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OPINIÃO

Desenvolvimento ou dominação política?

A mais sutil e perversa das formas de dominação de um povo é  a política. Nos tempos do regime militar, presenciamos, em nome do desenvolvimento, a face autoritária do Estado brasileiro construir, lá no nordeste brasileiro, a usina de Sobradinho. Construíram Sobradinho mesmo que realocando milhares de pessoas que viviam às margens do rio São Francisco e que dependiam dele para sobreviver. Tiveram essas pessoas, de uma ora para outra, de ser realocadas para cerca 700 de quilômetros de distância. Resultado: ocorreram consequências não só econômicas, mas também culturais, pois essas pessoas tinham enormes laços culturais umas com as outras.

O mesmo discurso em  torno do desenvolvimento ocorreu com a construção da Usina Hidroelétrica de Tucuruí. Cabem aqui as indagações. Energia para quê? Energia para quem? Eis a resposta: energia para a produção de alumínio para exportação e não para as populações do norte do país. Eis aí duas faces de uma mesma moeda: do desenvolvimento autoritário feito para o todo da população, mas que na verdade a excluiu.

Cá em Goiás, em tempos democráticos, o camaleão mudou de cor para manter através da dominação política tudo igual como era antes. Vejamos alguns exemplos. Em nome do desenvolvimento, os programas de eletrificação rural e irrigação implementados ante o assombroso clientelismo não só ajudaram a quebrar nossa maior estatal, como, também, enriqueceram de repente empreiteiras financiadoras de campanhas políticas. Em nome do desenvolvimento, vimos o dinheiro do povo ser irresponsavelmente gasto sem algum planejamento em ginásios de esportes construídos e grandes e pequenos municípios muitos deles hoje  jogados às moscas.  Em nome do desenvolvimento, presenciamos a construção de estradas ligando o nada à coisa nenhuma. Em nome do desenvolvimento, testemunhamos ainda uma forma mais sofisticada de dominação política: a da modernidade e seus fabulosos pacotes tecnológicos a corroerem o patrimônio público de nossas estatais.

Todo esse castelo de areia se tornou hoje um pesadelo, fruto da dominação política que se construiu através da hipocrisia dos discursos políticos em torno do desenvolvimento. Só a história, e seu soberano julgamento, para pôr as coisas no seu devido lugar. A maioria de nossos políticos não pensa que tem uma biografia a construir enquanto estão no poder. Poder e aduladores passam, só fica mesmo é a história. Amigos vão e vem conforme o balançar das ondas do poder. Aqueles que governam tem que ter consciência disso. Se   não tiverem marcam  as sociedades que lideram como um risco que se faz na água. Volatizam.

(Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, de A Construção de Goiás)

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