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OPINIÃO

Marconi no olho do furacão

Carlos Alberto Santa Cruz,Especial para Diário da Manhã

“Se és capaz de arriscar, numa única parada, tudo o quanto ganhaste em toda a tua vida, e perder. E, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida.”

Rudyard Kipling

No último dia 15, as ruas e as praças do Brasil tremeram de gente. E o governo da República também tremeu, de medo.

E o vento das ruas, demoniacamente salvador, ventou forte nas barbas do governo decaído, destelhando-lhe a casa, varreu as barbas de Lula, segredando-lhe aos ouvidos o que ouvira das praças: “Você não volta. Nunca mais”.

E os presidentes do Senado e da Câmara Federal, com a cara lumiando de óleo de peroba, correram a colocar as barbas de molho nas enchentes de São Paulo.

E o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sem nenhuma cerimônia, mostrou as algemas para Renan Calheiros, presidente do Senado, e também para Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Assim, o delegado avisava que daria ordem de prisão aos carcereiros.

E sem nenhuma educação, o ministro Cid Gomes, da Educação, esbofeteou o Congresso Nacional, e, depois de trocar tapas no plenário da Câmara Federal, saiu de cata-cavacos do ministério, corcoveando ladeira abaixo. Que horror!

E a Polícia Federal mostrou à Nação o assalto, e o desmantelamento, e o sucateamento, e a degradação e a robalheira do PT à Petrobras. Mais do que isto: o PT chegou a transformar a Justiça Eleitoral em lavanderia, pois parte do dinheiro sujo se destinou ao financiamento de candidatos da base governista, e esse dinheiro entrava sujo e saía aparentemente limpo dos TREs.

E a presidenta do Brasil virou lixo na boca do povo e nas redes sociais, com a voz rouca das ruas gritando “fora Dilma” e o eco da multidão, lucidamente ensandecida, responde “fora PT e fora Lula”.

E assim, emparedada, acuada e abandonada, a presidenta do Brasil correu para Goiás a pedir socorro, um ombro, uma palavra não hostil, um exílio momentâneo.

E o governador de Goiás, goiano de quatro costados, cavalheiro de berço e de formação, comportou-se como Napoleão Bonaparte, ao conceder asilo à rainha de Áustria: “A França nunca negou asilo político a ninguém, muito menos a uma mulher”.

E para se eleger quatro vezes governador e sagrar-se campeão invicto no julgamento popular, entre outras qualidades, o governador Marconi Perillo demonstrou que tem coragem de assumir riscos perigosos: foi no terreiro do PT, calou a boca do aparelho hostil, deu ombro à presidenta execrada, não abriu mão de ser tucano vintenário, e saiu aplaudido pela torcida contra.

E assim Marconi foi para o olho do furacão político nacional, passou a fazer parte do alto clero tucano, sendo capa dos principais jornais do País. E os cardeais do PSDB compreenderam-lhe o gesto de estadista, mercê da sua história partidária que vem de longe e de muito perto lá longe, no fim do século passado, tomou de assalto o governo de Goiás para os tucanos, empresa tão temerária quanto impossível, que o o presidente da República, o tucano Fernando Henrique Cardoso ajudara o seu adversário, o candidato do PMDB, no primeiro turno. Marconi vitorioso, FHC mandou o então ministro Sérgio Amaral para cá, o Serjão.

Se o governador Marconi Perillo tem a volúpia do poder, parece que ele tem também a volúpia da honra: muito antes de estourar o escândalo do mensalão, Marconi informara ao então presidente Lula sobre o assunto. Lula quebrou pau nos ouvidos, fingiu de bêbado e deixou correr frouxo. Isto valeu a Marconi todo o ódio de Lula e do PT.

E o aparelho do PT mostrou que não tem limites, pois enquanto o Brasil voltava-se para o julgamento do mensalão pelo STF, o partido de Lula assaltava os cofres da Petrobras. Está provado: perto do dilúvio do Petrolão o mensalão foi só respingo.

E muito perto, o tucano Marconi Perillo realizou o primeiro grande comício da campanha de Aécio Neves, e deu a ele vitória esmagadora em Goiás contra a candidata do PT. Só que Marconi se esqueceu de ir a Minas Gerais. E lá o povo mineiro, que conhece Aécio...

Por Goiás, o governador Marconi Perillo é capaz de qualquer sacrifício, com risco até do futuro político, que é o mais promissor. Recebeu republicanamente a presidente Dilma no momento em que o nome dela é pornografia na boca do povão. E de quebra, no terreiro do PT, cuja torcida organizada amarelou ante a coragem do governador.

O que restou do gesto de Marconi? O bom caráter, a grandeza, a superioridade, o republicanismo, e até a certeza de mais obras federais para Goiás, além de aumentar o ódio e a inveja do senador Ronaldo Caiado. Ódio e inveja do sapo à estrela.

A estrela perguntou ao sapo: “Por quê me odeias?”

“Porque brilhas”– respondeu-lhe o cururu.

(Carlos Alberto Santa Cruz,jornalista.)

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