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Cunha derrubou a Bolsa. Será?

O principal índice da Bovespa passou  e fechou em baixa de 1,37% ontem, com o Ibovespa fechando a 52.341, com Petrobras entre as maiores baixas. A Bovespa encerra seu pregão às 17h. Às 17h15, o site da Bovespa divulga todas as informações referentes aos negócios do dia. Aliás, a divulgação é contínua, sempre com 15 minutos de atraso. Corretores obtêm as informações em tempo real.

Essa facilidade de acesso às informações da Bovespa leva alguns sites noticiosos a antecipar os resultados projetando a tendência. Recentemente, uma prestigiosa agência noticiosa divulgou que a Bolsa havia fechado em Baixa estando o pregão em andamento. Nos últimos 15 minutos, o índice reagiu e a Bolsa fechou em alta. E os leitores da prestigiosa e apressada agência noticiosa ficaram mal-informados.

Ontem, as agências noticiosas, novamente, anteciparam os fatos, mas sem arriscar a taxa de desvalorização. O que anteciparam foi o fato deveras espantoso que fez a Bolsa cair. “Em meio à deterioração no cenário político doméstico”, informou uma agência, o Ibovespa começou a cair em virtude do anúncio de rompimento do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, com a presidente Dilma Rousseff.

Ninguém explicou que relação uma coisa tem coma outra. Ninguém publicou declaração de um único dirigente de corretora dizendo que, em virtude do anúncio de Eduardo Cunha, passou a emitir ordens de vendas. Somente a coincidência de a entrevista de Eduardo ter sido concedida por volta de 10h, e as cotações iniciarem suas quedas mais ou menos neste horário, pode estabelece alguma relação de causa e efeito entre uma coisa e outra. Mas esta relação de modo algum salva as aparências, ou seja, não explicam satisfatoriamente o fenômeno.

O Ibovespa vem fechando todos os dias em baixa. Há muito tempo que a Bovespa está no vermelho. Inflação alta, desequilíbrio nas contas públicas, retração das exportações e consumo interno, alto índice de inadimplência, previsões de PIB negativo e outros tantos desajustes da economia, o que em sua totalidade atende pelo nome de “crise”, são as causas materiais da introversão do mercado financeiro.

Mas é sempre bom achar uma explicação em algum episódio impactante. A decisão de Eduardo Cunha já era esperada. Ele já estava em oposição ao governo federal faz tempo. Ontem, ele se limitou a oficializar um rompimento que já existia há meses. Semanas atrás, a grande vilã era a crise grega. Agora que as coisas por lá começam a se ajustar, as bolsas respiram aliviadas. As bolsas de todo o mundo fecharam em alta. Só o Ibovespa fechou em baixa. Por que, diabos, o deputado não deixou para anunciar o “rompimento” depois das 17h. Foi um ato impatriótico dele falar e pleno transcorrer do pregão. Ou ele sabia que um espirro seu iria abalar o mercado financeiro?

É mais plausível que o acabrunhamento dos especuladores se deve à expectativa em face da divulgação da avaliação da Moody’s, cujos técnicos andam em visita ao Brasil. Analistas em geral consideram elevadas as chances de um rebaixamento do rating brasileiro, o que aconselha conservadorismo . Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) mostrou que econômica brasileira ficou praticamente estagnada em maio na comparação com o mês anterior, em resultado abaixo do esperado, o que sugere mais retraição da atividade econômica pela frente.

Diante deste quadro, ninguém quer comprar ações e quem tem ação quer vender. Achar que investidores que se louvam em análises ultrassofisticadas, produzidas por empresas de consultorias hiperequipadas para sondar os abismos insondáveis da economia, vão se determinar pelas declarações de um deputado rancoroso e oportunista, é achar que o “mercado” não passa de uma manada de bois, que estouram ao primeiro raio caído em céu ensolarado.

A proclamação independentista de Cunha também foi imputada a alta do dólar. Antes do encerramento dos negócios da Bolsa de Mercadorias & Futuros, já se noticiava que o dólar tinha encerrado o dia vendido a R$ 3,15, uma alta de 0,7%.

Mais uma vez, o internauta ficou mal informado. O dólar, na verdade, fechou a 3,20, alta de 1%. Durante o dia, chegou a 3.22, mas depois do meio dia oscilou bastante. Caiu a 3,29 para, no fim, fechar a 3,20. É espantoso como pôde a fala de Eduardo influir na cotação da moeda americana! Talvez, ela tenha levantado a cotação só um pouquinho. Por volta das 12h20, o susto passou e a cotação foi despencando.

Mais uma vez, é plausível que a divulgação da “prévia do PIB”, pelo Banco Central, indicando que a economia brasileira ficou estagnada em maio, tenha, de fato, influído ânimo dos especuladores.

A alta do dólar era empurrada também pelo avanço dos preços ao consumidor dos EUA em junho, pelo quinto mês consecutivo. Os dados reforçaram expectativas de que o Federal Reserve – Banco Central norte-americano – tende a elevar os juros neste ano, o que pode atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados por aqui.

(Helvécio Cardoso, editor de economia do Diário da Manhã)

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