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OPINIÃO

Eduardo Galeano, o conscientizador

Eurico Barbosa Especial para Opiniãopública

Em Confissões de Generais, meu primeiro livro, adoto como epígrafe da introdução esta frase de Eduardo Galeano: “A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi e contra o que foi, anuncia o que será”.

A adoção dessa epígrafe traduz a admiração que tenho pelo grande escritor uruguaio, falecido no último dia 13. Autor da trilogia Memória do fogo, em que busca com a sua fulgurante inteligência e o seu imenso talento narrar a história das Américas, Eduardo Galeano a embasou em nada menos de 361 livros, entre os quais alguns de Machado de Assis, Os sertões de Euclides da Cunha, Os sermões de Padre Antônio Vieira e Casa grande & Senzala de Gilberto Freire. O método historiográfico do notável intelectual uruguaio não é, portanto, convencional. A história de nosso hemisfério embasa-se em episódios que essa vastíssima literatura relata com tal exatidão que há nela o registro inclusive de data e local dos acontecimentos. As lutas libertárias, a dívida externa dos países da América Latina, a vida da sociedade, a vida dos índios, tudo isso – assinalam os editores de As caras e as máscaras (segundo livro da trilogia de Eduardo Galeano) – “vai sendo apresentado numa sucessão de vinhetas que constituem uma crônica deliciosa das Américas”. O que evidencia não apenas sua erudição mas também o grau de responsabilidade com que Eduardo Galeano elaborou as suas obras.

Idealista, a produção literária dele é profundamente conscientizadora. Com As veias abertas da América Latina, escrito em 1970 e publicado no ano seguinte, revela em toda a sua extensão a espoliação que os tentáculos do imperialismo norte-americano até aquele ano empreendera contra os países latino-americanos.

Nesse romance Galeano assinala que na primavera de 1916 “o capital norte-americano abarcava menos da quinta parte do total das inversões privadas diretas, de origem estrangeira, na América Latina. Hoje (refere-se a 1970) abarca ¾ partes”. E o autor de As veias abertas da América-Latina acrescenta que “A rapina dos centros industriais em busca de mercados mundiais para a exportação de suas mercadorias; a febre pela captura de todas as fontes possíveis de matérias primas; o saque do ferro, do carvão, do petróleo; as ferrovias articulando o domínio das áreas submetidas; os empréstimos vorazes dos monopólios financeiros; as expedições militares e as guerras de conquista – era um imperialismo que regava com sal os lugares onde uma colônia ou semi-colônia tivesse ousado levantar uma fábrica própria”.

O magnífico livro de Eduardo Galeano saiu, como vimos, em 1971. Fazia já, pois, 7 anos que ocorrera no Brasil o Golpe de 64, para o qual os Estados Unidos concorreram com vários tipos de apoio, inclusive a iminência de uma intervenção, já preparada por forças militares marítimas – a famosa operação Brother Sam. Mas o imperialismo norte-americano, dois anos depois da publicação do livro de Eduardo Galeano seria decisivo para a derrubada de Salvador Allende no Chile, mais uma comprovação das verdades contidas em As veias abertas da América Latina.

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores,  advogado,  jornalista e escreve neste jornal às terças e sextas-feiras).

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