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OPINIÃO

Minhas férias Uma apologia àquilo que deveria ser feito

“Sem o amor o homem é apenas um cadáver em férias.”

(Erich Remarque)

Quando era criança e estudava na escolinha rural de paredes de pau a pique, a minha professora sempre solicitava uma redação no retorno das férias. Acho que escrevi boas redações, mas nunca escrevi a que realmente gostaria de escrever. Acho que é porque nunca produzi material suficiente para escrever o melhor texto da minha vida. Eu gostaria de escrever as seguintes palavras sobre o que fiz nas férias.

Eu li um bom livro, daqueles que a gente não esquece mais. Fui acampar e lá participei de uma guerra de comida, andei a cavalo e fiz uma trilha à beira mar de bicicleta, aproveitando as descidas da roda fortuna, vendo o céu tocar o mar no infinito. Eu abracei gente estranha, andei de helicóptero, passei uma semana no trailer, e brinquei de aviãozinho de papel. Plantei uma árvore, comecei uma coleção de pedras, sem valor comercial, nem utilidade para os ourives.

Nas minhas férias sai à noite, fui à boate, tomei drinks esquisitos, de todas as cores, e com todos os tipos de frutas na borda do copo. Comi carnes, peixes e queijos. Experimentei comida oriental regada a vinho barato. Saí pela cidade fingindo ser outra pessoa, pois estava cansado de ser eu mesmo. Fui ao analista passar os problemas adiante. Pulei de roupas na piscina, voei de asa-delta e despenquei de paraquedas. Li a bíblia, banhei na enxurrada, namorei na chuva e dormi sem tomar banho.

Nestas férias eu ganhei na loteria, comprei uma Ferrari e um iate. Cortei o deserto do Saara de BMW e nadei de costas no mar morto. Gastei dinheiro, não passei o cartão de crédito, comprei o que o dinheiro pode comprar, mas ainda faltou uma coisa, a felicidade, porque essa não há dinheiro que compre. Com o dinheiro do meu prêmio ajudei os pobres, os meus familiares e os meus conhecidos. Comprei tudo que podia, e entendi que o dinheiro não pode preencher o vazio da nossa existência.

Nas minhas férias virei 24 horas acordado, vi o nascer e o pôr do sol sentado na areia da praia tomando suco de kiwi. Quando acordei do sonho das minhas férias, percebi que preciso fazer muitas coisas, antes de fazer a travessia do rio Estige. Eu preciso fazer do sonho das minhas férias o sonho da minha vida, antes que o tempo e o amor se acabem. Porque nas minhas férias visitei o meu túmulo e percebi que ainda sou muito jovem para morrer, pois ainda não tenho um epitáfio. Ande na da luz.

*Baseado nas minhas férias

Não giramos em torno do sol, mas em torno da luz.

(Joel Gonzaga de Sousa, pedagogo, psicopedagogo)

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