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OPINIÃO

Lembrai-vos do Evangelho

“É inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual eles vêm! Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos. Acautelai-vos”. Lucas, 17:1-10

Volto ao tema do que se tornou lugar comum, falar sobre as acusações jogadas contra o padre Luiz Augusto com estardalhaço na mídia e pirotecnia de quem precisa de um escândalo para sobreviver. Faço isto por convicção de que o sacerdote não agiu de má-fé, não cometeu um erro que justifique uma campanha tão difamatória e muito menos seja um desonesto contumaz para ser barbarizado em sua honra de modo tão ostensivo. E saio em sua defesa também para não deixar que o padre Luiz Augusto fique sozinho na planície à sanha das aves de rapina, que selecionam suas presas para saciar de sangue seus comparsas, asseclas et caterva.

Insurgiu o vetusto Ministério Público contra o padre, acusando-o de improbidade administrativa e requerendo sua condenação nas penas de lei especial que versa sobre esse assunto, além de pedir o bloqueio de seus bens no impensável valor de R$ 12 milhões, junto com outros citados na ação. Desceu sobre o padre a diligente, certeira e pesada mão da Justiça, anuindo em tudo o que o douto representante ministerial acusou e requereu. Tudo a título dele ter enriquecido ilicitamente e dever uma multa astronômica ao Estado, que tem o dever de zelar pela igualdade entre os cidadãos.

A mídia, ávida por assuntos que signifiquem muito sangue espalhado e muita porcaria no ventilador, reproduziu, em escala exponencial o assunto, cuidando para não fugir ao tema e não falar de outros casos igualmente emblemáticos para não ferir interesses diversos e poderosos. Notícias boas são notícias ruins e um padre acusado de ser fantasma vende muito bem e não interessa se o caso é absolutamente verdadeiro ou não. Se ele terá direito à defesa ou não, isso é mero detalhe, o que importa é que existem fortes indícios, ou o que os doutores da lei pacificaram como “fumus boni juris”, simplesmente uma fumaça de bom direito, mera sinalização que assista alguma razão a quem acusa. Ao curso do processo, o padre que rebole para se defender, enquanto tente prosseguir com sua vida. Os defensores do Estado laico querem o dinheiro de volta, com juros e uma pesadíssima multa, porque esse dinheiro precisa custear outras destinações. Mais à frente, falarei delas.

Aos acusadores não interessa o trabalho filantrópico, assistencial e caridoso que o padre desenvolva. Como bem disse seu Torquemada-mor, ele que “faça caridade com seu dinheiro” ou da Igreja. Também não tem qualquer valor a atividade pastoral que o padre Luiz Augusto realize atualmente e o que ele promove com sua comunidade de assistência social: todo metal ou valor que for encontrado com ele precisa ser confiscado para garantir ao Estado que todo prejuízo causado pelo “criminoso” sacerdote seja ressarcido. Inclusive o que foi buscado em sua conta bancária, não importando se é com ele que o presbítero socorre desvalidos, compre cestas básicas, cubra do frio seres abandonados pelas ruas ou custeie os tratamentos contínuos que sua paróquia mantém com odontólogos, médicos, cuidadores e enfermeiros nas clínicas e casas onde se faz o bem, sem olhar a quem.

Mais uma vez o olhar providencialmente caolho de quem se intitula zelador da moralidade despeja seu poder sobre o padre Luiz Augusto. A insídia se abate sobre ele de modo exemplar, porque ele foi flagrado em desacordo com a lei e precisa ser punido. Nem que para isto seja necessária sua execração pública no patíbulo bem à vista das vivandeiras de plantão, com holofotes e as bocas-de-matilde a gritar por sua vez de ser a “Geni”, descrita com maestria pelo poeta, a quem todos devam jogar pedras e toletes de merda.

Meu irmão, Luiz Augusto, faço o mea-culpa porque muitas vezes nessa profissão de levar a notícia a público eu também exagerei e pedi punição antes mesmo de dar direito de defesa a quem acusei com o denuncismo que seduz e secreta uma maléfica desgraçada adrenalina. Por isto vejo o mal que uma campanha assim pode produzir.

Sei bem a falta de limite de quem o acusa da forma vil como está sendo feito. E se também que estão ocultando outros casos muito mais escabrosos por conivência, covardia e subserviência ao poder: religioso e temporal. Se derem notícia dos pastores evangélicos que são funcionários fantasmas nos vários setores da administração pública, pedirem o bloqueio de seus bens e promoverem a execração pública como estão fazendo contigo a sede do Jardim Goiás será apedrejada, como fizeram com aquela adolescente que foi a um terreiro de macumba.

Mas o estado-padrasto precisa da exposição de um caso nevrálgico como o seu para ocultar outros escândalos. E precisa principalmente do dinheiro para custear o auxílio-moradia de promotores e magistrados, porque esse auxílio não é imoral, nem ilegal. Precisa do vil metal para custear o auxílio-alimentação que recebem, além mesmo dos altos salários que todo mês lhes é depositado religiosamente. Precisam do dinheiro confiscado do que foi distribuído entre os pobres para justificar a gastança desmedida que os poderes que fazem as leis esbanjam e evitam até mesmo deixar cair migalhas para o povo que lhe sustenta. Precisa desse dinheiro também para sustentar a mídia que lhe encobre a desfaçatez e noticia apenas o que lhe é mandado ou permitido.

A força que move espíritos grandiosos como esses que levam luz, paz, conforto, alegria e outras formas de manifestação do bem que reside na Palavra de Deus, vem justamente da certeza de que combater o com combate e guardar a fé nos aproxima do Divino e faz de nós verdadeiramente instrumentos da paz libertadora, que constrói a cada dia um mundo melhor, mais justo e fraterno. Eu não me iludo, meu bom amigo padre Luiz Augusto, a luta ingente que precisamos travar não é encarada por fracos, mas somente por aqueles que se sabem fortes porque sua força provém em quem nos manda ir adiante e levar a Boa Nova. Não tema, a Justiça triunfa sempre e não faltará quem lhe corrija os rumos, fazendo cessar a maledicência que se abate sobre você.

Eu, assim como muitos irmãos, não nos quedaremos silentes em gritar contra a perseguição que lhe promovem. Faremos vigílias em sua defesa, deporemos em seu benefício, daremos testemunho do bem que você faz ao povo por onde exerce seu sacerdócio e lançaremos luz sobre as trevas da maldade em cuja teia tentam lhe prender. Não lhe deixaremos só e também não permitiremos que por um dia sequer que os carniceiros se aproximem de ti para lhe ferir. Mantenha a cabeça erguida e prossiga na senda da paz e do bem, porque somente com esses luminares é possível levar uma mensagem libertadora e que destrua essas amarras da maldade.

Como na palavra do Redentor, narrada pelo evangelista Lucas, quem se vale de escândalos para difundir alguma coisa está fadado a ser consumido nessa própria maldade. Aliás, o mal conspira contra si próprio e o bem se reproduz na própria luz.

(Hélmiton Prateado, jornalista)

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