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Quando começou a corrupção no Brasil (primeira parte)

Recebi (a exemplo de milhares de internautas) pelas redes sociais um depoimento extremamente corajoso do bem-sucedido empresário brasileiro Osmar “Catito” Peres, dono de um hotel  em construção na Av. Atlântica, no Rio de Janeiro.

Ele foi dono do Mauá, o maior estaleiro do Brasil e presidente do Sindicato da Indústria da Construção Naval brasileira, e tinha como cliente o maior comprador de equipamentos navais, a Petrobras. E vinte anos atrás, segundo ele, a corrupção já campeava solta, como acontece hoje. Não se vendia um parafuso se não houvesse propina. Para não se ver enredado no cipoal medonho da corrupção, ele vendeu a empresa (que, ao ser comprada, tinha 50 funcionários, e ao ser vendida, tinha 5 mil trabalhadores com carteira assinada).

Saiu de cabeça erguida e, como nunca deu um centavo para ninguém, nem participou de atos ilícitos, resolveu fazer uma delação pública, sem ser coagido, atendendo aos reclamos de sua própria consciência e para colaborar com a sociedade.

Ele conheceu, e se reuniu diversas vezes com todos esses bandidos que estão presos, envolvidos com a roubalheira da Petrobras.

Osmar teve um navio petroleiro, de 200 mil toneladas, em sociedade com um dos maiores armadores do mundo. E diz que a Petrobrás é apenas uma das fontes ricas, pois não escapa nada, não se salva uma só instituição. O Estado brasileiro só serve para uma coisa: roubar, e no Brasil rouba-se até merenda escolar. Por isso, atribuir exclusivamente ao PT a roubalheira é “injusto”. Os ladrões, os agentes, as empresas, todos, são os mesmos, desde sempre. Bobagem pensar que na época de Fernando Henrique Cardoso era diferente. Roubava-se da mesma forma. Segundo ele, Fernando Henrique Cardoso era um homem honesto, mas os esquemas mafiosos que, estavam fora de seu controle, dominaram a máquina estatal brasileira.

A diferença desse momento petista na Petrobras, para os outros governos, encontra-se no volume de negócios da empresa, que hoje produz quase três milhões de barris de petróleo/dia, com investimentos de mais de 100 bilhões de dólares, enquanto no governo FHC, a estatal não alcançava um milhão de barris/dia, mais ou menos 10 bilhões de dólares anuais. Em outras palavras, o volume de negócios hoje é muito maior e, o nível da roubalheira cresceu na mesma proporção. Mas os ladrões e as máfias e os ladrões são os mesmos.

Neste caso, ele se refere, exclusivamente, aos bandidos e às quadrilhas que se apossam da direção da empresa, para, simplesmente, roubar o patrimônio público, o que fez da estatal , hoje, uma empresa desmoralizada por culpa dessas quadrilhas e dos políticos que as nomearam para roubar. E diz conhecer alguns ex-superintendentes e ex-diretores que saíram milionários da empresa. Uns pegaram seus milhões e foram embora do Brasil. Outros curtem suas fortunas roubadas, aqui mesmo, com iates, cavalos de raça, fazendas e outros valiosos bens. Deram sorte - diz o empresário - e nunca mais serão pegos.

Se fosse decretada a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de todos os ex-presidentes, ex-diretores, ex-superintendentes, ex-gerentes executivos e gerais nas duas últimas décadas, veríamos que muitos vivem acima do que seus salários permitiram comprar.

O que aconteceu com a Operação Lava-Jato foi um “grande azar”: a Polícia Federal pegou o ladrão Paulo Roberto Costa, em uma simples operação de câmbio com o doleiro Alberto Youssef.

Então, a PF pressionou-o para dizer quem mais da Petrobras participava dessas operações de câmbio negro. Paulo Roberto se negava a entregar os comparsas (Renato Duque, Barusco, empreiteiras, políticos e todos os demais membros da quadrilha). Foi quando, na prisão, foi-lhe dito: “Ou você entrega seus comparsas, ou temos, todos os elementos que provam o envolvimento de suas filhas e genros como beneficiários de todos os roubos que você praticou; ou você abre a boca e entrega todo mundo, ou suas filhas e genros terão ordem de prisão decretada e vão lhe fazer companhia aqui.”

Paulo Roberto, então, mesmo receoso de que a “máfia” pudesse calá-lo para sempre, abriu a boca, e o resto da história todos nós já sabemos e estamos acompanhando.

A Petrobras possui milhares de fornecedores. E, não pensem que a corrupção se dá somente nas grandes obras. Ela acontece em todas as áreas, em todo o tipo de fornecimento de produtos e serviços. Como se disse, até um parafuso gera propina.

São estarrecedores os fatos narrados pelo corajoso empresário Osmar “Catito” Peres.

Palavra de um empresário honesto, que não foi compelido a fazer delação, mesmo porque nada tem a ver com a corrupção das estatal: fê-lo por patriotismo e espontaneamente.

Mas por razões de espaço, volto em seguida com a conclusão, quando aquele empresário dirá como funciona a corrupção, quem são os corruptos, os corruptores e quem os comanda.

Aguarde!

(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, escritor, jurista, historiador e advogado, [email protected])

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