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Streaming aposta em filmografia de Michelangelo Antonioni

Três filmes do mestre italiano entram na Mubi. Entenda por que cineasta é nome importante para a história do cinema

Michelangelo Antonioni dizia que era impossível fazer neorrealismo sem bicicleta - Foto: Divulgação Michelangelo Antonioni dizia que era impossível fazer neorrealismo sem bicicleta - Foto: Divulgação

Quem gosta de cinema irá comemorar a mostra que homenageia Michelangelo Antonioni. Ao todo, três filmes (“A Noite”, “Os Vencidos” e “Retalhos da Vida”) do mestre italiano entram em cartaz no mês de abril na Mubi, plataforma especializada em cinema artístico, mais cabeça e longe, muitas vezes, das limitações estéticas da indústria. Antonioni é caso único, até hoje, a ganhar a Palma de Ouro, o Leão de Ouro e o Leopardo de Ouro.

Seu cinema é considerado existencial e mostra os desprazeres dos tempos modernos, não a partir do excesso, mas sim pelo vazio. Se Roberto Rossellini deve ser reconhecido como o cara responsável por criar a moderna escola italiana fincada na crença de que o cinema precisa ser compreendido como a arte capaz de traduzir a realidade, Antonioni tinha, digamos, uma visão sui-generis sobre a estética consagrada em “Ladrões de Bicicleta”.

Para o diretor de “Blow-Up”, filme lançado em 1966 baseado em conto escrito por Julio Cortázar, é impossível de se fazer um “neorrealismo sem bicicleta”. As angústias de Antonioni, de fato, problematizavam outro aspecto da vida: o que é a realidade? Ele introduziu essa nova questão no cinema - basta assistir “Profissão: Repórter”, de 1975, em que o jornalista David Locke troca de identidade com um morto que lhe era semelhante.

Jack Nicholson interpreta o repórter televisivo, cujo trabalho deveria ser mostrar uma situação política que ocorria no continente africano. Mas o sujeito conhece um homem de negócios num local deserto e, ao vê-lo enfartado, começa a pensar que não seria má ideia trocar de identidade com ele, passando a assumir compromissos na Alemanha e na Espanha. David vira traficante de armas e, veja só, peça importante no xadrez político do conflito que cobria.

“Enquanto a maioria dos filmes celebram a forma com que nós nos conectamos com o outro, os filmes de Antonioni lamentam as falhas na comunicação”, disse Nicholson, após atuar em “Profissão: Repórter”, também disponível na Mubi. Para Antonioni, os atores não possuíam importância nenhuma, pois eram “peças do cenário, elementos da paisagem que o diretor deve movimentar”. Jack Nicholson achou isso curioso e quis trabalhar com o mestre.

Cinema moderno

Mas Antonioni não filmou “apenas” uma maravilha do cinema moderno. É preciso retornar ao drama “A Noite”, dirigido por ele em 1961, este um clássico da filmografia antonioniana. Estrelado por Monica Vitti e Marcello Mastroianni, a produção já chegou a ser definida como a mais “conservadora” dos filmes que integram a trilogia sobre o colapso das relações amorosas, como analisou o crítico Alcino Leite Neto, no jornal “Folha de S. Paulo”.

Tudo se desenrola de maneira sólida numa tarde, numa noite e numa madrugada na vida de um casal que está em crise. A câmera captura olhares, portas, ruas vazias, distâncias. O erotismo, assim como em outros filmes de Antonioni, se faz presente quando Lidia (Jeanne Moreau) revela os seios, à época uma “sex symbol”. Ela procura tirar o esposo da letargia.

Sem bicicleta e desprovido de sentimentalismo, Antonioni deve ser compreendido como o antípoda de Vittorio de Sica. Como se sabe, bikes são instrumentos associados à estética do diretor de “Ladrões de Bicicleta”. O cinema de Michelangelo Antonioni melhora a cada filme, até chegar à maturidade, depois da qual, de acordo com o crítico Inácio Araújo, mostra-se capaz de se renovar sem que por isso sua obra perca o interesse ou a relevância.

Na dúvida, assista “Os Vencidos”, produção de 1953: são três jovens, em circunstâncias diferentes, que cometem um assassinato. Um italiano, um francês e um inglês mostram perspectivas distintas que os levaram a cometer o delito. Ou seja, é a curiosidade intelectual que transporta o mestre italiano a percorrer, até hoje, uma trajetória improvável. “Sem certezas ideológicas, só animado pelas suas próprias dúvidas – e a dúvida é a grande atitude moderna e também contemporânea”, afirma o pesquisador Carlos Melo Ferreira, em ensaio.

Esse momento da filmografia do cineasta tornou-se conhecido por integrar a segunda fase do movimento neorrealista, marcada sobretudo por um realismo psicológico, em que os diretores se voltam para o interior de seus personagens, mas esquecer das críticas: é desse período, por exemplo, o longa “Retalhos da Vida”, uma espécie de “jornal cinematográfico”, como define a Cinemateca Portuguesa. Para Antonioni, fazer filmes sempre foi uma tentativa de estar vivo.

Anote aí

Três filmes de Michelangelo Antonioni

Onde: Mubi

R$ 29,90 para assinar streaming

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