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O porra-louca do cinema nacional

Paulo César Pereio não tem carteira. Nem mochila, ou mala. Quando vai ao Rio de Janeiro, cidade em que mora a filha Lara, leva apenas um cartão de cré­dito e uma carteira de identidade. Pereiro não tem carro, não guarda dinheiro e nem leva bagagens quan­do se ausenta de casa. Falastrão, diz que não quer mais saber de rela­cionamentos. Não se considera um homem livre, e sim resistente. Tido como o maior porra-louca do cine­ma brasileiro, ele arrancou a másca­ra de seu personagem–um doidão que sempre tem de falar sobre dro­gas, sexo, dinheiro e liberdade–re­velou alguns de seus pensamentos.

Natural de Alegrete, no Rio Gran­de do Sul, Pereio nasceu em 14 de outubro de 1940. Em 77 anos de vida, prestes a completar 78, traba­lhou com grandes nomes do cine­ma nacional, como Glauber Rocha, Arnaldo Jabor e Hugo Carvana. Es­treou na telona em 1964, em Os Fu­zis, obra dirigida por Ruy Guerra. Atuou em mais de setenta filmes, tendo passado por diversos movi­mentos cinematográficos, como o Cinema Novo e Marginal, no final da década de 1960, além das por­nochanchadas, nos anos de 1970. Nunca teve paciência para fazer te­levisão, pois sempre chegava no set de filmagem atrasado.

Pereio casou-se três vezes. Primeiro, com a atriz Neila Tava­res, mãe de Lara. Depois, com a também atriz Cissa Guimarães, mãe de dois dos seus três filhos. E, por último, com Suzana Cé­sar de Andrade, progenitora de Gabriel, que conheceu apenas aos seis anos. Cissa, inclusive, já declarou publicamente que Pe­reio era um péssimo pai e mari­do. Em entrevista ao Programa do Jô, o ator relatou que subiu a uma “boca de fumo” no Rio de Janeiro para pegar drogas e foi surpreen­dido quando se deu conta de que o carro de Cissa estava descendo morro abaixo. “O freio de mão de Brasília nunca foi muito bom, né, Jô”, disse, sob aplauso.

Em entrevista à jornalista Nina Lemos, da Revista Trip, Pereio con­tou que sente saudade da época em que era possível viver sem do­cumento. “Hoje até pra trocar che­que você precisa de documento, porra”, diz o ator, pontuando o fi­nal das frases com o característico palavrão. Ele afirmou que chegou a viver uns dez anos sem Registro Geral (RG), carteira de motorista ou coisa do tipo. “Mas não lembro de como era porque estava sempre drogado”, confessou. Mesmo com conta em banco, Pereio não guar­da dinheiro. “Quando ganho uma bolada , gasto tudo, não sei guar­dar, quero me livrar daquilo, gasto com noite, com puta”.

Ele vive num quarto-e-sala no centro de São Paulo há dois anos. O apartamento tem vista para os pré­dios da cidade, e a chave de casa fica na Toca da Raposa, boteco ao lado do prédio em que mora. “O pessoal do bar já sabe pra quem pode entre­gar a chave”, disse. Entre os que têm este privilégio, estão o cineasta Ne­ville de Almeida, diretor do filme A Dama da Lotação (baseada na obra do dramaturgo Nelson Rodri­gues), de 1978, e autor do romance A Dama da Internet, publicado em 2012, alguns amigos mais jovens, seus filhos Lara, Thomas e João e, também, alguma moça da “night”, que geralmente conheceu em suas peregrinações boêmias.

Durante a entrevista, o porra­-louca do cinema nacional não fumou nem um cigarro, nem be­beu. Comeu apenas duas bananas– quem diria “Tomo remédio da pres­são que é diurético, por isso preciso repor o potássio”, contou. Mas com o baseado que não parou, ainda que era seu histórico com substân­cias ilícitas seja algo impressionan­te. Questionado pela jornalista, ele disse que de vez em quando queima um, mas não vai atrás de ‘corre’. “De vez em quando num baseadinho eu dou um tapinha. Mas não compro. Não vou atrás”, afirma.

Apresentador do Sem Frescu­ra, no Canal Brasil, Pereio sabe que vive dentro de um personagem que criou a si. De acordo com Nina, vá­rias vezes durante a entrevista ele se corrigiu. “Não vou falar isso de novo porque falo sempre a mesma coisa”, reconheceu. A imagem que criou é do cara que fala muito palavrão – o que é verdade, basta assistir alguma entrevista dele para se constatar, ou ver seus filmes – e vive pirando na boêmia, sexo e droga.

CANDIDATURA

Em 2012, o ator lançou sua can­didatura à câmara de vereadores de São Paulo pelo Partido Socialis­ta Brasileiro (PSB). A principal pro­posta dele era proibir o uso de carros na capital paulista, propondo como solução a utilização de um meio de transporte coletivo. ”É preciso de­senvolver um transporte de massa eficiente para o cidadão paulista”, defendeu. “O que eu quero propor é proibir o uso de automóveis que cir­culam na cidade”, esclarece.

De acordo com o ator, cerca de sete milhões de carros estão nas ruas de São Paulo e mil novos vão, todos os dias, às ruas. “As pessoas não param de comprar. É um so­nho meio imaturo, esse de ter o teu seu carrinho.”Na juventude, Pe­reio foi filiado ao Partido Comu­nista. Com a dissolução, entrou para o Partido Socialista Brasilei­ro (PSB). “Eu achei uma aventu­ra interessante, já tinha experiên­cia política. Minha mãe trabalhou na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul”, afirma.

Pereio disse, à época, que sua candidatura representaria o cidadão comum. “Tem muita gente na rua, muita gente que demora três ho­ras para chegar ao trabalho”, refletiu.

DOCUMENTÁRIO

“Ele é um gênio, é a pessoa mais culta e brilhante que já co­nheci na vida”. O diretor Allan Sieber, responsável por ideali­zar o documentário Pereio, eu te odeio, em entrevista ao jor­nal Folha de São Paulo em 2001, não dispensou elogios para falar daquele cara que, além de ter o maior gogó do Brasil, já foi glori­ficado como o maior ator deste País. Com o início das filmagens no começo da década passada, o lançamento do filme só foi ocor­rer em 2011, dez anos depois.

"A idéia do documentário par­tiu da Denise e depois falamos com o Pereio, que veio com essa idéia maluca das pessoas falando mal dele...", lembrou Sieber à Fo­lha. "Na verdade as pessoas que realmente o odeiam não querem falar no filme, e é compreensível. Mas já temos belos momentos e depoimentos —ele e sua famí­lia são muito engraçados. Dava para fazer um "The Osbournes" com eles. Algo como "Os Cam­pos Velho"". Entre os entrevista­dos, estão nomes como Neville d"Almeida, José Celso Martinez Corrêa, Gustavo Dahl, Cissa Gui­marães, entre outros.

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