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Entranhas de Goiânia

Oitenta e cinco anos se passa­ram desde que Pedro Ludo­vico Teixeira lançou a pedra fundamental que daria origem à ci­dade de Goiânia. Hoje presencia­mos uma das maiores cidades do país, alastrando seu desenho para cima e para os lados, reunindo cer­ca de 1,5 milhão de pessoas. Todas essas pessoas sentem na pele o que é viver na “metrópole do cerrado” diariamente, convivendo com cir­cunstâncias comuns e com os ru­mos que ela traça. Existe algo de particular entre todas essas pes­soas? Várias pesquisas acadêmi­cas se voltam para a busca da defi­nição dos elementos que formam uma persona comum ao povo de Goiânia, algo que vá além de mar­cas como o apreço pelo sabor do pe­qui ou pelo modo de falar associado ao passado rural.

BUSCA PELO PASSADO

A pesquisadora Márcia de Araújo, através do artigo cientí­fico A paisagem do núcleo pio­neiro de Goiânia: uma interface entre o patrimônio e a metrópo­le contemporânea, observa uma crescente desconexão entre os in­divíduos que compõem as metró­poles. Para ela, tal incongruên­cia faz as pessoas se colocarem numa busca permanente por ori­gens e raízes no passado. “O modo de vida contemporâneo marcado pela velocidade e perda de víncu­los sociais e afetivos faz com que o habitante da cidade encontre no passado, enquanto referencial de valores e de permanência, a se­gurança, um porto seguro rumo ao futuro, no caso, esse passado é representado pelo patrimônio em suas múltiplas possibilidades”.

Ela observa que nessa busca por pertencimento ao passado – pelo elo perdido – se dá, na atmosfera in­sípida criada pelo fluxo contínuo da grande cidade, devido à perda dos vínculos humanos. Esse estado de espírito de desidentidade leva as pessoas a busca por indícios de vín­culos com outras épocas. Tais épo­cas são materializadas através das estruturas da cidade. Casas, ruas, praças, detalhes, coisas que a tor­nam única em meio à imensidão do universo. “A cidade/espaço ur­bano contemporâneo se constrói pela articulação entre a permanên­cia de formas antigas que sobrevi­vem à imposição do ‘novo’, e as in­tervenções urbanas que modificam usos, funções dos lugares, alteram a morfologia e explodem as relações sociais tradicionais”.

Na visão da pesquisadora La­rissy Barbosa Borges, as feiras de Goiânia podem ser vistas como demonstrações vivas de preser­vação de conhecimento, costu­mes, sabores e aromas. “Goiânia passou por várias alterações na sua estrutura urbana, espaços fo­ram modificados, novos espaços surgiram, deixaram de existir ou foram reinventados. Em meio às rápidas transformações, as feiras surgiram e continuam a fazer par­te do cenário urbano goianiense e permanecem sendo uma práti­ca social que permite, num mes­mo espaço, a inserção de grupos socialmente distintos e a garantia da permanência de ofícios arte­sanais e saberes tradicionais”, es­creve a autora na dissertação As feiras em Goiânia: história, refe­rência cultural e hibridação entre o moderno e o tradicional.

RÚSTICA E PROGRESSISTA

A dissertação de mestrado Goiânia: mito ou modernidade?, defendida em 2007 pelo publici­tário Marcelo Henrique da Costa, busca analisar a essência de defi­nições do povo goiano expressas em comerciais. Para isso, o autor faz uma análise sobre a visão his­tórica que viajantes de outras par­tes do País tinham do Estado an­tes da construção da nova capital. Tal olhar destilava sobre Goiás a estigma de “terra do atraso”, de­vido a fatores como isolamento geográfico, escassez de ouro e bai­xa produção agrícola – preocupa­ções que definiam o imaginário do goiano até meados do sécu­lo XX. Marcelo Henrique da cos­ta observa a criação da nova Ca­pital como um antídoto a esses sentimentos negativos.

“Esse estigma de terra do atraso, da decadência, nomeou o goiano por muito tempo, até que outra construção e outro es­tigma os substituíssem: a ideia de modernização e progresso, de­fendida pelo movimento pós-re­volução de 1930, liderado por Pe­dro Ludovico Teixeira”, afirma o pesquisador. É o contraste entre o novo e o velho, segundo Mar­celo, que define a paleta de cores presente na chamada “Identida­de goiana”: “A goianidade abran­ge uma época em que se procura mesclar o sertão e a cidade, o ve­lho e o novo, fundir o antigo e o moderno, envolver o rural e o ur­bano e integrar o atraso e o pro­gresso pelos caminhos da histó­ria, consolidando uma nova fase na identidade cultural goiana”

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