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OPINIÃO

Para não esquecer Haidée Jayme

No vindouro mês de junho teremos o 89º ano do nascimento de Haidée Jayme, filha do historiador e geologista Jarbas Jayme, autor do mais completo trabalho histórico sobre a Matutina Meiapontense, o primeiro jornal impresso em Goiás, fato ocorrido em Pirenópolis. Sua mãe, Maria Dinah Crispim Jayme, foi cantora lírica.

Haydée Jayme Ferreira nasceu no dia 26 de junho de 1926, em Anápolis, e ao darmos ênfase à sua data natalícia proclamamos a necessidade de que a comunidade anapolina, notadamente as autoridades e as lideranças culturais iniciam, desde já, os preparativos objetivando tributar à autora da mais completa biografia de sua cidade natal intitulada Anápolis, sua vida, seu povo.

Ela faleceu no dia 2 de janeiro de 1999, tendo sido sepultada no Cemitério São Miguel, na cidade de Anápolis, num clima de grande emoção. Desde alguns anos Haidée encontrava-se debilitada. Locomovia-se em cadeira de rodas e até o fim foi uma peça importante no mundo cultural anapolino com ressonância acentuada em Goiânia e em Piernópolis, berço da família Jayme.

Era viúva de Odir da Costa Ferreira e deixou três filhos: Leandro, Leonardo e Ciça da Costa Ferreira, além de vários netos. Ela era uma das opiniões mais respeitadas da cidade e, nos seus últimos anos, dedicou-se à análise política.

Desde a juventude foi uma eterna apaixonada por Anápolis e sempre se fazia presente em tudo que dizia respeito aos interesses da comunidade. Inteligente e dinâmica, suas virtudes pessoais e prendas artísticas contribuíram em muito para a elevação do nome da “Manchester goiana” na relação dos grandes pontos de cultura do Brasil. Haydée foi participe ativa do início do intercâmbio entre Anápolis e as entidades culturais da Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. A Inglaterra primeiro, pois que ela, Haydée, e outras jovens amantes da cultura, buscaram o apoio do cidadão britânico James Fanstone, pastor e médico, ao qual Anápolis e Goiás muito devem. Ele construiu (na década de 30) o Hospital Evangélico. Fundou escolas e criou o primeiro curso de enfermagem de Goiás. Então Haydée Jayme foi precursora, em Anápolis, na área de intercâmbio cultural entre a cidade e o exterior no que resultou em pontos positivos para o município que é orgulho de todos os goianos.

O livro de Haydée, por si só, poder-se-ia ser considerado um dos maiores legados que uma pessoa nascida em sua cidade, possa ter deixado para os pôsteres. Isso, além de outras contribuições de ordem cultural deixadas pela mesma. Ela recebeu várias homenagens ainda em vida. Inclusive da Associação Goiana de Imprensa (AGI) que, por escolha de proeminentes nomes de um conselho especial, houve por bem conceder à atuante associada o diploma do Mérito da Goianidade (1992), a maior láurea da entidade mater da comunicação em nosso Estado. Evento que se deu na gestão do então presidente, Antônio Lessa. Teve muitas pessoas que se orgulhava de desfrutam de sua amizade.

A propósito, transcrevemos nesse espaço a crônica do seu amigo Jarbas de Oliveira, associado à AGI, também como ela, um dos portentos da cultura anapolina, sob o título “Premonição (sobre Haidée)”, publicada no jornal O Anápolis.

“Premonição (sobre Aydée)”

Eu era assessor da Câmara Municipal e ela trabalhava num dos jornais da cidade.

Eu a admirava pela sua lisura profissional e pela sua combatividade.

Não nos conhecíamos, mas havia entre nós, acentuada afinidade.

Um dia, durante uma sessão da Câmara, afinal, nos conhecemos. Nascia, entre nós dois, uma amizade que perdurou até o dia em que ela partiu.

Pouco antes, próximo ao Natal passado, eu a visitei, como fazia desde que nos conhecemos. Comigo estavam: minha filha Janice e seu esposo.

E o meu genro Geraldo, violão em punho, a certa altura, começou a tocar e nós – eu, ele, a Janice e a própria visitada – começamos a cantar.

Relembramos velhas canções e cantores populares doutros tempos.

Minha velha e querida amiga, acamada, fazia alguns anos, esquecendo os seus achaques e as suas dores, parecia feliz, muito feliz.

Devo confidenciar, porém, que antes disso, Haydée – esse o primeiro nome da amiga a quem me estou referindo – havia nos dito, como se nos comunicasse a coisa mais natural do mundo:

- Saibam vocês que, neste Natal, eu não estarei mais aqui. Vou viajar para o outro lado da vida.

Desconversamos meio encafifados e tratamos de dar prosseguimento ao nosso “recital”.

Mas, sinceramente, as palavras da minha querida amiga, me intrigaram bastante. E nós, no caminho para a casa, comentamos o estranho procedimento de Haydée.

No final de dezembro estivemos no “Evangélico” visitando a Haydée que estava hospitalizada. E a primeiro de janeiro, voltamos ao hospital para saber como estava passando a querida amiga.

No dia 2, viajamos para atender um compromisso assumido e só retornamos a Anápolis, tarde da noite.

Na manhã seguinte, depois do café, minha esposa me comunicou:

- Não te contei, ontem, porque sabia, com certeza, que perturbaria o teu sono, mas a Haydée morreu e já foi enterrada.

Confesso que levei um choque e me recriminei por haver viajado no dia anterior.

Perdi uma grande amiga e Anápolis perdeu uma das figuras mais expressivas da sua poesia, da sua historiografia, do seu jornalismo.

E que fez a cidade para testemunhar à Haydée, a sua gratidão, o seu reconhecimento ao seu trabalho cultural?

Que eu saiba, nada.

Cumpre, agora, que a Câmara Municipal da cidade, pelo menos transforme a jornalista, poetisa, a pintora e a historiógrafa, em nome de rua, a fim de que, o seu nome ilustre, jamais seja olvidado.

É certo que a autora de O Cisne Voltou a Cantar, sua derradeira produção poética, lá do além, em que se encontra, não está dando a mínima para a indiferença dos anapolinos. Entretanto, nós, os seus parentes e amigos, temos o dever sacratíssimo de exigir das nossas autoridades que o trabalho da ilustra falecida seja reconhecido, porque, afinal, a quem honra, honra.

Ainda Sobre Haidée

Além de Anapolis, sua vida, seu povo (1991), escreveu também Fogo no Bambual”(1988), Nuanças de Mim (1987) e Canto do Cisne (1996).

Poetisa, historiadora, jornalista, pesquisadora, indutora cultural, literata, administradora, educadora, conferente, oradora, membro de União Brasileira de Escritores de Goiás, da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, da Associação Goiana de Imprensa (conselheira), do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, bem como de outras instituições culturais, sociais e de classe.

Foi partícipe da vida política Anapolina, ao lado de Henrique Santilho, tendo sido a única mulher da Comissão de Ética do PMDB local.

(Walter Menezes – ex-presidente, conselheiro permanente da AGI (Associação Goiana de Imprensa) e diretor do Jornal da Cultura Goiana)

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