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EUA: resultado da disputa em Nevada será conhecido nesta sexta-feira

Por Elio Moura, especial para o Estadão

O Estado de Nevada, no Oeste dos Estados Unidos, normalmente é lembrado por brasileiros quando se dão conta de que é onde está Las Vegas, conhecida como a capital mundial do entretenimento para adultos. Mas desde o dia 3 de novembro, as atenções do mundo se voltaram pra lá, onde a contagem dos votos na eleição presidencial norte-americana é acompanhada com total expectativa.

Apesar de nem todos os números estarem fechados, as projeções têm dado ao candidato democrata Joe Biden um caminho aberto para a vitória sobre o atual presidente Donald Trump. Os principais jornais e agências nos Estados Unidos indicam que o ex-vice-presidente de Barack Obama já teria 264 dos 270 votos do colégio eleitoral necessários para vencer.

Os seis votos faltantes poderiam vir justamente de Nevada, onde a contagem já dura dois dias e só deve ser encerrada nesta sexta-feira, 6, de acordo com a Divisão Eleitoral do Estado. Isso se deve principalmente pelo número de eleitores que votaram pelo correio - um resultado da crise da pandemia de covid-19 no Estado que viu os números de contágio explodirem após a reabertura dos cassinos de Las Vegas.

Nevada, que faz divisa com Califórnia, Arizona, Oregon, Utah e Idaho, é o sétimo maior Estado em extensão territorial no país, mas é um dos dez com menor densidade demográfica. E praticamente 75% dos habitantes vivem no condado de Clark, onde está situada Las Vegas. São os dados demográficos de Nevada que dão base ao prognóstico de vitória a Biden, de acordo com David Damore, professor-chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade de Nevada - Las Vegas, UNLV.

Damore explica que, apesar de ser considerado um Estado-pêndulo, Nevada tem curvado para o lado democrata ao longo da última década, mas antes disso o Estado era um reduto mais republicano. De acordo com o professor, um fator importante para manter Nevada pendente entre os dois partidos é a baixa escolaridade no Estado. "A falta de eleitores com educação superior significa que há menos eleitores suburbanos que deixam o Partido Republicano, como acontece com mais frequência em outros Estados indecisos", explicou. "Isso dá ao presidente Trump a oportunidade de competir no Estado".

Maha Habbiba, que vive em Las Vegas há cinco anos, após deixar a Sacramento, capital da Califórnia, diz que não se sente confortável com qualquer que seja o resultado dessa eleição. "Não importa quem vença, eu sinto que teremos uma grande agitação civil. Esta eleição mostrou para todos nós americanos que temos um país seriamente dividido", ela avaliou. Ainda assim, a corretora de imóveis que toca a própria empresa com atuação em vários Estados americanos diz que sua preferência ainda é por Donald Trump. "Eu sinto que ele é o mais adequado para ocupar a Casa Branca, embora eu tenha vergonha de dizer que ele é meu presidente porque ninguém dividiu o país mais do ele", disse.

Por outro lado, o casal Randy e Eliana Rebiz não vê dificuldade em dizer que Donald Trump deve se manter no cargo. Pais de duas meninas, o casal é uma imagem tradicional de uma família norte-americana. "Nós votamos para o Trump porque ele provou que é capaz de trazer o crescimento para os Estados Unidos, apoiando as pequena e grandes empresas", justificaram. Os dois também indicam a atuação republicana na área de defesa como argumento para manter Trump no poder. "Os republicanos defendem a importância do suporte financeiro para as bases militares e a necessidade do controle de fronteiras. Essas razões nos fazem ser republicanos", destacou Randy.

Distribuição desigual

Mas a divisão que alguns enxergam não é vista da mesma forma pelo especialista em Ciência Política. Damore diz que é a distribuição desigual do eleitorado no país que causa a impressão de uma nação polarizada. "Os democratas venceram no voto popular em sete das últimas oito eleições, considerando já 2020", afirmou. "Mas foi por causa do viés dos Estados que, no Colégio Eleitoral, a presidência foi democrata em apenas quatro eleições: 1992, 1996, 2008 e 2012".

Damore acaba de lançar um livro em parceria com outros dois autores no qual expõem suas pesquisas nessa área, explicando as divisões existentes nos Estados-pêndulo. A obra, Blue Metros, Red States: The Shifting Urban-Rural Divide in Americas Swing States não tem edição para o português e analisa justamente a configuração demográfica nos Estados indecisos para entender como os eleitores transitam entre democratas e republicanos.

E justamente porque a transição depende de aspectos sociais e econômicos e não apenas ideológicos, a indecisão de Estados como Nevada serve para intensificar a batalha entre os partidos pelo comando do país.

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