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‘GTA 6’ satiriza liquidez de sociedade hiperconectada

Rockstar Games vira assunto número um nesta semana após lançar trailer do novo título da série ‘Grand Theft Auto 6’

‘GTA 6’: jogo é protagonizado por Lúcia e Jadson em ‘Vice City’, já conhecida dos fãs - Foto: Rockstar Games/ Divulgação ‘GTA 6’: jogo é protagonizado por Lúcia e Jadson em ‘Vice City’, já conhecida dos fãs - Foto: Rockstar Games/ Divulgação

Assunto dominante nesta semana, o trailer de “Grand Theft Auto 6” estilhaçou as vidraças do lugar-comum que, vez ou outra, insiste em blindar a indústria dos jogos. A cidade criada à perfeição se chama Vice City. Tom Perry canta “Love Is a Long Road”, som lançado em 1989. Trilha sonora ideal para Miami: carros luxuosos andando pelas ruas guiados por motoristas doidões, lanchas navegando mar adentro, clubes sórdidos guardando todo tipo de loucura química. E uma mulher, fibrilando artificialidade, se exibe no teto da caranga.

Bastou 1 minuto e 30 segundos para que as imagens nos deixassem de boca aberta. Você nunca viu Vice City tão nítida. Encontramos, instantes depois, a protagonista Lúcia, mulher latina. Ainda sabemos pouco dela, no entanto. Apenas sacamos que está saindo da prisão e, fora do xilindró, embarca numa sequência de assaltos com um parceiro chamado Jadson, sujeito crente para o que der e vier. Ambos são latinos, destemidos e contraventores, num mundo de fantasia líquida, luxo fácil e tiktokers controlados pelas redes sociais.

A escolha por Lúcia levou marmanjos a espernearem na web. Influencers reacionários, por exemplo, chegaram a profetizar o fim da consagrada trama, como se o estúdio Rockstar Games - de uma hora pra outra - fosse acabar com o mundo livre e nos impedisse de explorar a metrópole agora em 4K. Só esqueceram de que o jogo é conhecido, desde os anos 2000, pelo humor lascivo com o qual retrata o capitalismo norte-americano.

Um dos títulos da série que mais problematiza desvios éticos e morais dos homens da lei é “San Andreas”, lançado em 2005. O arco narrativo se inicia com Carl Johnson. Após anos morando em Liberty City (versão de Nova Iorque criada pela Rockstar Games), cai na chantagem de dois fardados, que lhe jogam num beco da gangue Ballas, arqui-inimiga da Grove Street Family, da qual CJ faz parte. Usando bike, sai do local e, ao pôr os pés em casa, no centro de Los Santos (inspirada em L.A), depara-se com o caos instaurado: família desestruturada, amigos de infância marchando rumo ao desastre e mãe morta, assassinada.


		‘GTA 6’ satiriza liquidez de sociedade hiperconectada
'GTA San Andreas': título se tornou clássico da série. Rockstar Games/ Divulgação

Não bastassem os problemas com os quais precisa lidar, dois policiais corruptos o perseguem durante toda a narrativa. A ideia de Frank Tenpenny, dublado por Samuel Jackson, consiste em colocar as gangues de Los Santos umas contra as outras. Segundo ele, isso ajudaria os membros das famílias Ballas e Grove Street a matar Sweet, irmão de Carl, com a anuência de Smoke e Ryder. O braço direito de Tenpenny é o inescrupuloso Eddie Pulaski, agente da Los Santos Police Department - o regozijo final é quando eles morrem.

Representatividade

Esse mundo virtual relegou as mulheres ao trabalho sexual, enquanto o personagem que controlamos em sua saga pessoal vive fantasia gangster num mundo masculino: dirige embriagado, trafica entorpecentes e comete assassinatos. E, se precisar, compra armas numa loja qualquer. Ao pensarmos por dois segundos, veremos que, na realidade, sequer o roteiro complexo de “GTA” possui originalidade na cultura pop. O que dizer do cinema feito por Martin Scorsese ou Francis Ford Coppola, Brian de Palma ou Quentin Tarantino?


		‘GTA 6’ satiriza liquidez de sociedade hiperconectada
‘Vice City’: Tommy Vercetti se ajoelha para ser algemado pela polícia, em 1986. Rockstar Games/ Divulgação

De Palma, aliás, inspirou a Rockstar em dois outros títulos: “Vice City”, lançado em 2002 para PC e PS2, e “Vice City Stories”, que saiu em 2008. A saga de Tommy Vercetti, personagem que protagoniza o primeiro jogo, se ampara na jornada trilhada por Tony Montana, desertor do regime de Fidel Castro interpretado por Al Pacino na película “Scarface”. Da mesma maneira que Vercetti, Montana também começa fazendo pequenos trabalhos para traficantes e, em dada altura, mata seu chefe para ficar com a mansão dele.

Fosse só por causa de tal referência, “Vice City” mereceria ocupar o posto de clássico. É pioneiro na aventura urbana de mundo aberto, com uma trilha sonora oitentista tocando em dez rádios, indo do jazz à salsa. Há desde a música eletrônica de Herbie Hancock, “Rockit”, de 83, até “Billie Jean”, consagrado um dos maiores sucessos do pop pela voz e pelo estilo de Michael Jackson, em 82. Duas décadas depois, a cena inicial continua uma das melhores: Vercetti morde a isca, perde dinheiro num negócio fracassado e vira inimigo da máfia.


		‘GTA 6’ satiriza liquidez de sociedade hiperconectada
‘Vice City Stories’: ex-militar constrói império no crime, em 1984. Rockstar Games/ Divulgação

Já se passaram 17 anos desde a última incursão da Rockstar pelo universo Vice City, ainda que modesto, pois eram acontecimentos que tinham ocorrido antes de “GTA Vice City”, em 1984. Em “Vice City Stories”, controlamos o ex-militar Victor Lance, expulso do quartel após armação do coronel Jerry Martinez. Se “GTA 3” - responsável por lançar as bases dos jogos em mundo aberto - se inspirava em Scorsese, “Vice City” era, digamos, um irmão mais ultrajante. Nasceu da união entre “Scarfase” e “Miami Vice”: luzes de néon e terno flanela, prostitutas e cocaína, coquetel de sangue e motosserra barulhenta. Totalmente “Scarface”.

Pode-se ver um pouco dessa Miami violenta no trailer divulgado pela Rockstar no Youtube. Sim, os carrões conversíveis cheirando a pó perambulam de um lado ao outro da cidade. Ricos ficam nas suas lanchas do narcotráfico e, depois, curtem o resto dos prazeres artificiais em boates caras. A atmosfera atrativamente retrô se mistura às redes sociais e figuras cafonas a partir das quais lembramos do governador da Flórida, DeSantis. Nada mais americano: barulhento, vulgar, exagerado. Satiricamente americano, aliás.

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