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"Os Julgamentos de Gabriel Fernandez", agressão e assassinato de menino de oito anos vira série na Netflix

Quase 1 bilhão de crianças sofrem algum tipo de violência regularmente, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). O número impressiona e o mais preocupante é que normalmente a violência está presente e integrada nas sociedades e os inúmeros exemplos trágicos revelam falhas nas medidas protetivas.

Um dos inúmeros casos em que as vítimas gritam, mas não há ninguém para evitar o pior, virou série na Netflix. The Trials of Gabriel Fernandez ("Os Julgamentos de Gabriel Fernandez", em tradução livre), apresenta um relato completo e documentado do que aconteceu com esse menino de origem latina que morava em Palmdale, norte de Los Angeles, EUA.

A série documentada apresenta seis episódios com detalhes sobre os abusos sofridos pela criança por meio de entrevistas com professores e familiares. Além disso, destaca as falhas de um sistema que não pôde evitar a tragédia.

"É normal que as mães batam nos filhos?"

Caso chocou os moradores de Palmdale, no Condado de Los Angeles, em 2013 Getty Images

As suspeitas de agressão começaram com uma pergunta feita por Gabriel Fernandez para a professora Jennifer Garcia. "É normal que as mães batam nos filhos?"

A professora preocupada indagou o motivo do questionamento e o menino respondeu com outras duas perguntas: "É normal apanhar de cinto? É normal sangrar?"

Em maio de 2013, alguns meses depois da conversa, Gabriel Fernandez, conhecido como Gabrielito, morreu após ser agredido em casa por sua mãe, Pearl Fernandez, e seu namorado, Isauro Aguirre.

Mas eles não foram os únicos a serem julgados pelo crime. Em uma decisão sem precedentes, quatro assistentes sociais foram acusados de abuso infantil e falsificação de registros públicos.

"Menino doce que só queria amor"

Os parentes de Gabriel contam que sua mãe não queria tê-lo. E mesmo que ela tenha levado a gravidez adiante, abandonou o bebê no hospital assim que ele nasceu.

Os avós acolheram o menino, que cresceu em várias casas diferentes, sempre em meio a parentes. Os membros da família por meio de entrevistas e relatos feitos após sua morte, afirmam que Gabriel era um menino doce que buscava o amor de sua família.

Imagens de quando Gabriel morava com seus tios ou avós revelam uma criança aparentemente feliz e saudável. Contudo, em 2012, sua mãe, Pearl Fernandez decidiu levar o filho para morar com ela e o namorado afim de poder receber benefícios sociais.

No simples apartamento morava também os dois irmãos do pequeno: Ezequiel e Virgínia, ambos menores de idade.

8 meses agonizantes

Pôster do documentário da Netflix sobre Gabriel Foto: Netflix

Com a mudança para a casa da mãe, Gabriel mudou de escola e teve aulas com Jennifer Garcia, primeira pessoa pra quem denunciou as agressões sofridas. Após a conversa preocupante, Garcia ligou para uma linha direta para denunciar situações de abuso infantil e relatou o que a criança lhe havia dito.

O caso caiu nas mãos de Stefanie Rodriguez, uma assistente social que, segundo pessoas próximas, tinha pouca experiência para um trabalho tão delicado. Desde então, ocorreram visitas, telefonemas e críticas, mas o abuso que o menino sofria só estava piorando.

"Ele começou a ir para a aula sem alguns fios de cabelo, com feridas no couro cabeludo, lábios inchados, hematomas no rosto ou ferimentos causados por tiros de uma pistola de ar comprimido", disse seu professor no documentário da Netflix.

Policiais visitaram o apartamento várias vezes, um deles poucos dias antes da agressão que o vitimou, mas acreditavam no que a mãe lhes dizia e não verificavam o estado de saúde da criança. Desse modo, nenhuma das ações das autoridades pôde salvar a vida de Gabriel.

Em 22 de maio de 2013, a mãe e o padrasto de Gabriel ligaram para o departamento de emergência para pedir ajuda, porque a criança não estava respirando. Dois dias depois, Gabriel, que tinha oito anos, morreu.

Depoimentos horripilantes

Os paramédicos que atenderam à chamada de emergência dizem que foi possível identificar instantaneamente que o menino tinha diversas contusões na cabeça, costelas quebradas, partes da pele queimada e as mãos inchadas.

O médico legista que realizou a autópsia relata que Gabriel estava com estômago cheio de fezes de gato. Os próprios irmãos da criança, confirmaram que o garoto era forçado a comer excrementos de gatos se não limpasse bem a bandeja do animal.

Eles também revelaram que era habitual a mãe e o namorado trancá-lo em um móvel que tinham em seu quarto, onde ficava horas sem comer e sem poder ir ao banheiro, e que o padrasto o espancava bastante, chamando-o de homossexual.

O advogado de Isauro, incapaz de negar as provas da causa da morte de Gabriel, baseou sua defesa em argumentar que o espancamento não foi premeditado, mas o resultado de um acesso de raiva. Ele pediu aos jurados que condenassem seu acusado por homicídio em segundo grau.

Contudo, Isauro Aguirre foi condenado à morte e aguarda execução na prisão de San Quentin, na Califórnia.

Depois da condenação de seu namorado, Pearl decidiu se declarar culpada, esquivando-se da pena de morte. Ela foi condenada à prisão perpétua sem a possibilidade de liberdade condicional.

Sistema degradante

As assistentes sociais Stefanie Rodriguez e Patricia Clement e os supervisores Gregory Merritt e Kevin Bom foram acusados de abuso infantil e falsificação de registros públicos em 2017. Eles já haviam sido demitidos logo após a morte de Gabriel, em 2013.

Gregory Merritt aceitou participar do documentário afim de apresentar sua versão dos fatos. Nos episódios ele apontou as dificuldades do serviço social e sobre como os assistentes estão sobrecarregados, frequentemente lidando com 25 a 30 casos de crianças cada um.

De acordo com ele, os casos de proteção infantil se concentram na preservação da unidade familiar e a separação ou retirada forçada de menores de uma família é um processo traumático.

Em janeiro do ano passado um tribunal de apelações na Califórnia determinou os assistentes sociais não deveriam enfrentar acusações criminais no caso de Gabriel.

*Com informações da BBC News

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