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OPINIÃO

A crônica do “minino do pé perebento”– extrato V

João José Especial para  Opiniãopública

Só aqueles que conhecem bem as sementes que lançaram podem viver em paz. Eles não temem surpresas desagradaveis – porque confiam nos frutos que estão aguardando. Embora enfrentem circunstâncias difíceis – como todas as pessoas, sabem que os desdobramentos finais sempre serão favoráveis. Por isso, esperam o melhor e não temem o amanhã. Não vivem ansiosos e culpados – correndo do silêncio e da reflexão. Eles transmitem paz, são generosos e desapegados de riquezas. Eles acreditam no milagre da transformação, pois já viram pequenas sementes crescerem, se tornarem árvores e alimentarem a muitas pessoas. Por isso, não desprezam as pequenas coisas. Sabem que este milagre está acontecendo agora.
(Thiago Mendes, autor do sucesso As coisas que a vida esqueceu de me ensinar)

Lembro-me, claramente, de um álbum de figurinhas onde a lua era mostrada em seu âmago e essência, com todas suas características físicas. Ali eu navegava, inclusive projetando-me àquelas longínquas paisagens e até procurando “São Jorge e seu cavalo”. Depois vim a saber que tais figuras assombrosas eram crateras lunares, formadas sobretudo pelo choque de “bólidos celestes” (meteoros).
Sentado num rústico banquinho de pedra encostado no muro de “taipa” lá de casa, na Rua Dom Luis Santana, onde eu navegava nos “bailados dos ciprestes ao vento”, na chácara dos padres, bem em frente ao que posteriormente passou à “Instituto Champangt” dos Irmâos Salesianos; mas na verdade era a chácara dos Irmãos Maristas, onde a molecada vizinha, e é claro, eu também, nos locupletávamos no “Pomar dos Padres”, maiando e surrupiando mixiricas, laranjas, goiabas e outras frutas saborosas, além de tomar banhos clandestinos na piscina dos Irmâos Maristas, mesmo sob o risco de levar tiros de espingarda de sal do bondoso seu Alexandre, o zelador.
Hoje, tal propriedade abriga para nosso espanto, o portentoso Palácio do governo municipal, onde nas enxurradas da antiga Rua Dom Luis Santana, nadávamos e divagávamos sobre nosso futuro, fazendo barquinhos de papel que navegavam rumo ao fluxo do escoamento, levando nossos sonhos e projetando-nos ao infinito, naquela época de tamanho rebuliço político, renúncia do Jânio e posse do João Goulart. No Berababão, o “pau tava comendo feio”, muitos presos taxados de comunistas iam desaparecendo juntamente com muita gente boa de renome na cidade, principalmente do PSD e PCB. A UDN estava no poder e ajudou na derrubada do pseudo governo comunista do João Goulart .
Havia uma crença corrente sobre multiplicação de verrugas ao contar estrelas, acho que era por isso que eu as tinha generosamente por todo o corpo, inclusive no canto da boca, pois captava estas maravilhas celestes com os dedos apontados para o céu! Nós, molecada da Mercês juntávamos em grupo alvoraçado debaixo do único poste de energia eletrica da rua (luz fraquíssima) e ouvíamos assim, as preleções de iniciação sexual do “Pedrão Doce de Leite”, que posteriormente chegou a cabo e sargento da Aeronáutica em Santos-SP. Tinha eu cerca de 10 anos de idade e já preparava no meu íntimo para alcançar a breve e fatal iniciação sexual, já que a vontade era “tamanha de grande”. Devo esta precocidade sexual primeiro a influência do João Rabinha, meu pai e segundo pela influência de toda molecada da Mercês, tais como: Samuel, Alderico, o Feio da Bento Ferreira, Pedro do João Simão, capitaneados pelo Marquinhos, Rui da fazenda Modelo, Valter da dona Pilar e do seu Adolfo, Marquinhos e o Nê do Satiro, Pedrão, e outros moleques mais experientes!
Nestas alturas do campeonato, as estrelas cadentes e o luar cativante, sempre estavam presentes em minha imaginação fértil. Como chegaríamos à lua e às estrelas? Nesta época, associei a música “tomo um banho de lua” como fator primordial afim de transpor os umbrais que nos separavam daquele magnífico corpo celeste. Parecia que já sorvia a 5ª dimensão, pois eu já conversava amiudamente e diuturnamente com os anjos e avatares celestes, que me eram revelados principalmente pela minha vó Maria Benzedeira e tia Geralda (também benzedeira). A chegada do homem à lua e o “sputnik”, com a cadela “Laika” me encheu de regozijo tal, que até ficava sem dormir, só elucubrando – me a respeito e já antevendo a chegada do homem à Marte, Vênus e outros planetas mais distantes como revelados pelas histórias captadas nos gibis. Ouvíamos, com muito fervor e espanto, os filmes e novelas do “Jerônimo, Herói do Sertão” e seu companheiro “Moleque Saci”, em suas fabulosas e heróicas aventuras em favor do bem. Zé Trindade com suas chanchadas e Teixerinha com o “Churrasquinho de Mãe”, sapecavam à beça por aqueles idos. Além dos já citados Oscarito, Grande Otelo e Cil Farney.
Hoje, sei também porque minha avó, amante da pretinha (cerveja preta niger), chamava-me a atenção por suas ações de benziçôes que transcendiam ao nosso bairro (Mercês). Quantas “carnes quebradas”, “ventos virados”, “quebrantos”, “espinhelas caídas”, “olho gordo”, “mal-feitos” e outros que através de suas meditações e concentrações tornavam-se de pleno sucesso curativo. Mas existia ali um despreendimento muito grande de energia que se transformava em cansaços,cochilos e emanações lacrimejantes,como em “Taken” de Spielberg. Dona Maria teve seis partos com quatro mortes do mal do sétimo dia. Só sobraram duas crianças, minha mãe e minha tia. Se tais partos tivessem sido hoje acontecidos, teríamos mais tias, e quiçá, tios. Segue no extrato VI .

(João José, comendador do Araguaia, geólogo, ex-professor da UFMG, articulista e cronista do DM)

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