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OPINIÃO

Um novo Brasil está a caminho

Wandell Seixas Especial para  Opiniãopública

Pelos anos que vivi, entendo que as manifestações de domingo último contra o governo tendem a marcar um novo Brasil. Jamais brinque com a sociedade, jamais menospreze o povo.
Conheci o Muro de Berlim e a relação dos nomes que tentaram saltá-lo para buscar a democracia, um mundo livre das opressões de um regime ditatorial. E encontraram a morte nos tiros de fuzis pela guarda de plantão.
A poderosa União Soviética, imposta a ferro e fogo por lideranças comunistas sanguinárias, caiu como as folhas de verão em 1991. Gorbachev aceitou pacificamente o que a sociedade clamava há muito tempo.
O mundo capitalista, liderado pelos Estados Unidos, oferecia melhor padrão de vida a sua família. Então, houve desmoronamento dos países que compunham a União Soviética, sob a tutela da Rússia. A sociedade optou por um regime aberto.
O Brasil nos idos de 60 detinha um governo de linha populista. João Goulart deixou o barco correr, inflação galopante e um governo considerado fraco. Com ele, havia um acentuado permissivismo para as facções de esquerda radical.
O campo estava fértil para a entrada do Brasil num regime comunista, o que contrariava os oficiais das forças armadas, anticomunistas por natureza, e os meios conservadores. A agravante: alguns praças, sobretudo da Marinha, contrariavam o código disciplinar militar com manifestações públicas. Nem os comandantes, por mais benevolentes que fossem, toleravam a indisciplina.
Como eu disse, repito. Não deboche da sociedade. Nos idos de 64 o país começou a assistir manifestações contra o governo e a presença comunista. A Marcha com Deus, pela Família e Liberdade reuniu milhares de pessoas em São Paulo.
Num período de guerra fria, os Estados Unidos encontraram meios de fomentar os discordantes do governo Goulart. Para os americanos, sobretudo naquela época, era inaceitável uma guinada do Brasil adotar padrões comunistas e sua inserção na União Soviética.
A pequena ilha de Cuba já dava trabalho demais, imagine um país como o Brasil pelas suas dimensões continentais. Era inimaginável, portanto, a nação brasileira sob influência soviética pelos aspectos político, militar, tecnológico, econômico, social e ideológico.
A ameaça comunista resultou na implantação do regime militar com a consequente deposição do governo João Goulart e dos governadores de Estado. Ocuparam a Presidência da República os generais Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo.
Aos vários partidos, a “Revolução de 31 de Março”, como era denominado o regime militar, permitiu apenas dois: Arena (Aliança Renovadora Nacional), ligada ao governo central, e MDB (Movimento Democrático Brasileiro). As lideranças políticas nacionais, como João Goulart, Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Leonel Brizola, Miguel Arraes, foram cassadas através de atos institucionais, baixados pelo presidente da República e os ministros militares.
Foi um plano estratégico de longo prazo, conhecido por Milagre Econômico. Dentro desse projeto audacioso, foram construídas a ponte Rio – Niterói, a rodovia Transamazônica, as hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí, as usinas nucleares de Angra, a criação de pólos petroquímicos, o Pró-Álcool, a Ferrovia do Aço, a Embratel e o projeto de minério de ferro de Carajás e de celulose de Jari. O modelo desenvolvimentista de JK foi adotado. Durante o período Médici, a marca era do Brasil Grande. Até o tricampeonato os brasileiros obtiveram no México, em 1970.
Mas, o longo período dos militares, em que o eleitor não votava para presidente, foi gradualmente cansando, o que também ocorre hoje com o PT. A diferença básica, atualmente, ressaltada pelos historiadores, é a de que os presidentes militares morreram pobres. Não se tem registro digno de nota de corrupção.
