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OPINIÃO

Mentalidade e cargos públicos

Na universidade, no final do curso, já me tinha dado conta de que havia duas espécies de pessoas: as que diziam que “agora era recuperar o dinheiro que os pais tinham gasto no curso” e outros que humildemente pensavam “o que podiam fazer com os conhecimentos adquiridos para contribuir para um mundo melhor”?

Ora esta divisão sempre a encontrei ao longo da minha vida com mais ou menos frequência. E a diferença entre uns e outros era grande e, por vezes, mesmo abismal... e a diferença já referida sempre a encontrei por todo o lado por onde passei, pois os cargos desempenhados são o reflexo das pessoas que os ocupam! E isto serve para todos os casos!

Mas concentremo-nos na função pública! Nem todas as pessoas servem para estes cargos. Muitas não têm perfil para tal. Se juntarmos a isto a mentalidade que as suporta, temos o cenário completo.

Há pessoas para quem um cargo público é um estatuto e um motivo de vaidade e há outros (muito poucos) que encaram esses cargos como uma possibilidade ímpar de servir os demais. Qual destas pessoas querem ter na vossa administração pública?

Todos sabemos os benefícios da presença das árvores nos centros citadinos. Mas quando se tem essa preocupação, ela tem de ser acompanhada do conhecimento das espécies para evitar consequências imprevisíveis e desagradáveis no futuro. Mas isso nem sempre é feito.

Há alguns anos a Câmara da cidade, onde vive a minha mãe, colocou nos passeios árvores. À frente da sua casa, há, pelo menos, sete árvores da mesma espécie distanciadas apenas por poucos metros umas das outras.

O primeiro problema com que teve de lidar foi com o passeio levantado pelas raízes o que originou várias quedas para além de um muro estragado. A verdade é que os serviços públicos melhoraram o problema mas não o solucionaram.

Poucos meses depois, o jardim começou a ser invadido por réplicas daquelas árvores que se multiplicam muito bem no jardim desconfigurando-o completamente. Por outras palavras, o ordenado jardim está a tornar-se num pequeno matagal a uma velocidade surpreendente. Algumas, podemos salvar mas outras terão que ser removidas (a ver se os serviços públicos estão abertos a sugestões. Já lhes dei antes a ideia de que poderão aproveitar esses rebentos ou mesmo as árvores e reposicioná-las no parque da cidade).

Para tratar deste último problema, deslocou-se há dias a idosa à Câmara da cidade. Na lentidão inerente às pessoas desta idade, apanhou o transporte citadino que chegou levemente atrasado à hora marcada para a reunião. Quando lá chegou, já uma senhora lhe passara à frente. Compreensivo. Não havia tempo a perder! O problema foi depois. A idosa pensou entrar na hora da senhora que ocupara a sua. Nada feito! O presidente da autarquia, esquecendo-se da hora que devia ainda à comunidade (precisamente a que estava destinada à senhora que entrara na sua vez), resolveu que não atendia mais ninguém. Nem uma explicação! Nada! Uma resolução de última hora que deixou indignada a minha mãe que viu nessa atitude uma falta de respeito e a resolução do problema adiada.

No fundo, meus caros senhores e detentores de cargos públicos, ninguém é superior a ninguém. E se os senhores ocupam cargos públicos devem-nos aos eleitores (e não só!). Que tal mostrar um maior respeito pelas pessoas que têm a obrigação de servir, pois para tal servem esses cargos? Se não querem fazê-lo ou pensam que não o devem fazer, então não devem ocupar tais cargos. Talvez devam trocar esses cargos por outros em entidades privadas ou arranjar outro tipo de ocupação, mas nunca deverão ambicionar cargos na função pública! Estes cargos destinam-se exclusivamente a pessoas que têm a capacidade de servir e esta nem todos a possuem. Para muitos isto nem faz sentido quanto mais exercer essas funções com tal espírito!

Não necessitamos ali de pessoas que nos apresentem “mais do mesmo” mas necessitamos de outros que queiram e façam a diferença pela positiva! É urgente mudar mentalidades! É urgente encontrar as pessoas certas para os cargos certos! E só conseguiremos isso quando e se encontrarmos as pessoas ideais para os ocupar!

(Fátima Nascimento, professora, formada em línguas e literaturas modernas)

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