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OPINIÃO

Paidosofia ou pedagogia dos valores

Em Educando crianças índigo, de Egidio Vecchio (São Paulo: Butterfly, 2006), livro-texto de referência para esta abordagem, seu autor apresenta métodos e técnicas de aplicação prática na arte de educar crianças especiais, inclusive os índigos prenunciados como os “filhos do futuro”.

De ressaltar-se que essa nova pedagogia de valores decorre de uma concepção trialista do mundo e das coisas, que veio a superar a antiga visão dualista, que se articulava entre dois polos opostos (positivo e negativo, bem e mal, certo e errado), até que se admitisse um ponto neutro que liga os dois extremos.

O princípio da tridimensionalidade, vale lembrar, já fazia parte do processo dialético de Hegel (1770-1831) que consiste, logicamente, de uma afirmação, ou tese, a que se opõe uma contra-afirmação, ou antítese, do que resulta uma conclusão, que é a síntese dos contrários.

No Brasil, Miguel Reale articulou, no mundo jurídico-social, a visão tridimensional do direito, centrado na correlação entre fato, valor e norma. Vale dizer, o fato deve ser submetido à norma que, por sua vez, depende de valoração. Na Argentina, segundo Egidio Vecchio, foi Miguel Herrera Figueroa quem introduziu essa visão trialista no campo dos valores, associando as áreas da antropologia, da psicologia e da pedagogia espiritualista.

O modelo antropológico-educacional de Miguel Herrera consiste da integração de três níveis: psicossomático, cognitivo e espiritual. A essa integração, diríamos intersubjetiva, se deu o nome de paidosofia (do grego paidos = criança, sophia = sabedoria), em que o nível psicossomático do fato é absorvido pelo nível espiritual-valorativo que preside o nível teórico-cognitivo das normas. Nesse sentido, educar é promover a interrelação intersubjetiva dos fatos por meio da inteligência emocional.

Aí entra, na paidosofia de Miguel Herrera, o princípio da sabedoria que se desenvolve na criança, seguindo uma linha pedagógica já traçada na antroposofia de Rodolf Steiner (1861-1925), cujo pensamento caracteriza-se pelo sincretismo filosófico-religioso, em que o ser humano é visto como parte integrante da evolução cósmica, com possibilidades de evoluir (com a intermediação do Cristo Jesus), para a espiritualidade total. A partir do conceito de Deus e criação, transfere-se para a criança um processo de desenvolvimento cujo início e fim são puramente espirituais.

Retomando o modelo da integração dos níveis, acima proposto, pondera Egidio Vecchio que, no nível espiritual-valorativo, “só uma hierarquia de valores construtivos levará o índigo a construir seu lado espiritual”, que vem de ser edificado sobre conhecimentos de quem ele é, e como é o mundo que o rodeia. É pela paidosofia que “o educador entra no aspecto ontológico, no modo de ser do índigo, e o ajuda a construir as próprias margens do rio da vida”, deduz o autor em foco. O que não pode é o educador querer “empurrar o rio”.

Nessa nova linha pedagógica, o valor primordial a ser cultivado na educação do índigo, é o valor da justiça, entendido como equilíbrio das relações humanas, dando a cada um o que naturalmente lhe corresponde. Nessa escala de valores construtivos, integram-se três planos consecutivos: da intenção (foco em valores superiores), da co-criação (de um mundo humano que cresce até Deus) e da ascensão (a um estado de consciência superior).

No nível psicossomático, cabe ao educador investir na consciência do índigo a fim de eliminar-lhe sentimentos negativos (como medo, culpa e sofrimento), inculcando-lhe sentimentos positivos (como inocência, coragem e alegria de viver). No nível teórico-cognitivo, das normas de vida, o educando será iniciado no conhecimento do dever-ser. Segundo o autor, a inteligência emocional do índigo vai guiá-lo na utilização de conhecimentos e de sua própria lógica para ser feliz consigo mesmo e na relação com os outros.