Um dos slogans adotado então era de que não se permitia subversivos nem corruptos no poder. Subversivos eram os propunham a implantação de regimes de esquerda. E esses movimentos floresceram nos meios urbano com seqüestros de diplomatas, assaltos a bancos, entre outras iniciativas. Entre elas, a Guerrilha do Araguaia. Todos esses movimentos foram reprimidos nem dó nem piedade.
Para construir grandes obras, o Brasil buscou empréstimos internacionais. A dívida ascendeu a 282 bilhões de dólares e a falência brasileira foi declarada em 1982. Era o governo do general Figueiredo. A sociedade já estava agastada e queria mudanças. Como prometera e antecipara o general Geisel, “ela viria de forma gradual e segura”.
As manifestações populares exigiam as Diretas Já. Como sucede agora contra Dilma e o PT, a Praça da Sé em São Paulo reunia um milhão de pessoas exigindo mudanças, liberdade de imprensa, democracia plena. E observe-se bem. A corrupção não era o centro das preocupações. A Petrobras era intocável. Criada por Getúlio Vargas, a empresa estatal nasceu com o objetivo de descobrir petróleo e ocupar lugar estratégico na produção.
Atualmente, o cansaço popular segue em duas vertentes: a corrupção desenfreada, como é exemplo marcante o escândalo da Petrobras; e o cansaço das administrações petistas, pelo seu aspecto nitidamente ideológico e suas relações internacionais comprometedoras com Cuba e o chavismo venezuelano. Até o BNDES é apontado de favorecer esses regimes. É mais um nó por desamarrar.
O Brasil pós “Revolução”, elegeu de forma indireta Tancredo Neves para presidente e José Sarney para vice. Tancredo, democrata por excelência e um negociador nato, é eleito contra Paulo Maluf, que foi governador de São Paulo. Dias antes da posse, é acometido por uma diverticulite e morre em decorrência em Brasília.
Sarney assume e lança vários planos econômicos para deter a inflação galopante. Fracassa. Fernando Collor de Mello, ex-governador de Alagoas, sai candidato por um partido inexpressivo, o PTN. O mote de sua campanha eleitoral: caçar os marajás, os funcionários de salários abusivos, embora com respaldo legal. O impacto influiu na campanha que o elege. Lula é derrotado pela primeira vez.
Fernando Collor, claro. Nada pode fazer contra os marajás. Surgiram denúncias de corrupção em seu governo, aliada a hiperinflação, desfavorecendo a vida, sobretudo, do assalariado. Os estudantes ou os Caras Pintadas foram às ruas. Não suportando a pressão popular e a ameaça de cassação de mandato, Collor renunciou.
Se em pesquisa para consumo interno, o Ibope concluiu que a sociedade cansou do Partido dos Trabalhadores. Se aparecesse um candidato da oposição confiável, os resultados das urnas o elegeria. Ganhando a eleição por uma margem pequena de votos, Dilma Rousseff enfrenta crescente impopularidade. Os depoimentos são praticamente os mesmos nas ruas, onde está o povão.
“Dilma mentiu para nós. Pinta um país rosado na televisão. Ela disse uma coisa na campanha, e agora faz outra. Aumenta os impostos. E a luz. E a educação é muito ruim, e transporte e tudo mais. Eu gostaria de viver no país que ela descreve. Eu quero o impeachment. Peça-lhe para dizer a verdade para o povo”. Esta frase foi encontrada por um personagem na Avenida Paulista, em São Paulo, mas ela traduz o sentimento de todos, ênfase para os pobres, as pessoas das periferias de Norte a Sul do Brasil.
Na área econômica, o Produto Interno Bruto (BIP) encontra-se em queda livre. A inflação alcança a casa dos 7,7%, o dólar chega a R$3,2. O desemprego é crescente. Os investimentos caíram, porque num país em crise moral e econômica, os investidores optam por países mais estáveis.
Por isso, como na Copa do Mundo, o verde-amarelo e as caras pintadas voltaram a tomar conta do Brasil. Só que ao contrário do futebol, o sentimento é de mudança nos destinos do País. É, com certeza, mais nobre e a nação tem tudo para sair vitoriosa.

(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agrícola pela Histradut, Tel Aviv, Israel e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste.)

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