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OPINIÃO

É preciso provar a existência de Deus?

Emílio Vieira ,Especial para Opinião Pública

Não vamos pensar que para acreditarmos na existência de Deus fosse preciso uma prova científica, como teria sugerido a imprensa ao noticiar tal demonstração em Brasília, numa recente palestra dos cientistas Amit Goswami e Michio Kaku. Para maior credibilidade, assim foram qualificados, o primeiro como professor emérito do Departamento de Física da Universidade de Oregon (EUA) e o segundo, como professor em Princeton e que foi considerado um dos melhores alunos da Universidade de Harvard.

Ambos, portanto, importantes continuadores das teorias da relatividade e da física quântica de Einstein. Sejam bem-vindos para ajudarem a convencer os céticos, geralmente na mesma área, dos fenômenos até então não explicados ou não encampados pela sociedade científica.

Mas de considerar-se que o surgimento da ciência com sua epistemologia própria, é fato muito recente na história da humanidade. Está, portanto, ainda num processo polêmico de teses e antíteses, afirmações e negações. Uma tese de hoje pode ser contraditada por outra tese de amanhã. Mas seria a ciência a dar a última palavra sobre a existência de Deus? Ou a própria ciência, de gênese materialista, estaria mudando sua área de concentração para o campo espiritualista?

Chamar a ciência, ainda incipiente, como instrumento de prova de questões transcendentais, seria como chamar uma criança para dar seu testemunho sobre questões existenciais ainda não vivenciadas. Antes da ciência, a filosofia já provava com irretorquível lógica, a existência do criador do universo, que não veio do acaso e não se criou por si mesmo.

Além dos filósofos, mesmo pagãos, como Aristóteles e Sócrates (este último principalmente) e além dos textos bíblicos e das evidências históricas, como a presença fenomênica de Cristo e dos profetas, tudo fala, no cosmo, da providencialidade divina e da sua inteligência criadora refletida nas próprias leis da natureza.

Todo o existente em conjunto fala por si só da ordem universal das coisas, desde a pedra à árvore, desde a planta ao animal, desde os irracionais ao ser humano, cuja diferença é ser dotado de elevação da consciência. Este, incrivelmente este, é quem ainda tem dúvida sobre sua própria origem e sua finalidade última. Quem não acredita em Deus pela voz da consciência, acreditará em Deus pela voz da ciência?

Quem lê A Gênese, de Kardec, vê que ele se antecipou à ciência como forma de comprovação sistemática da existência de Deus a partir da própria compreensão das leis da natureza que por sua vez refletem as leis divinas. Não é preciso fazer aqui uma exegese do seu texto para convencer o leitor. Allan Kardec disse, por outras palavras, o seguinte.

Deus é o todo de que somos parte, causa primeira de todas as coisas, inteligência criadora do universo, voz íntima de nossa consciência. Tudo no universo fala de Deus como a parte fala do todo. Se eu tenho certeza de que existo como efeito de uma causa, tenho a prova da existência de Deus como causa primeira de toda criação, que não vem do acaso.

A ciência, por sua vez, não pode negar a religião, tal como as religiões não podem negar a ciência. A doutrina kardecista, que é tridimensional, congrega religião, filosofia e ciência. Os postulados da ciência, seja no campo da observação ou da demonstração dos fatos inerentes ao seu campo de pesquisa, já estão implícitos na filosofia espírita, desde o século XIX, quando abriu caminho para a evidenciação científica da existência de Deus.

Por força do materialismo reinante, a humanidade é que ficou atrasada na compreensão das questões metafísicas, mesmo tendo alcançado o progresso tecnológico, que a conduziu ao mecanicismo atual, em que a maquina já sabe mais do que o próprio usuário, o computador já compete com o cérebro humano, a comunicação virtual já conflita as mentes condicionadas por controles eletrônicos. Tudo isso, por incrível que pareça, já comprova os avanços da ciência no sentido das forças motrizes do progresso que advém já com a descoberta da eletricidade no século XVIII, lembrando, por exemplo, a invenção da lâmpada por Thomas Edison.

Ora, se não fosse a energia elétrica, que é invisível, não se acenderia a lâmpada visível, não se faria a luz que desfaz a treva, e os olhos humanos não veriam a realidade natural que os envolve. Essa é uma prova elementar da força criadora de outras forças propulsoras cuja causa primeira é a invisível mão de Deus, que ganhou, numa vertente exotérica, o epíteto de “arquiteto do universo”.

Se, de um lado, os cientistas comprovam, os filósofos demonstram e os religiosos creem, mas as crianças já sabem, na revelação das mães que receberam no seu ventre o espírito encarnado. Lembre-se, a propósito, um dos mais belos poemas de Casimiro de Abreu, por sinal identificado como o poeta da infância:

“Eu me lembro! Eu me lembro! – era pequeno / e brincava na praia, o mar bramia. / E, erguendo o dorso altivo, sacudia / a branca espuma para o céu sereno. / E eu disse a minha mãe nesse momento: / – Que dura orquestra! que furor insano / que pode haver maior do que o oceano, / ou que seja mais forte do que o vento? / Minha mãe a sorrir olhou pros céus / e respondeu: – Um Ser, que nós não vemos, / é maior do que o mar, que nós tememos, / mais forte que o tufão! meu filho, é Deus!”.

O universo infinito só pode ter sido criado por um ser incriado e eterno, que nós chamamos de Deus e cuja existência não precisa ser comprovada em laboratório, pois sua imagem está insculpida dentro de nós.

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa)

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