se governador do Estado em 1947.

Conclusão os Coimbra Buenos representam o que hoje denominamos como a força do mercado imobiliário, que causam tantas polêmicas em razão de megainvestimentos propostos para a nossa capital sem levar em conta os impactos que comprometem a qualidade de vida da população.

Goiânia deixou ter um planejamento contínuo, o extinto Iplam (Instituto de Planejamento Municipal), órgão que por muitos anos atuou como agente pensante da cidade, foi sucumbido pela descontinuidade de governos municipais eleitos que adotaram posturas que mais atendiam o mercado imobiliário do que as reais necessidade da população.

Assim está Goiânia hoje a mercê do poder econômico, que age como os antepassados Coimbra e Bueno, tendo como meta a filosofia do título do artigo “o melhor negócio da terra é a terra mesmo”, com vazios urbanos nas mãos de uma minoria especuladora, expulsando a população para as periferias, degradando nossa área central e histórica, dando preferência ao transporte individual em detrimento de um transporte público de qualidade, a cidade das trincheiras e viadutos.

Nestes 82 anos de vida, as perspectivas futuras da capital não são  animadoras, nada se faz em relação as nossas reservas hídricas, nossos parques viraram orlas de grandes edifícios, nossa região metropolitana corre o risco de sucumbir suas reservas diante da desenfreada conurbação. Precisamos urgentemente, em nome das futuras gerações, tomar atitudes concretas em prol da qualidade e da sustentabilidade da cidade.

(Garibaldi Rizzo, presidente do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de Goiás, conselheiro titular do CAU-GO)

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