Objetivos e bases da paidosofia

Segundo Egidio Vecchio, são objetivos básicos da paidosofia: 1- Facilitar ao índigo a aquisição de conhecimentos em função da criação de suas próprias normas de conduta. 2- Facilitar ao índigo a construção de valores que o ajudem a viver em paz consigo mesmo e com o mundo. 3- Facilitar ao índigo adoção de atitudes que o integrem com os seus semelhantes e com Deus. 4- Facilitar ao índigo os caminhos de uma evolução holística, assim desenvolvendo seu DNA capacitado.

Com base na paidosofia, seguem-se algumas orientações práticas, à luz dessa nova pedagogia de valores, conforme extraímos, sucintamente, de uma exposição taxativa do professor Egidio Vecchio. 1- Criar sempre uma oportunidade para o aprendizado. 2- Educar o índigo a remover obstáculos emocionais e a desenvolver seu potencial intelectivo. 3- A criança índigo deve ser motivada e encorajada como criatura única. 4- Dividir os ensinamentos com objetivos definidos em temas sequenciais: assim o índigo aprende rápido. 5- Educar o índigo conforme seus próprios potenciais. 6- Usar recursos audiovisuais, associando, por exemplo, música, dança e dramatização, dando visualidade a assuntos abstratos. 7- Converter as aulas em ensino participativo, usando o método ver-pensar-agir, de forma a levar o aluno a construir seu próprio aprendizado. 8- Despertar imaginação e investir na criatividade. 9- Encorajar o índigo a tomar decisões: nem desestimulando nem superprotegendo. 10- Demonstrar confiança no potencial do índigo e aceitar seus defeitos sem criticá-lo. 11- Transmitir energia afetiva na comunicação: antes de falar com o índigo, consultar seu coração. 12- Recompensar a criança por seus esforços e rendimentos. Estímulos verbais positivos são os melhores prêmios. 13- Afinal, vivenciar com a criança as sete chaves da felicidade (princípios do reiki estabelecidos pelo imperador japonês Meiji e legados pelo professor Mikao Usui, segundo o autor em foco): calma, confiança, gratidão, lealdade, gentileza, tolerância e justiça. Assim estaríamos arrematando com chave de ouro, a educação paidosófica centrada em dois valores fundamentais: Verdade e Justiça.

Guias práticos e questionários

Quanto aos guias práticos e questionários de avaliações apresentados no livro, resumir por demais seria mutilar o método, de cujos temas mencionaremos aqui apenas alguns tópicos, em linhas gerais.

1- Sobre características e diferenças identificadoras entre índigos e talentosos. 2- Sobre condutas parentais positivas e negativas e parâmetros de avaliação dos pais (felizes ou não), que certamente influenciam seus filhos. 3- Sobre a possível presença de déficit de atenção ou hiperatividade nas crianças. 4- Sobre as diferenças de temperamentos, classificados na psicologia Waldorf (como melancólicos, coléricos, sanguíneos e fleugmáticos). 5- Enfim, sobre os estilos psicológicos dos genitores de índigos (autocráticos, democráticos, aristocráticos, situacionais, diplomáticos, omissos, robotizados, protetores, participativos).

E assim por diante, é oferecida uma visão de conjunto dos fatores e valores que envolvem a complexidade do universo familiar e social dos índigos. Como se não bastasse, o autor apresenta ainda testes de avaliações sobre as inteligências múltiplas, dos tipos linguístico, lógico, matemático, espacial, musical, corporal e cinestésico, bem como dos tipos de inteligência, interpessoal, emocional, espiritual e vivencial. Tudo isso no sentido de orientar pais e professores, cuidadores e responsáveis pela educação das crianças índigo, que precisam ser iniciadas numa visão holística, como novos personagens da história do futuro. Não esgotaremos os temas mencionados para não furtar aos leitores o prazer de suas próprias verificações.

Feitas essas considerações, resta ao interessado buscar as orientações práticas do professor Egidio Vecchio, em sua nova pedagogia anunciada para a educação das crianças da nova era. De ressaltar-se, porém, que toda técnica (inclusive técnica pedagógica) é a aplicação prática de uma teoria.

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa)

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