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Genésio Reis, a bondade personificada

Foi sepultado anteontem, às 12 horas, no Jardim das Palmeiras, Genésio de Souza Reis, das minhas mais antigas e queridas amizades. Faleceu aos 93 anos, às 21 horas da última terça-feira, aqui em Goiânia, após 35 dias em UTI. Foi grande homem público, respeitadíssimo profissional e chefe de família exemplar.

Conhecemo-nos nos primeiros anos da década de 1950. Ele advogado em Pontalina, eu em Morrinhos. Depois do primeiro encontro na comarca pontalinense, nunca deixamos de cultivar uma amizade plena de afinidades intelectuais e ideológicas. E a vida nos colocou juntos em muitos e importantes lances da história política de Goiás.

Genésio advogou em Pontalina desde a década de 1940, com trajetória brilhantemente exitosa, vindo a ser sucedido no escritório profissional pelo meu conterrâneo e contemporâneo de ginásio Dimas Marçal Vieira, excelente advogado, em cujo lugar está hoje, também vitorioso, seu filho Marcelo.

Democrata por índole e formação cultural, Genésio Reis chegou a abrigar em sua residência na pequena cidade sulina perseguidos políticos foragidos do Rio para Goiás ante as repressões da ditadura do Estado Novo. Registre-se que o interventor Pedro Ludovico tem também a seu credito histórico o haver dado este tipo de proteção a alguns desses perseguidos. Em 1958 Genésio Reis se elegeu deputado estadual. Embora democrata e progressista, sua legenda era a da UDN. Não reeleito em 1962, foi pelo governador Mauro Borges em 1963 nomeado presidente da Iquego – Indústrias Químicas do Estado de Goiás, primeira e única, autarquia constituída no Brasil com a finalidade de produção de medicamentos destinados a distribuição pela Secretaria da Saúde aos postos por esta mantidos.

Lembro-me perfeitamente da visita que o jornalista Joel Silveira, que o grande jornal Correio da Manhã mandara a Goiás a fim de fazer a cobertura da crise produzida pelo Golpe de 64 com a ação visando destituir Mauro Borges do governo, fez, a convite de Genésio Reis, à Iquego, a fim de conhecer-lhe a estrutura, o funcionamento e as finalidades. Após inteirar-se de tudo, aquele que foi considerado o maior repórter brasileiro disse a Genésio: “Com uma iniciativa dessa magnitude, Mauro Borges teria mesmo de atrair a ira do Golpe, tão antinacionalista.”

Como todos sabem, Mauro Borges acabou deposto pela ditadura militar, com a ajuda de civis tradicionalmente golpistas, a 26 de novembro de 1964.

Genésio Reis tinha imensa capacidade de fazer amigos. Entre estes, Aládio Teixeira, Jaime Câmara, Paulo Leite, Lisboa Machado, Nelson Siqueira, muitos outros – cuja omissão involuntária peço me seja perdoada –, constituindo um grupo que se reunia invariavelmente toda semana.

Deixando a Iquego, Genésio encerrou sua vida pública, após desempenho impecável tanto na eficiência quanto na probidade. Tornou-se auditor do Tribunal de Contas do Estado, onde seus conhecimentos jurídicos alicerçaram atuação plena de operosidade. Apesar de aposentado no final da década de 1980, visitava o órgão com muita frequência, o que oportunizou, para minha satisfação, muitos reencontros de nós dois. Ele gostava de literatura. Leu muito até os noventa anos. Era naturalmente uma das nossas muitas afinidades. Sou, portanto, pelo convívio que com ele me foi proporcionado, dos mais credenciados a dizer que além da sua inteligência, da sua lealdade e do seu idealismo, era ele a bondade personificada.

(Eurico Barbosa é escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às terças&sextas-feiras)

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