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OPINIÃO

O inferno astral de Eike Batista

Salatiel Soares Correia,Especial para Opinião Pública

O Brasil se acostumou a ver, principalmente na era Lula e nos primeiros anos do governo Dilma, um personagem que se confundiu com a euforia de que o país ia às mil maravilhas. Falo de Eike Batista, filho de um mito da engenharia nacional, Eliezer Batista, o homem que solidificou a Vale do Rio Doce.

Eike construiu rapidamente um caminho de sucesso sempre com aquela intenção de querer superar o pai.  Com talento inato de vendedor, de um farejador de oportunidades, Eike ganhou muito dinheiro. Chegou a acumular uma fortuna pessoal de 21 bilhões de dólares, fato que o levou a ser apontado, pela revista Forbes, como dono da sétima maior fortuna do mundo. Cortejado por todos, esportista e sempre acompanhado por belas mulheres, o império de Eike simplesmente virou vento.

A cada apreensão da justiça, seu patrimônio vai indo por água abaixo. Como, também, algo que, para ele, era uma obsessão: a classificação entre os bilionários da Forbes. Eike já não faz parte do seleto clube dos bilionários .Que o diga  as perdas do hotel Gloria, iates, jatos e carrões. Daí vem a pergunta: por que razão um patrimônio tão avassalador se transformou em pó da noite para o dia?

Quem se propôs a responder a essa pergunta conviveu diretamente com o chamado mundo das empresas X (OGX, MMX, EBX e por aí vai) por quase uma década. Conheceu suas engrenagens, o jogo de egos, de intrigas, o quanto de verdade e de mito existia em torno dos empreendimentos de Eike Batista no Brasil e no exterior. Trata-se da jornalista Malu Gaspar.

Malu Gaspar, no seu livro "Tudo ou Nada", revela a história de Eike Batista e a verdadeira história do grupo X. Estou acabando de ler os escritos de fôlego dessa competente jornalista.

É inegável que o filho de Eliezer Batista, para chegar onde chegou, tem lá suas qualidades, mas também tem inúmeros defeitos que contribuíram para sua decadência. Entre as qualidades, vale ressaltar sua capacidade de vender sonhos e seu faro em atrair talentos para junto de si, pagando muito bem e distribuindo dividendos. Muitos desses talentos ficaram ricos.

Sua capacidade de convencimento é tão grande que conseguiu vender para a poderosa mineradora inglesa Anglo uma mina no Brasil que hoje se mostrou não ser produtiva. Resultado: a Anglo perdeu quatro bilhões de dólares, Eike ficou cinco bilhões mais rico, e a presidente da Anglo foi demitida. Entre os defeitos, certamente, a extrema vaidade e o desprezo pelos dados técnicos que lhe mostravam uma realidade que ele simplesmente não queria enxergar.

Malu Gaspar revela, em seus escritos, o momento em que a aproximação com políticos se tornou vantajosa para os interesses do mundo X. A partir dessa percepção, surgiram os financiamentos das campanhas políticas e, lógico: o BNDES como parceiro em seus empreendimentos.

O inferno astral de Eike Batista começou no momento em que foi se constatando que a OGX (empresa de Petróleo) prometia, em suas projeções, o que não ocorria na prática. Era projeção de mais para petróleo de menos.

O primeiro sinal de que as coisas não andavam bem veio dos próprios funcionários das empresas X vendendo suas ações. Outro fato interessante a notar nos escritos de Malu Gaspar se relaciona às dificuldades institucionais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em regular esse processo de informação ao mercado. Internamente, o mundo caía dentro dos empreendimentos de Eike, sem que os investidores fossem informados na mesma velocidade.  Eike Batista caiu como a miragem daquela euforia da era Lula de que tudo no Brasil daria certo. Vendeu vento e hoje colhe tempestades.

(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, do livro A Construção de Goiás)

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